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Suzana Padua e Claudio Padua

Em 30 anos, Ipê mostra força de educar para conservar

Instituto é referência na conservação da fauna ameaçada, no plantio de florestas, em educação e trabalhos que envolvem comunidades

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Suzana Pádua

Doutora em desenvolvimento sustentável pela UnB, é presidente do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas) e vencedora do Prêmio Empreendedor Social 2009

Claudio Padua

PhD em biologia da conservação, fundador do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas) e vencedor do Prêmio Empreendedor Social 2009

Se alguém nos dissesse 30 anos atrás que o IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas seria a instituição que é hoje, com mais de cem pessoas atuando em quatro biomas —Mata Atlântica, Amazônia, Pantanal e Cerrado—, nós não acreditaríamos.

Não foi essa a intenção, mas sim a consequência de um trabalho que tinha por objetivo a proteção da biodiversidade e que atraiu jovens estagiários. Juntos fundamos o IPÊ, em 1992.

Cláudio Padua e Suzana Pádua são fundadores do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas) e venceram o Prêmio Empreendedor Social em 2009
Cláudio Padua e Suzana Pádua são fundadores do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas) e venceram o Prêmio Empreendedor Social em 2009 - Eduardo Anizelli/Folhapress

Os jovens se profissionalizaram e hoje são referências naquilo que fazem, seja conservação de fauna ameaçada, plantio de florestas, educação ou trabalhos que envolvem comunidades.

Conservar a natureza é tarefa complexa que exige especialistas em diferentes campos, integrados no propósito de proteger e restaurar a natureza. E, ao mesmo tempo, dar às comunidades locais alternativas sustentáveis, que melhorem a qualidade de vida humana e favoreçam o meio ambiente.

O IPÊ nasceu de um projeto, a conservação do mico-leão preto, tema de tese de mestrado e doutorado do Claudio Padua. Mas acabou se desdobrando em muitas frentes para abarcar as necessidades que surgiam na medida em que o trabalho era realizado.

Por exemplo, ficou clara a necessidade de se adotar educação ambiental para que as pessoas valorizassem e protegessem o que restava de florestas nativas, habitat do mico e de tantas outras espécies.

O valor da educação para conservação ficou claro, pois era um meio de colocar teoria em prática para responder com maior eficácia às necessidades que emergiam. Com essa visão, os profissionais do IPÊ trabalham em campo, mas também ajudam a formar novos conservacionistas.

Foi assim que muitos alçaram voos em direções diferentes e criaram projetos que se complementam entre si. Nasceu também com gestão moderna, incentivando trabalhos em grupo e autonomia da equipe na atuação. Tudo isso com horizontalidade e alicerce nos valores institucionais.

O Pontal do Paranapanema, no extremo oeste de São Paulo, foi o local onde as pesquisas iniciaram e desabrocharam e também onde passamos a compreender a necessidade da restauração florestal, com participação social, para a sobrevivência de animais como o mico.

Suzana Pádua lidera time de especialistas em quatro biomas brasileiros no Instituto IPÊ
Suzana Pádua lidera time de especialistas em quatro biomas brasileiros no Instituto IPÊ - Bruno Santos/ Folhapress

O local serve de base para um aprendizado que não acaba, pois recomeça a cada nova necessidade que surge. As lições aprendidas são levadas para outras regiões onde a instituição atua e compartilhadas com alunos na nossa Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (Escas).

Alguns resultados gerais do instituto incluem o plantio de mais de 5,5 milhões árvores. Hoje, o Pontal do Paranapanema tem o maior corredor de mata plantado, recentemente reconhecido pela Nasa, a partir das imagens da Estação Espacial Internacional.

No Sistema Cantareira, o reflorestamento visa proteger nascentes e melhorar práticas silvipastoris, tornando-as mais sustentáveis. Na Amazônia, trabalhamos com Unidades de Conservação e parcerias com governos locais e entidades da sociedade civil, integrando gente e natureza. No Pantanal e no Cerrado, o foco são antas e tatu-canastras, sendo que também foi detectada a contaminação por agrotóxicos nas espécies regionais.

Ou seja, em cada bioma os temas variam, mas o foco sempre são sempre as melhorias socioambientais.

A Escas obteve autorização da Capes/MEC para oferecer mestrado profissional em 2008, o que não é nada comum para uma ONG. Já se formaram 160 mestres, 7.000 alunos passaram pelos cursos temáticos e mais de 60 completaram o MBA, que visa inspirar e influenciar positivamente o setor privado com princípios de sustentabilidade.

Essas são as sementes de ipês que vêm florescendo pelo Brasil e pelo mundo. Nosso país conta com uma das mais ricas biodiversidades e, por isso, necessita de gente e projetos como os do IPÊ.

Formar pessoas em diferentes áreas é fundamental porque precisamos de muitos profissionais de diferentes campos do saber que percebam o valor da natureza e de protegê-la. Ao mesmo tempo, é crucial que se valorizem as culturas regionais, trazendo alternativas com ganhos econômicos para quem se envolve em questões socioambientais.

A natureza tem sido tratada como infinita, mas o planeta é finito. E no Brasil se percebe essa mesma tendência, sendo que aqui as perdas são irremediáveis quando as riquezas naturais são perdidas.

É por isso que o instituto trabalha para ser exemplo de que é possível se pensar em ganhos sociais, ambientais e econômicos num desenvolvimento de fato sustentável. Para isso, firmamos parcerias com diferentes setores de governos, corporações e sociedade civil, que mostram que com sustentabilidade todos ganham.

O IPÊ já foi agraciado com mais de 60 prêmios no Brasil e no exterior, que servem para trazer credibilidade e visibilidade às causas que defendemos. Exemplos bem-sucedidos precisam ser disseminados para que inspirem cada vez mais pessoas e, principalmente, tomadores de decisão.

É fundamental que conservação se torne prioridade. O IPÊ é apenas uma organização que visa mudar o cenário de destruição para um de proteção e regeneração.

Quem sabe a moda pega? Se pegar, beneficiará a vida em geral, seja de gente ou de espécies e elementos da natureza. Essa tem sido nossa missão nesses 30 anos. Menos desafios e mais vida longa ao IPÊ e a outras organizações que trabalham em prol da vida.

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