Descrição de chapéu Folha, 100 Humanos da Folha

Caio Túlio foi primeiro ombudsman e pioneiro do UOL

Jornalista foi também editor da Ilustrada e correspondente em Paris

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São Paulo

Por 21 anos, Caio Túlio Costa sobrevoou as alturas da Redação da Folha. Foi o primeiro diretor do UOL e da Revista da Folha e primeiro ombudsman do jornal. O cargo que mais gostou de exercer, porém, foi o de correspondente do jornal em Paris, de 1987 a 1989. “Sem pressão de fechamento e sem ter que tourear tantos talentos na Redação”, lembra.

Costa chegou ao jornal em outubro de 1981 para editar o caderno Ilustrada, após um convite do editor-chefe Boris Casoy a pedido de Otavio Frias Filho (1957-2018).

Na época, ele dirigia a Leia Livros, publicação mensal, inspirada pela New York Review of Books, até hoje a mais importante revista literária do mundo. Lançada em 1978 pelo editor Caio Graco Prado e pelo jornalista Cláudio Abramo, com Caio Túlio à frente da edição, a Leia Livros trazia resenhas das principais obras lançadas a cada mês, muitas vezes assinadas por intelectuais da USP.

“Pela primeira vez, o país tinha um registro mensal do que era publicado”, lembra Costa. “Um dia, pedi uma resenha ao Otavio, a quem não conhecia, sobre um livro a respeito de Hannah Arendt. Ele gostou da edição do texto, me chamou para um almoço e pouco depois eu estava na Ilustrada.

Sem experiência com o jornalismo diário, Costa aprendeu no tranco coisas como horário de fechamento. E começou a remodelar a equipe e o perfil do caderno. Sob suas rédeas, a Ilustrada se aproximou do mercado cultural e passou a priorizar reportagens sobre filmes, livros, discos e peças que estavam sendo lançados no momento, nos moldes do que fazia no Leia Livros.

retrato em preto e branco de homem vestindo camisa e gravata sentado em uma escrivaninha e falando ao telefone
Caio Túlio Costa na Folha nos anos 80 - Jorge Araújo - 05.fev.1986/Folhapress

“Fui mal visto pela equipe, que era grande e tinha seus vícios de como fazer jornalismo.” Mas era um passo sem volta. Costa trouxe nomes jovens à Ilustrada, como Matinas Suzuki, Marcos Augusto Gonçalves e Mario Sergio Conti e, um ano depois, foi promovido a secretário de Redação responsável pela edição do jornal.

No novo cargo, além de ajudar a chefiar todas as editorias, Caio Túlio esteve na equipe de comando de uma série de inovações pelas quais a Folha passava: a informatização da Redação, o esboço e a implantação do Projeto Editorial, a confecção de um manual com regras para o jornalista e, não menos importante, ultrapassar o Estado de S. Paulo como o jornal mais lido do país —façanha alcançada em 1986 e mantida até hoje.

De certa forma, Costa era um profissional temido pela Redação.

“É verdade que eu exerci o cargo com muita autoridade e cobrança. Isso tinha a ver com minha insegurança. Eu perdia a paciência muito rapidamente e as pessoas me achavam um chato. Me apelidaram de Entulho Autoritário. Tinha uma coisa que eu fazia sempre. Lia o jornal, não entendia um texto e chamava o repórter. Ele me explicava o que quis dizer. Então, falava para ele ligar para todos os assinantes da Folha e explicar a cada um. Depois, ir a cada banca de jornal da cidade e fazer o mesmo com quem comprava o jornal. Era um cinismo brutal.”

A seguir, a partir de 1987, passou seus anos mais felizes na Folha, trabalhando de Paris. Voltou em 1989 para se tornar o primeiro ombudsman do jornal, cargo no qual passou a ser odiado em nível nacional.

“Além de fazer críticas à Folha, naquela época o ombudsman tecia comentários sobre o que outros jornais publicavam”, conta. Isso lhe proporcionou embates públicos com jornalistas do Estado de S. Paulo e do O Globo —e, domesticamente, uma célebre discussão com o colunista Paulo Francis, que trocaria a Folha pelo Estadão em seguida. “Foi um período de muita solidão”, resume.

Em 1991, participou da criação da Revista da Folha, uma investida comercial que se equilibrou em 18 meses e que apresentou um Caio Túlio mais calmo na direção. “Meu grau de tolerância havia aumentado após os dois anos como ombudsman.”

Para a revista, contratou um repórter da Veja São Paulo que veio a se tornar o atual diretor de Redação da Folha, Sérgio Dávila.

Foi a partir de 1995 que Costa exerceu o que considera sua participação mais importante no jornal: a criação do UOL, lançado em 28 de abril de 1996. “O Luiz Frias [atual publisher da Folha] me deu um livro do Nicholas Negroponte, falou da AOL e disse ‘monte uma equipe’”.

“Ele e nós sabíamos exatamente o que estávamos fazendo. O UOL era um encontro com o futuro”, afirma. “Fizemos várias viagens aos EUA, conversamos com todo mundo. No modelo inicial, além de pensarmos conteúdo específico para o digital, nós também províamos o acesso à internet aos brasileiros.”

Caio Túlio foi desligado da Folha em 2002, e teve uma série de experiências desde então. Trabalhou com o Instituto DNA Brasil, ajudou a rearranjar o IG, fez a campanha de Marina Silva à presidência em 2010 e se tornou pesquisador da Universidade Columbia, onde produziu um trabalho sobre jornalismo online. Também fez doutorado em comunicação na USP e voltou a dar aulas em escolas de jornalismo.

Desde 2015, é sócio-diretor da empresa de monitoramento de dados digitais Torabit, cuja tecnologia ouve o público e orienta empresas a como se situar nas redes sociais.

Caio Túlio Costa, 66

Jornalista formado pela Escola de Comunicações e Artes da USP, nasceu em Alfenas, Minas Gerais em 1954. Na Folha, foi editor da Ilustrada, secretário de Redação, correspondente em Paris, ombudsman e diretor da Revista da Folha; foi o primeiro diretor do UOL​.

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