Entenda o caso Antony de acordo com o que diz o inquérito e cada acusação

Jogador é investigado por supostas agressões a ex-namorada, que cita quatro episódios no Brasil e exterior, entre 2022 e 2023

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Em junho de 2023, a TV Globo revelou que estava em curso uma investigação sobre violência doméstica contra o jogador de futebol Antony, 23, do Manchester United, relevado pelo São Paulo.

A vítima seria a DJ e influenciadora digital Gabriela Cavallin, 22, então namorada do atleta, que registrou um boletim de ocorrência no Brasil e pediu à Justiça medidas de proteção.

As autoridades da Inglaterra também foram informadas sobre as supostas agressões. Isso porque parte delas teria ocorrido naquele país, e parte, no Brasil.

Após a convocação do jogador pela seleção, neste mês, Gabriela concedeu entrevista ao UOL. Compartilhou imagens, áudios e mensagens que, segundo ela, comprovam as agressões.

Após a publicação da reportagem, Antony foi desconvocado pelo técnico Fernando Diniz e afastado pelo Manchester United por tempo indeterminado. Também surgiu a informação de que mais duas mulheres acusavam o atleta de agressão.

A influenciadora e DJ Gabi Cavallin acusou Antony, atacante do Manchester United, de violência doméstica - Instagram

Como está a investigação?

De acordo com documentos obtidos pela Folha e policiais que participam da investigação ouvidos pela reportagem, a Polícia Civil de SP trabalha com a possibilidade de existir apenas uma vítima, Gabriela Cavallin, mas, ainda assim, vê a necessidade de checar a história contada por ela.

Nenhuma das 11 testemunhas indicadas pela suposta vítima e ouvidas pela polícia brasileira confirmou ter presenciado violência física, cárcere privado ou ameaça de morte. O advogado de Gabriela afirma que novos nomes serão levados ao inquérito para ser ouvidos.

Os principais indícios estariam nas trocas de mensagens e fotos entregues à polícia por Gabriela, mas ainda é necessária a contextualização das conversas e a confirmação das datas das fotos.

Por exemplo: há divergência sobre o teor de uma mensagem entregue pela vítima à polícia de acordo com o perito Wanderson Castilho, contratado pela defesa do jogador para analisar as conversas. Na conversa, uma fala de Antony em que ele nega as acusações de Gabriela foi subtraída, segundo o profissional.

A imagem abaixo mostra a troca de mensagens exibida pela defesa de Gabriela.

Troca de mensagens entre Antony e Gabriela apresentada pela defesa da DJ
Troca de mensagens entre Antony e Gabriela apresentada pela defesa da DJ - Reprodução

A imagem a seguir foi compartilhada pelo perito Wanderson Castilho, indicando a subtração da frase "sim tudo mentira", escrita por Antony.

Troca de mensagens entre Antony e Gabriela apresentada pelo perito contratado pela defesa dele
Troca de mensagens entre Antony e Gabriela apresentada pelo perito contratado pela defesa dele - Reprodução

Supostos casos de agressão envolvendo Antony:

Gabriela Cavallin, 22, DJ e influenciadora

Há inquérito? Sim. (veja detalhes abaixo)

A vítima acusa Antony de uma série de agressões no Brasil e no exterior.

(veja detalhes abaixo)

O que diz o jogador: as acusações são falsas.


Ingrid Lana, 33, bancária

Há inquérito? Não.

A vítima disse ter sido agredida quando negou manter relações sexuais com o jogador, na Inglaterra. Não registrou nenhum tipo de ocorrência, mas deu entrevistas sobre o assunto.

O que diz o jogador: a acusação é falsa, e ele vai processá-la.

Áudio de Ingrid divulgado por pessoas ligadas a Antony fragilizam a versão contada por ela. Na gravação, ela defende o jogador e diz tê-lo alertado sobre as más intenções de Gabriela.

O próprio jogador compartilhou nas redes sociais reproduções de conversas com a mulher por aplicativo de mensagem nas quais a suposta vítima afirma ter mantido relações sexuais com o jogador. Ingrid afirma que as mensagens foram manipuladas. Segundo o advogado dela, no entanto, a bancária não pretende processar Antony neste momento e quer apenas desvincular seu nome do jogador.

O mesmo perito que analisou a troca de mensagens de Antony com Gabriela afasta essa possibilidade de manipulação no conteúdo das conversas dele com Ingrid.


Rayssa de Freitas, 25, estudante

Há inquérito? Não.

A suposta vítima não se manifestou publicamente. As suspeitas têm como base um boletim de ocorrência registrado em maio de 2022 na Polícia Civil de São Paulo. O registro não foi feito por Rayssa, mas por um policial que socorreu a mulher. Antony não é qualificado no documento e tem apenas o primeiro nome citado como partícipe da suposta agressão.

