Guerra da Ucrânia invade o campo na Eurocopa

Torcedores da Romênia provocam ucranianos com bandeira e gritos de 'Putin'; cadeiras destruídas de estádio são mostradas

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São Paulo

Maior conflito em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial, a invasão da Ucrânia entrou em campo nesta segunda (17) na Eurocopa, quando romenos e ucranianos se enfrentaram pela primeira rodada no grupo E da competição continental de seleções.

O jogo, vencido pela Romênia por 3 a 0, ocorreu na Allianz Arena, segundo principal estádio alemão, em Munique. Foi o primeiro triunfo da seleção numa Euro desde 2020.

Cadeiras azuis e amarelas quebradas e com marcas de tiros, que estavam em um estadio na Ucrânia
Instalação com cadeiras do estádio destruído de Kharkiv na praça Wittelsbacher, em Munique - Angelika Warmuth/Reuters

Imagens captadas em redes sociais por ucranianos mostraram ao menos uma bandeira da autoproclamada República Popular de Donetsk, território que a Rússia anexou ilegalmente em 2022, colocada sobre uma placa divisória pela torcida romena.

A região no leste da Ucrânia está em guerra civil desde 2014, quando Vladimir Putin anexou a Crimeia após a derrubada de um governo aliado seu em Kiev. Com a invasão de 2022, virou um dos principais palcos de combates entre as forças de Putin e as de Volodimir Zelenski.

Além disso, as provocações vieram na forma de gritos de "Putin" e alguns setores ocupados pelos ruidosos apoiadores da Romênia, país que integra a Otan [aliança militar ocidental], apoia Kiev na guerra e já foi atingida por destroços de drones russos derrubados perto da região da foz do Danúbio, que marca a fronteira com a Ucrânia.

Não houve incidentes relatados, até porque as torcidas estavam relativamente delimitadas e as provocações aparentemente foram pontuais. Segundo a agência de notícias estatal Suspilne, contudo, a federação local de futebol deve encaminhar uma queixa à Uefa, o corpo dirigente do esporte na Europa.

Antes do jogo, a federação ucraniana promoveu um ato em uma praça de Munique para lembrar os torcedores do conflito. Foram trazidas cadeiras destruídas do estádio Soniatchni, em Kharkiv, que havia sido construído para a Euro-2012 que o país dividiu com a Polônia.

O local foi destruído em um bombardeio em 2022. "Quando eu era o técnico da seleção, nós costumávamos treinar lá. É como se você descobrisse que sua casa foi destruída", disse Andrii Sevtchenko, ex-astro do futebol ucraniano que comandou, do banco, o time naquele torneio continental.

A tensão afetou duramente o esporte no país, que viveu momentos de destaque nos anos 2000. O principal time do país, o Shakhtar Donetsk, que abrigou diversos jogadores brasileiros, teve de mudar da capital homônima de Donetsk após o controle russo sobre a cidade ser estabelecido em 2014.

A equipe foi realocada para Lviv, no oeste ucraniano, e manda jogos de torneios continentais na vizinha Polônia.

Política e futebol invariavelmente se esbarram em grandes competições. Na Copa-2018, na Rússia, por exemplo, ficaram famosos os protestos de jogadores de origem albanesa da Suíça e os embates entre torcedores croatas e sérvios, que viviam num mesmo país, a Iugoslávia, até a destrutiva guerra civil dos anos 1990.

Os próprios ucranianos protagonizaram uma polêmica ao adotar um mapa do país com a Crimeia em seu uniforme para a Euro-2020, disputada em 2021 devido à pandemia. Após protestos russos, que hoje estão banidos do torneio, a Uefa determinou que o desenho fosse apagado.

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