Descrição de chapéu Folha Social+ pantanal

Onça da novela 'Pantanal' é protegida por ONG que reabilita animais

Matí e outras 24 onças, entre elas sobreviventes dos incêndios de 2020, vivem sob cuidados do Instituto Nex

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São Paulo

Em uma das cenas mais marcantes da novela ‘Pantanal’, Maria Marruá (Juliana Paes) se transforma pela primeira vez em onça para espantar a sucuri que ameaça a recém-nascida Juma a bordo de uma canoa. O que a TV Globo não mostrou foi a equipe dentro do rio naquela hora. Eles davam estabilidade para que a canoa não virasse com a onça Matí sobre ela.

O bicho passou seis dias no Pantanal, com direito a camarim, ar-condicionado, veterinários, tratadores e seguranças. Esquema proposto pelo Instituto Nex, que cuida de onças há 22 anos, para as gravações da novela.

onça pintada em cativeiro
A onça-pintada Matí, de três anos, é uma das mais dóceis do Instituto Nex e estrelou a novela 'Pantanal' em 2022 - Catarina Tokatjian

"Matí foi condicionada durante oito meses para cenas simples", conta Daniela Gianni, coordenadora de projetos e atividades do instituto.

"Nadamos muito com ela para a gravação na canoa, apresentamos a tapera, mas onças não podem ser treinadas, não dá para pedir para ela pular na cama da Juma."

A onça-pintada de três anos foi escolhida porque é uma das mais mansas dos 25 animais que vivem no Instituto Nex - No Extinction, criadouro conservacionista localizado em uma fazenda em Corumbá de Goiás, a 80km de Brasília (DF).

"Ela veio de outro criadouro e tem apego, se identifica com pessoas como se fosse gato", diz Daniela. "Em breve não poderemos mais ter esse contato, os instintos vão aflorar, mas é um processo lento senão o animal deprime."

Onças que sofreram sequelas, foram humanizadas ou vítimas de caça e tráfico são as que chegam à ONG. Elas são encaminhadas por órgãos ambientais e passam a viver em recintos como o de Matí, em 140m com passarelas, grutas, lagos e vegetação típica do bioma.

"Ninguém sabia como construir recintos para onças, fomos aprendendo ao longo do tempo", diz Daniela, herdeira de Silvano e Cristina Gianni, que fundaram o Nex na fazenda da família junto com seu primeiro habitante, a onça-parda Pacato.

mulher de cabelos loiros segura filhote de onça preta
Cristina Gianni com filhote reproduzido no Instituto Nex, fundado por ela após ver uma onça em condições degradantes em um zoológico - Divulgação/Instituto Nex

Ela conta que em 2001 a mãe estava em um zoológico em Brasília quando uma amiga bióloga a convidou para visitar um setor extra. Ali ficavam animais que "não serviam" para exposição. Pacato estava em uma caixa coberta com lona, sem poder se movimentar, há quatro anos.

O segundo a ir para a fazenda foi Sansão que, com 22 anos, é a onça-pintada mais velha do mundo em cativeiro. Outros foram chegando. Gavião vivia acorrentado como cartão-postal na varanda de um caçador. Merlin levou um tiro na cabeça e ficou cego. No total, 60 onças passaram pelo Nex.

"Alguns são reabilitados e reintroduzidos na natureza. Outros ficam com sequelas e não podem voltar", diz Daniela.

Caso de Amanaci, que chegou com queimaduras de terceiro grau nas patas, vítima dos incêndios que arderam o Pantanal em 2020. O tratamento durou 78 dias com uso de células-troco, terapia de ozônio e laser. "Ela se recuperou, mas perdeu as garras e não consegue caçar ou se defender."

Neste ano, Amanaci (que significa "Deusa das Chuvas", em contraponto ao fogo) se reproduziu em cativeiro. A ideia é colocar o filhote no lugar simbólico da mãe no Pantanal.

"Para sobreviver em vida livre um dia, ele não poderá ter contato com humanos porque infelizmente somos seus predadores", afirma Daniela Gianni.

onça deitada e sedada com patas queimadas é cuidada por veterinário
Amanaci sob cuidados de veterinários no Nex, após queimar patas em incêndio no Pantanal em 2020 - Cristina Gianni/Instituto Nex

Já Ousado, que também sobreviveu aos incêndios, retornou ao seu habitat e foi responsável pelo nascimento de sete onças.

O objetivo do Nex é recuperar e devolver os bichos para a natureza, mas como nem sempre é possível, o instituto armazena grande quantidade de material genético. "Se a onça for mesmo extinta, temos esse material para repovoar."

onça preta em cativeiro
A onça-pintada de coloração preta Oxóssi tem dois anos e é uma das mais novas do instituto - Catarina Tokatjian

O Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio) estima que haja 1.000 onças-pintadas no Pantanal. Na Mata Atlântica, no Cerrado e na Caatinga, calcula-se em torno de 250 indivíduos adultos da espécie em cada bioma.

"A perspectiva da onça não é boa, estamos lutando contra a ignorância", afirma Daniela. Segundo ela, há cada vez menos lugares saudáveis e preservados para a espécie.

"Temos três onças que ainda não conseguimos soltar por falta de dinheiro", diz Daniela. O processo de soltura chega próximo a R$ 1 milhão.

"Durante três anos, temos que manter equipes produzindo relatórios para órgãos ambientais, tem rádio colar, alimentação, toda a burocracia e os recintos, pois precisamos de pelo menos 1.000m com vegetação dentro."

Daniela diz que o Nex chegou ao seu limite com 25 onças. Elas consomem uma tonelada e meia de carne por mês, a maioria doada por uma empresa alimentícia.

"Quanto mais animais, mais custos e responsabilidades. Às vezes tem batida em cativeiro clandestino, é triste ter que dizer 'não', mas não temos apoio do governo e o Distrito Federal não tem lei de incentivo para animais."

Com a aparição de Matí na novela, Daniela conta que o público tem se aproximado da causa. A espera para visitar a fazenda –atividade que traz recursos para o instituto– é de cinco meses.

"Matí alcançou o coração de muitas pessoas."

onça com mulher loira em cativeiro
Daniela Gianni, conhecida como Danda, lidera a equipe do instituto fundado por seus pais em 2001 - Divulgação/Instituto Nex

Como ajudar o Nex

O Instituto Nex recebe doações de pessoas físicas e jurídicas:
Banco do Brasil
Agência 3413-4
Conta corrente 11689-0
CNPJ: 04.567.090/0001-58
Pix: 04.567.090/0001-58
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