Outro registro sobre o mesmo caso, registrado por Mallu Ohanna Neves Rodrigues (ex-mulher do também jogador Dudu, do Palmeiras), tem versão diferente. Mallu diz que estava no banco de trás de um veículo (dirigido por Antony) e que Rayssa, embriagada, passou a ofender e agredir a todos.

O que diz o jogador: a briga envolveu duas mulheres, e ele era apenas o condutor do veículo.


As agressões narradas por Gabriela e o que diz o Inquérito Policial

PRIMEIRA SUPOSTA AGRESSÃO

1º de junho de 2022

A vítima diz ter sido agredida em uma casa noturna, a Vitrine Lounge, na zona sul de São Paulo. Antony, por ciúme, teria puxado seu cabelo dela e lhe dado chacoalhões pelo braço. Não houve registro de lesões.

Gabriela apontou como testemunhas da agressão o segurança Jefferson da Silva e o cabeleireiro Rafael Mota Silva, que teria sido o motorista do carro em que ela teria sido obrigada a adentrar pelo namorado.

Ouvidas pela polícia, ambas as testemunhas negaram ter visto agressão física.

Jefferson voltou à polícia para dar um segundo depoimento, segundo ele após ter recebido mensagem e telefonema de Gabriela acusando-o de ter mentido.

No segundo depoimento, ele disse reafirmar tudo o que havia dito anteriormente e repetiu a resposta dada a Gabriela: "Não estou com você nem com o Antony, estou apenas com a verdade".

O que diz Antony:

"[...] afirma que, durante todo o período em que esteve na Vitrine Lounge, não houve qualquer problema com ela, pouco se falaram. No carro, Gabriela passou a se alterar e brigar com o declarante, afirmando que ele não poderia ter ido para a balada sem ela sem comunicá-la que ela estava grávida dele e merecia respeito; ‘iria acabar com a vida dele' [sic]".

ABORTO

A vítima teve aborto espontâneo com 17 semanas de gravidez de suposto filho de Antony.

A constatação de que o feto estava morto se deu em 21 de julho de 2022. Gabriela diz que o episódio ocorrido na boate e o estresse vivido na época contribuíram para o aborto.

Trechos de mensagens anexados ao inquérito Antony e Grabiela dizem que:

Duas semanas antes de perder o filho, a influenciadora entrou na Justiça pedindo ajuda de custo mensal de R$ 60.600 durante a gravidez e, após o nascimento, uma pensão alimentícia nesse mesmo valor.

Na ocasião, a influenciadora afirmava estar separada do jogador e que os valores dos alimentos eram com base em ajuda financeira recebida na época.

Trecho do inquérito
Trecho do inquérito - Reprodução

O que diz Antony:

"tem absoluta certeza de que a perda do bebê deu-se por questões de saúde da gestante e/ou do feto, não tendo qualquer correlação com a discussão havida entre ele e Gabriela no dia 01/06/2023, até mesmo em decorrência do extenso lapso temporal havido entre os fatos".

SEGUNDA SUPOSTA AGRESSÃO

A vítima diz que em 15 de janeiro de 2023 foi agredida novamente, em Manchester.

Segundo ela, teve hematomas, corte na cabeça e deslocamento das próteses dos seios.

Dois médicos do Manchester foram atendê-la, a pedido do jogador.

Trecho de conversa dela com Antony, anexado ao inquérito policial, aponta que a médica teria citado a necessidade de cirurgia na mama por conta do deslocamento da prótese.

Devido ao deslocamento, segundo a vítima, foi necessária intervenção cirúrgica.

O que diz Antony:

Encontrou-se com Gabriela no quarto de hotel, e discutiram. Gabriela teria chegado "ao ponto de segurá-lo pelo rosto e agredi-lo fisicamente, com arranhões e chute na perna".

"O declarante esclarece que restou lesionado em decorrência dessa atitude agressiva de Gabriela, porém, não necessitou de atendimento médico". "Que, por diversas vezes anteriores, Gabriela se queixava de dor nos peitos, afirmando que, no passado, havia sofrido uma queda no banheiro."

ROTAÇÃO DA PRÓTESE

Gabriela Cavallin disse à polícia de São Paulo que, em um dos episódios de agressão de Antony, sofreu uma pancada no peito que provocou o deslocamento da prótese de silicone. Por isso, teria sido obrigada a realizar uma cirurgia corretora na mama com médico no interior do estado.

De acordo com laudo da polícia obtido pela Folha, que faz parte do inquérito, não há registro, de rotacionamento recente da prótese no prontuário médico de Gabriela. A única informação sobre tal problema é de maio de 2020, época em que ainda não havia conhecido o atacante pessoalmente.

