Márion editou Ilustrada e lançou 1ª rede interna de computadores da Folha

Com 'currículo renascentista', editora colaborou para implantação do Projeto Folha na década de 1980

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São Paulo

Formada em jornalismo, mas envolvida com música, literatura, editoração, artes visuais e teatro, Márion Strecker, 23, se inscreveu em um concurso de redatora para a Ilustrada em julho de 1984, meses após Otavio Frias Filho (1957-2018) assumir a Direção de Redação da Folha.

Entrevistada pelo editor Marcos Augusto Gonçalves, ouviu um "Está ótimo, mas como a chefia é nova, eles querem conhecer todo mundo. Vou te apresentar para o secretário de Redação, o Caio Túlio Costa". Deste, também ouviu uma aprovação e "como o chefe é novo, quero te levar para conhecer o diretor de Redação."

Assim, Márion entrou na sala e colocou seu histórico nas mãos de Otavio. Ao ler atividades como balé, flauta e história da arte, o jornalista se surpreendeu. "Nossa, você tem um currículo renascentista", disse e a contratou.

retrato em preto e branco de mulher branca de cabelos curtos sentada em uma mesa e rodeada de papeis; ela segura um cigarro com a mão direita erguida para cima e está sorrindo
Márion Strecker na Redação da Folha, em 1988, quando era editora da Ilustrada - Rubens Mano - 9.jun.1988/Folhapress

Márion começou assim sua carreira na Folha, jornal que só deixou 12 anos depois, quando assumiu cargo de direção no UOL, empresa que tem participação acionária minoritária e indireta do Grupo Folha, que edita a Folha.

Nos anos 1980, logo se tornou editora-assistente da Ilustrada, foi coordenadora de reportagens especiais, ajudou a elaborar a segunda edição do Manual da Redação (lançada em 1987) e virou editora de suplementos.

"Minha missão nos suplementos era levar o Projeto Folha [pilares para um jornalismo crítico, moderno, apartidário e pluralista] para lá", conta ela, que passou a dirigir uma equipe de cerca de 25 pessoas em cadernos como Folhinha, Folhetim, Classificados, Informática, Turismo, Imóveis e Veículos.

"Naquela época, alguns desses cadernos ainda publicavam releases enviados pelas assessorias de imprensa", lembra.

Em seguida, nessa época de crescimento da Redação e do número de páginas impressas, Márion voltou para a Ilustrada, desta vez como editora. "Tive total liberdade para fazer o que bem entendesse e me propus a ampliar os assuntos do caderno". Abriu as páginas para psicanalistas, criou uma seção semanal de moda, passou a cobrir arquitetura e design e a encarar a TV como assunto de notícias.

Cadernos especiais de grandes eventos, como os da Bienal de São Paulo ou da Mostra de Cinema, tornaram-se comuns. Nomes como Josimar Melo, Zeca Camargo, Mario Cesar Carvalho, Mauricio Stycer, Erika Palomino e José Simão começaram a se destacar. "Lembro uma edição da Ilustrada com 36 páginas, mais ou menos o mesmo que todo o resto do jornal naquele dia", conta.

"Um dia, resolvi que não queria mais", diz. "Havia muita pressão interna, todos tinham opinião sobre tudo. Como o Otavio me apoiava, sabia lidar bem com ela. Só que a pressão externa era mais difícil. Me ligavam em casa até no sábado à noite. Não havia internet. Todo mundo queria aparecer na Ilustrada."

A jornalista Márion Strecker em 2011 - Alexandre Rezende - 3.jun.2011/Folhapress

Após uma temporada como repórter especial e como redatora da Primeira Página, Márion recebeu outra missão, levar o Projeto Folha para o Banco de Dados (BD).

No início dos anos 1990, entre as diversas funções do BD, estava a de fornecer subsídios para os jornalistas escreverem seus textos. Num mundo não informatizado, isso significava armazenar e alimentar arquivos de papel com recortes de jornais sobre quaisquer assuntos, inclusive sobre coisas que haviam sido publicadas há poucos dias.

Sob a direção de Márion, o BD criou a primeira rede interna de computadores do jornal, que capturava matérias escritas nos computadores e as disponibilizava para consultas em qualquer outro terminal. Em 1994, novo avanço: foi instalado um computador com acesso pelo telefone para que os jornalistas que trabalhassem em outras cidades ou países pudessem pesquisar o arquivo do jornal.

Foi um momento de diversas mudanças tecnológicas. As fotografias, agora digitais, também passaram a ser armazenadas no sistema da Folha. A Agência Folha, também sob as rédeas dela, deixava o telex para trás. E o formato da internet, com seus sites, já começava a acontecer nos EUA, com sua própria revolução: a internet atendia a todos, não apenas a quem possuía softwares específicos.

A primeira homepage do Universo Online entrou no ar em 28 de abril de 1996, inaugurando a nova empresa, da qual Márion seria a diretora de conteúdo por 15 anos, até 2011. Lá, com Caio Túlio como diretor geral, liderou equipes e ajudou a colocar no ar um conteúdo enorme, que incluiu rádios, TV, bate-papos e assuntos de milhares de sites parceiros, para todo o tipo de público. "Se a Folha era um jornal, o UOL era uma banca de revistas", compara a jornalista.

Em 2010, Márion passou a assinar uma coluna de nova economia e comportamento no caderno Mercado, que manteve até 2015. E quando esse período terminou, ela voltou à vida profissional no mundo artístico, passando por um canal cultural de TV, uma revista de artes visuais e, desde 2020, coordenando publicações do Museu de Arte Moderna do Rio. Era o que se esperava de alguém com um currículo tão renascentista.

RAIO-X
Márion Strecker, 61

Nascida em São Paulo em 1960, pulou das artes para o jornalismo em 1984, atuando em cadernos como Ilustrada e suplementos como Turismo e Folhetim. Ao ser destacada para organizar o Banco de Dados da Folha, iniciou um processo de digitalização de conteúdo que culminou no embrião da presença do jornal na internet. Por 15 anos, foi a diretora de conteúdo do UOL.

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