A FEI (Federação Equestre Internacional) anunciou nesta terça-feira (23) a suspensão da seis vezes medalhista olímpica Charlotte Dujardin –a atleta feminina mais condecorada da Grã-Bretanha– por métodos de treinamento inadequados.
Imagens de vídeo que forçaram Dujardin a se retirar dos Jogos de Paris mostram ela chicoteando as pernas de um cavalo várias vezes, gerando um debate mais amplo sobre os esportes equestres pouco antes do início das Olimpíadas.
"O que é mostrado neste vídeo é, antes de tudo, completamente inaceitável em qualquer momento do treinamento de um cavalo", disse Goran Akerstrom, Diretor Veterinário da FEI, à Reuters.
"Você pode ver claramente que alguns dos golpes realmente atingiram o cavalo, e o cavalo estava estressado com isso", informou, descrevendo os golpes como "estúpidos" para o processo de aprendizado do animal.
A FEI despertou para o desafio de melhorar o bem-estar dos cavalos após os Jogos de Tóquio terem prejudicado severamente sua imagem.
Em 2021, um cavalo morreu em um acidente de cross-country, enquanto outro sofreu graves hemorragias nasais devido a saltos, e os espectadores ficaram chocados com cenas de abuso em uma competição de pentatlo moderno.
Veterinário chefe da FEI, Akerstrom afirmou que a entidade recentemente lançou um plano de ação com 37 medidas para proteger os cavalos, incluindo regras sobre a rigidez das cabeçadas e obstáculos flexíveis em cross-country projetados para prevenir acidentes graves.
O vídeo de Dujardin, que foi exibido no programa de notícias Good Morning Britain, coloca a equitação novamente em evidência.
"É necessário que tenhamos uma mudança e as ações que estamos tomando levarão a essa mudança", disse Akerstrom.
Enquanto isso, os cavalos de eventos chegaram ao château de Versalhes na manhã de quarta-feira para as competições equestres olímpicas, que visam estabelecer novos padrões para o bem-estar dos cavalos.
As apostas são altas. A organização de direitos dos animais Peta renovou seu apelo para que os eventos equestres sejam banidos das Olimpíadas.
"A mensagem para o Comitê Olímpico Internacional deve ser clara agora: Remova os eventos equestres dos Jogos Olímpicos", criticou a PETA em um comunicado.
"Estou confiante de que isso nos ajudará a continuar fazendo parte dos Jogos Olímpicos", disse Akerstrom.
"MEU TRABALHO É SER RIGOROSO"
Em Versalhes, cavalos de 28 nações, incluindo Austrália, Grã-Bretanha, China e Austrália –alguns deles valendo mais de um milhão de euros (R$ 6,11 milhões)– passaram pelos portões do complexo ao amanhecer, onde receberam os últimos exames médicos.
Eles foram levados para estábulos com controle climático, com boxes maiores e vigilância 24 horas. A FEI também nomeou pela primeira vez um coordenador de Bem-Estar dos Cavalos, liderando uma equipe de fiscais que monitoram todos os movimentos dos cavalos durante os jogos, inclusive à noite.
"Meu trabalho é ser rigoroso", disse Richard Corde, o veterinário francês aposentado designado para o cargo. "Vamos garantir que o cavalo esteja sempre nas condições mais confortáveis, que não haja restrições e que não haja movimentos anormais."
INVESTIGAÇÃO
A FEI lançou uma investigação no caso de Dujardin. Os oficiais do órgão em Versalhes e a equipe equestre britânica se recusaram a fazer mais comentários, citando a investigação em andamento.
Dujardin fez uma publicação em seu Instagram, na terça-feira (23), anunciando sua retirada olímpica e que as imagens mostraram um erro de julgamento que não refletia como ela treinava seus cavalos ou orientava seus alunos.
"Mais uma vez, uma atleta olímpica foi flagrada em vídeo abusando de um cavalo para forçar o animal a se comportar de uma maneira totalmente antinatural, simplesmente por sua própria glória", disse o grupo de campanha Peta.
O colega de Dujardin, Carl Hester, disse à Reuters no início deste mês que todos os atletas equinos precisavam prestar atenção ao bem-estar dos cavalos.
"Eles se livraram dos animais em circos, não se livraram? Porque isso era injusto, e temos que garantir que isso não aconteça no esporte equestre."
Dujardin ganhou três medalhas de ouro, uma prata e duas de bronze nas Olimpíadas de Londres, Rio e Tóquio em adestramento individual e por equipes. Com seis medalhas, ela é a atleta feminina mais condecorada da Grã-Bretanha, ao lado da ciclista Laura Kenny.
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