Rússia intensifica ataques em Donetsk após tomar província vizinha

Ministro da Defesa russo afirma que tomada de Lisitchansk deixou mais 2 mil soldados da Ucrânia mortos

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Kiev e Ancara | Reuters e AFP

As cidades de Sloviansk e Bakhmut, em Donetsk —uma das províncias que compõem o Donbass, no leste da Ucrânia—, já começam a registrar a intensificação dos ataques da Rússia, disse nesta segunda (4) o governador Serhi Haidai. O cenário já era esperado após Moscou controlar a vizinha Lugansk no domingo.

"O objetivo número 1 russo é a região de Donetsk", afirmou Haidai. O Ministério da Defesa do Reino Unido, que monitora o conflito, também disse em relatório que o foco de Moscou agora é a captura da região.

O avanço russo foi comemorado do espaço. A Roscosmos, agência espacial do país, divulgou fotografias de cosmonautas na Estação Espacial Internacional segurando bandeiras de Donetsk e de Lugansk.

Pessoas esperam para receber ajuda humanitária em Kramatorsk, na região de Donetsk
Pessoas esperam para receber ajuda humanitária em Kramatorsk, na região de Donetsk - Marko Djurica - 4.jul.22/Reuters

"Todo o território da República Popular de Lugansk foi libertado; é um dia aguardado para os moradores das áreas ocupadas há oito anos", diz o texto que acompanha as fotos no app de mensagens Telegram.

A referência aos oito anos remete a 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia e separatistas passaram a combater no Donbass. Por isso, o Kremlin diz que a captura da província atende à demanda dos que proclamaram a região uma república popular, o que Putin reconheceu na véspera da guerra.

Em março, os mesmos cosmonautas —designação russa para astronautas— foram vistos com uniformes nas cores amarela e azul, o que muitos interpretaram como uma mensagem de apoio a Kiev, já que essas são as cores da bandeira ucraniana. Eles desconversaram quando questionados se aquela era mesmo um gesto favorável ao país vizinho, e Moscou também negou, por óbvio, a possibilidade.

Segundo o ministro da Defesa russo, Serguei Choigu, em prestação de contas ao presidente Vladimir Putin e citado pela agência estatal Tass, a disputa por Lisitchansk, cidade-chave que marcou a tomada de Lugansk, levou à morte de mais 2.000 soldados da Ucrânia, além de outros 5.000 feridos. As baixas, disse, também incluíram 196 tanques, 12 aeronaves, um helicóptero, 65 drones e seis mísseis de longo alcance.

Choigu disse ainda que esforços para limpar a cidade de minas, entregar suprimentos de ajuda e fornecer assistência médica a civis estão em andamento. O ministro não teria informado o número de baixas russas, e as informações tampouco puderam ser confirmadas de maneira independente.

Os números confirmam o cenário de destruição no país, que já era grave antes das batalhas no Donbass. Assim, a futura reconstrução da Ucrânia já entrou em pauta, e uma conferência em Lugano, na Suíça, nesta segunda e terça (5), debate o tema, com a presença de representantes de órgãos internacionais, empresários e cerca de mil líderes políticos, entre os quais o presidente Volodimir Zelenski.

Em participação por videoconferência, ele afirmou que o processo para refazer a nação do Leste Europeu é a "tarefa comum de todo o mundo democrático e a maior contribuição à paz mundial".

O custo da empreitada foi estimado em US$ 750 bilhões pelo primeiro-ministro ucraniano, Denis Shmihal, que insistiu no uso de ativos russos bloqueados por sanções para financiar a reconstrução. O objetivo do encontro no sul da Suíça é elaborar uma espécie de "plano Marshall" de reconstrução, em referência ao programa econômico dos Estados Unidos de auxílio à Europa depois da Segunda Guerra Mundial.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, fala por vídeo na conferência de Lugano
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, fala por vídeo na conferência de Lugano - Fabrice Coffrini - 4.jul.22/AFP

A conferência havia sido marcada antes da invasão russa e planejada para discutir reformas na Ucrânia, incluindo o combate à corrupção endêmica, mas o tema, claro, mudou diante da guerra. De acordo com o presidente suíço, Ignazio Cassis, a reconstrução e a luta contra a corrupção não competem, mas se complementam, e a reunião em Lugano deve levar a "um processo político eficaz".

Reformas profundas são uma condição para que a Ucrânia, hoje com status de candidata a membro da União Europeia, torne-se de fato integrante do bloco, num processo que pode levar anos ou até décadas.

Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, foi na mesma direção. "A Ucrânia pode sair de tudo isso no caminho de um país mais forte e moderno, com Judiciário e instituições mais fortes, com sucesso no combate à corrupção e uma economia mais verde, mais digital e mais resiliente", disse.

A Ucrânia está na posição 122 entre 180 países no relatório de 2021 da ONG Transparência Internacional. A colocação é melhor do que a de 2014 (142) e do que a da Rússia (136), mas ainda muito atrás de seus vizinhos na União Europeia —a Bulgária, com a classificação mais baixa do bloco, está em 78º lugar.

O premiê tcheco, Petr Fiala, que assumiu a presidência da UE, também participou da reunião, assim como seu colega polonês Mateusz Morawiecki, cujo país abriga o maior número de refugiados ucranianos.

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