Na época, houve diagnóstico da necessidade de cirurgia corretora, mas, conforme o documento e a defesa da influenciadora, a moça preferiu não realizá-la.

Trecho do inquérito
Trecho do inquérito - Reprodução

O problema recente que levou a Gabriela ao médico em março de 2023, ainda segundo o prontuário médico, seria a "queixa de mama caída" e o "desejo de melhor definição abdominal". O motivo da mama caída, segundo o médico, seria "prótese pesada".

Em razão disso, a perícia concluiu no documento, pelo exame indireto, que, devido a um lapso temporal entre o registro de uma rotação da prótese em maio de 2020 e de mamas caídas em março de 2023, "não é possível aferir a causa do deslocamento da prótese".

Trecho do inquérito
Trecho do inquérito - Reprodução

Por isso, o laudo da polícia indica não ser possível atestar que houve ofensa à integridade física da moça.

O advogado Daniel Bialski, que representa Gabriela, afirmou por nota que, após a lesão de 2020, não foi necessário procedimento cirúrgico e o problema foi corrigido no consultório de outro médico.

Esse prontuário, porém, não consta no inquérito da polícia.

TERCEIRA SUPOSTA AGRESSÃO

Segundo a vítima, ela foi novamente agredida em fevereiro de 2023, com chutes, socos, empurrões e puxões de cabelo, ficando com hematomas.

Os ataques teriam sido presenciados pela amiga Jhessey Fabarotti, que teria ido a Londres fazer um curso de inglês na cidade. Gabriela também apontou Clayton e João, amigos de Antony, como testemunhas.

Jhessey disse à polícia que a vítima confidenciava as intimidades sobre o relacionamento dela com Antony e que a amiga descrevia o relacionamento como "conturbado", porque ele "externava bastante ciúme", "sobretudo de relacionamentos passados".

Negou ter visto Antony agredi-la fisicamente. Apenas a viu uma vez sendo chamada de "puta" pelo namorado. Disse ainda ter visto o jogador quebrar objetos de Gabriela.

Trecho do inquérito
Trecho do inquérito - Reprodução

João e Clayton também negaram ter visto o jogador agredindo a suposta vítima.

QUARTA SUPOSTA AGRESSÃO

A quarta e última agressão física narrada pela vítima no inquérito teria ocorrido em 8 maio deste ano. Ela disse ter sofrido um corte no dedo quando Antony jogou uma taça em sua direção.

Trecho de mensagem dela com a mãe indica agressão.

Gabriela Cavallin apresenta lesões que ela atribui a agressões de Antony
Gabriela Cavallin apresenta lesões que ela atribui a agressões de Antony - Reprodução

Toda as testemunhas ouvidas no caso, entre elas a mãe e o padrasto no jogador, negam que ele tenha atirado a taça na direção da namorada. Afirmam ter sido um acidente.

Trecho do depoimento de Cremilda Maria Prudêncio Lima, explica como teria sido.

Trecho do depoimento
Trecho do depoimento de Cremilda Maria Prudêncio Lima, mãe de Antony, que explica como taça teria se quebrado - Reprodução

Marcelo Bezerra, padrasto de Antony, estava ao lado da mulher no episódio, apresentou a mesma versão.

Outras testemunhas:

João Victor Soares Costa, Clayton da Silva Cabral, ambos amigos do jogador, e Fernando Roberto Silva, fisioterapeuta, negaram ter visto agressões ou cárcere privado.

Marcelo Rebouças, vendedor de passagens (que enviou bilhete para Gabriela voltar ao Brasil), negou conhecimento de violência física por parte do jogador contra a mulher.

Maria Francisco da Silva, mãe da vítima, disse que a filha lhe contou sobre quatro agressões do namorado. Ela disse que falou com a filha na noite do episódio da taça.

Trecho do inquérito
Trecho do inquérito - Reprodução

SUPOSTA AMEAÇA

Gabriela diz que, já no Brasil, foi ameaçada por Antony em telefonema em 20 de maio. O jogador teria dito que "se ele a visse com alguém, a mataria" (versão dada no primeiro depoimento) ou agredi-la caso "visse com outro alguém" (versão dada no segundo depoimento).

A DJ disse que seria fácil para o jogador conseguir uma arma porque tinha dinheiro e "nasceu numa comunidade, e ainda tem muitos amigos na comunidade".

A vítima apontou uma funcionária dela como testemunha.

Ana Lúcia Bota, diarista, disse à polícia que não se recorda de ligações de Antony com ameaças e que nunca presenciou isso ocorrer.

Trecho do inquérito
Trecho do inquérito - Reprodução
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.