Joelmir Beting revolucionou jornalismo econômico da Folha

Jornalista foi precursor de diversas inovações, como a cobertura de empresas

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São Paulo

Movido pela ambição de dar certo na vida e se afastar da pobreza que marcou sua infância, Joelmir Beting abraçou áreas do incipiente jornalismo econômico vistas com desprezo por seus pares, nos anos 1960, e acabou revolucionando a profissão.

Morto em 2012, o sociólogo de formação é considerado precursor de diversas inovações, como a cobertura de empresas, introduzidas por ele na Folha, entre o fim da década de 1960 e o início da seguinte.

Sua trajetória é contada no recém-lançado “Joelmir Beting —O Jornalista de Economia mais Influente do Brasil”. Escrita por Edvaldo Pereira Lima, a biografia foi publicada pela Beting Books, editora de Gianfranco Beting, filho mais velho do jornalista.

homem sentado em escrivaninha gesticula sorrindo; atrás dele, uma estante cheia de livros
O jornalista Joelmir Beting, no escritório de sua casa, em São Paulo (SP) - Marcia Zoet - 1º.mai.1987/ Folhapress

O livro mostra como Beting, descendente de imigrantes alemães, teve um início de carreira eclético. No jornal O Esporte, cobriu o Santos, time que outros repórteres evitavam pelo incômodo de precisar viajar ao litoral.

Ao acompanhar a ascensão de Pelé, entrou para a própria história do jogador, como ressalta seu biógrafo —que também é jornalista—, ao mandar fazer uma placa de bronze em homenagem a um gol marcante do atleta, em 1961. Sem querer, se tornou o pai da expressão “gol de placa”.

Um ano depois, a experiência em esporte foi encerrada abruptamente. Torcedor fanático do Palmeiras, Beting foi cobrir um jogo de seu time contra o Corinthians, se descontrolou, após um lance, e deu uma banana para a torcida do rival. Ciente do tropeço, pediu demissão.

Na busca por outro trabalho, recorreu a uma carta de apresentação que trazia do padre Donizetti, mentor do jornalista desde a sua infância.

Vigário de uma paróquia em Tambaú, cidade do interior de São Paulo onde Beting nasceu em 1936, o pároco ficou famoso por milagres atribuídos a ele, que o levaram a ser beatificado em 2019 pelo Vaticano.

Desesperada pela gagueira que afligia o filho, Albertina Greve, mãe de Beting, recorreu ao padre, que, segundo o jornalista, o curou. Isso abriu caminho para que o menino frequentasse a escola, enquanto também ajudava Sebastião, seu pai, na coleta de frutas, encarando jornadas diárias de 14 horas entre trabalho e estudos.

Veio do padre Donizetti a ideia para que o jovem, que tinha ótimo desempenho na escola, se tornasse jornalista e estudasse Sociologia na USP.

Quando se viu sem emprego ao deixar O Esporte, Beting conseguiu, graças à carta do vigário, uma vaga de locutor na rádio Nove de Julho, onde conheceu Lucila Zioni, com quem se casou e teve os filhos, Gianfranco e Mauro.

A entrada no mundo da economia aconteceu quando Beting —para complementar renda— começou a editar pequenas publicações do meio empresarial.

“Ele não tinha preguiça de estudar. Retinha muita informação”, disse a Lima o publicitário Sérgio Reis, que convenceu Beting a largar a rádio e ir trabalhar para ele, como redator, em sua consultoria empresarial.
O bom desempenho na função pavimentou o caminho para que o jornalista estreasse, em 1966, uma coluna sobre a indústria automotiva na Folha.

Decidido a ir além da mecânica dos carros, ele conectou a cobertura do setor à de outros ramos produtivos, ganhou respeito no meio e foi convidado por Octavio Frias de Oliveira (1912-2007), então publisher da Folha, a se tornar editor de economia.

Na época, a área era considerada de menor importância e escrever sobre empresas —como Beting já fazia— era considerado quase um sacrilégio no meio.

“Havia muito preconceito e mesmo restrições sobre a publicação de matérias com notícias de empresas. Achava-se, em toda a imprensa, que as informações empresariais deveriam ser publicadas em anúncios”, diz Pedro Cafardo, que foi repórter e editor de economia da Folha.

Mas tanto seu Frias –como o dono do jornal era chamado –quanto Beting notaram que a maré iria mudar na esteira do desenvolvimento industrial do país.

Ao assumir a editoria, Beting ampliou seu leque de cobertura, incluindo assuntos interessantes ao, então, emergente consumidor brasileiro, como o imposto de renda.

“O foco do Jô sempre foi o homem, como consumidor, produtor, agente econômico”, afirma a jornalista Cecilia Zioni, cunhada de Beting, que trabalhou com ele no jornal.

Mas Beting gostava mesmo era de escrever. Em 1970, estreou uma coluna diária, que trazia em seu pé uma pequena seção com notícias sobre empresas, considerada precursora da cobertura de negócios no país e, logo, deixou, por vontade própria, o cargo de editor.

Durante anos, a coluna de Beting foi republicada por cerca de 50 jornais.

“A forma como ele traduzia o cenário econômico em notas sucintas me impressionava”, diz o jornalista Mauro Zafalon, colunista da Folha. Segundo o também jornalista Vicente Alessi-Filho, além da concisão, Beting se destacava por escrever de forma compreensível sobre temas áridos.

“Seu português parecia herdado de Monteiro Lobato. Era também generoso com os amigos, além de uma figura muito divertida”, afirma Alessi.

O sucesso profissional de Beting o levou a ser cobiçado por outros veículos. Por anos, acumulou o trabalho como colunista da Folha —e, a partir de 1991, em O Estado de São Paulo –com comentários em grandes emissoras de rádio e TV.

A carreira intensa do jornalista –que incluiu de palestras para empresas a uma aula sobre economia brasileira para o ditador de Cuba Fidel Castro (1926-2016)– foi interrompida apenas com sua morte, aos 75 anos.

Joelmir Betting (1936-2012)

Nascido em Tambaú (SP), começou sua carreira no jornal O Esporte. Depois, foi locutor na rádio Nove de Julho. A entrada no mundo da economia aconteceu quando editava publicações do meio empresarial. Entrou na Folha em 1966, escrevendo uma coluna sobre a indústria automotiva. Logo depois, foi convidado por Octavio Frias de Oliveira (1912-2007) para ser editor de economia. Nesse papel, inovou a editoria ao introduzir assuntos caros ao consumidor e produtor brasileiros.

Joelmir Beting - O Jornalista de Economia mais Influente do Brasil

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