Gramado sintético do Allianz Parque marca novo capítulo da briga Palmeiras x WTorre

Clube diz que não vai mais jogar no seu estádio enquanto o campo não passar por uma manutenção

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O Palmeiras e a WTorre, construtora responsável pelas obras e pela administração do Allianz Parque, iniciaram nesta semana mais um capítulo da queda de braço que vem dando o tom da parceria entre as partes nos últimos anos.

Após a partida contra o Santos, pelo Campeonato Paulista, na noite de domingo (28), que terminou com a vitória alviverde por 2 a 1, o técnico português Abel Ferreira voltou a criticar as condições do gramado sintético da arena multiuso. Ele cobrou a troca da superfície artificial, adotada em 2020, por uma nova, papel que cabe à Real Arenas, empresa do grupo WTorre responsável pela gestão do Allianz.

"Quando cheguei, nos três anos seguintes, o gramado estava top. Agora, falta manutenção. Precisamos com urgência que troquem nosso gramado sintético", disse o treinador, que já havia feito críticas à qualidade do campo no final do ano passado.

O estado do piso também foi alvo de queixas do time adversário. O meia Giuliano, do Santos, entrou no segundo tempo e ficou apenas 11 minutos em campo, sendo substituído após sentir um incômodo na panturrilha direita. Na saída do gramado, foi flagrado pelas câmeras de TV reclamando do terreno de jogo.

Flaco López, do Palmeiras, tenta domínio em partida contra o Santos
Flaco López, do Palmeiras, tenta domínio na partida contra o Santos; é possível observar nas chuteiras do atacante e de seu marcador uma gosma preta - Cesar Greco - 28.jan.24/Palmeiras/Divulgação

Imagens publicadas pelo ge.com mostram que, devido ao estado ruim da grama sintética, parte do material que reveste o campo ficou preso em grandes quantidades nas travas das chuteiras usadas pelos jogadores, uma espécie de gosma.

Segundo laudo preparado pela Soccer Grass, fornecedora do gramado sintético instalado na arena, as altas temperaturas na capital paulista provocaram a deterioração e o derretimento de um composto termoplástico que é usado na grama.

O material, chamado de Infill TPE, tem como objetivo amortecer o impacto nos atletas e impedir o aquecimento excessivo da grama. Assemelha-se a uma borracha, que é espalhada por toda a superfície.

Ao serem derretidas, as minipastilhas se fundem entre si e formam os blocos que estão se desprendendo do campo, explicou Felipe Côrrea, proprietário da empresa especializada em gramados sintéticos ProGrass. Esse é um tipo de material que funciona de maneira melhor em ambientes mais frios, como na Europa, acrescentou Côrrea.

Nas redes sociais, gravações de torcedores mostram um membro da comissão técnica do Palmeiras tentando retirar os acúmulos do material das chuteiras do goleiro Weverton.

Na sequência às críticas do treinador Abel Ferreira, o Palmeiras publicou um posicionamento oficial e disse que não vai mais atuar no local neste momento.

"A Sociedade Esportiva Palmeiras informa que, em razão das atuais condições do gramado do Allianz Parque, somente voltará a mandar jogos no estádio quando a Real Arenas honrar com a sua obrigação de realizar a manutenção adequada do campo", disse o Palmeiras. O próximo compromisso da equipe como mandante será no dia 8 de fevereiro, contra o Ituano.

O clube assinalou que seguir com os jogos no estádio colocaria em risco a integridade física dos jogadores e que o problema não é a grama sintética, mas o descaso da Real Arenas com a qualidade do campo.

A administradora do estádio disse que, após receber no domingo o laudo preparado pela Soccer Grass, solicitou a troca integral e imediata da superfície no estádio.

"Seguimos acreditando na capacidade técnica e excelência dos serviços da Soccer Grass", disse a Real Arenas, que informou ter a intenção de retomar as partidas no estádio "no menor prazo possível".

A empresa também fornece o gramado sintético do centro de treinamento do Palmeiras. Neste caso, no entanto, o clube optou por rescindir o acordo nesta segunda-feira (29). Há meses, as duas partes conversavam sobre a piora nas condições do piso. A diretoria da equipe expôs que não estava satisfeita com as soluções apresentadas, além da demora para que uma solução fosse encontrada.

A parceria entre Palmeiras e WTorre começou em 2014, quando ocorreu a inauguração do novo estádio em substituição ao antigo Parque Antarctica. O acordo tem duração de 30 anos.

Desde então, atritos entre clube e construtora se tornaram constantes. As queixas mais comuns são em relação aos shows de música realizados no local, o que força o Palmeiras a levar as partidas nas quais é mandante para estádios de terceiros.

O Palmeiras também cobra da WTorre na Justiça aproximadamente R$ 128 milhões, devido à suposta falta de repasses, desde 2015, de percentuais das receitas pela utilização de assentos, camarotes e "naming rights".

A WTorre não reconhece o montante devido e questiona a cobrança na Justiça. Em maio de 2023, a Polícia chegou a abrir um inquérito para investigar a Real Arenas por apropriação indébita e associação criminosa, após queixa apresentada pelo Palmeiras. Um mês depois, a Justiça de São Paulo intimou a construtora a fazer o pagamento, mas a decisão acabou revertida. O caso está em sigilo, sem previsão de conclusão.

Ruídos entre os dois lados também ocorreram devido à implementação do reconhecimento facial para a entrada no estádio. O clube adotou gradualmente desde o início do ano passado o novo modelo de acesso em todas as entradas do estádio administradas por ele. Os ingressos comercializados pela Real Arenas, como aqueles referentes ao programa Passaporte Allianz Parque, contudo, não aderiram à prática.

Em meados de maio, sem que as partes chegassem a um acordo, o Palmeiras determinou que todas as entradas, sem exceção, passariam a ser feitas via biometria facial, o que forçou a adesão por parte da WTorre e trouxe mais um desgaste à relação.

Há ainda uma indefinição quanto à adoção de um setor popular com ingressos mais econômicos dentro do estádio. A ação é defendida pela atual gestão do clube, mas ainda não se chegou a um acordo que tire o projeto do papel.

Há cerca de duas semanas, a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, afirmou que, quando a parceria com a WTorre terminar, a construtora vai entregar ao clube um estádio com as condições do "coliseu", em referência à arena em ruínas na Itália, cuja construção foi iniciada no século 1.

Enquanto as partes não se entendem, o Palmeiras deve mandar as próximas partidas na Arena Barueri, na região metropolitana de São Paulo. No final do ano passado, a Crefipar, empresa da presidente do clube, venceu a licitação para a administração do estádio pelos próximos 35 anos.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.