'Saí da bolha em que muitas famílias mantêm deficientes'

Exemplo de inclusão, Jonatan Silva contou com apoio da Turma do Jiló, finalista do Prêmio Empreendedor Social 2022 na categoria Direitos Humanos

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São Paulo

Jonatan Silva de Jesus tem paralisia cerebral e nunca esquece o dia em que conheceu Carolina Videira, da Turma do Jiló. "Eu não conseguia falar. Eu não respirava direito e não conseguia expressar tudo o que eu queria dizer."

A ONG entrou em sua vida no quinto ano, em uma escola de Santana de Parnaíba (SP). Hoje, aos 26 anos, estuda educação física na Unisa e é paratleta, digital influencer e cheio de sonhos, como o de completar um Ironman.

A Turma do Jiló chegou à final do Prêmio Empreendedor Social 2022 na categoria Direitos Humanos e foi recordista de captação de recursos na Escolha do Leitor.

"Minha história dá um livro. Eu nasci aos cinco meses de gestação, com paralisia cerebral, o que afetou a fala, o equilíbrio e a mobilidade. Minha mãe biológica tinha 15 anos e, sem saber como cuidar de mim, me deixou em um circo, em São Paulo. Nunca conheci meu pai.

Jonatan Silva de Jesus, aluno de educação física atendido pela ONG Turma do Jiló - Renato Stockler/Folhapress

Minha avó materna, Nilda, 63, ao ficar sabendo, me resgatou. Devo tudo a ela. Ela deixou o emprego e dedicou a vida para me criar. Esteve comigo em todas as minhas 32 cirurgias de reabilitação.

Batemos o pé para estudar em escolas regulares. Várias vezes quiseram me botar em escolas especiais, mas eu e minha avó insistimos em estudar com crianças sem deficiência.

A Turma do Jiló entrou na minha vida quando eu estava no quinto ano, em uma escola de Santana de Parnaíba (SP). Eles assistiam às aulas comigo e viraram meus amigos. Eu era retraído, tímido. Até nisso eles me ajudaram, a ter mais amizades e a me soltar mais.

Lembro até hoje o dia em que eu conheci a Carola. Eu estava agitado, tentava falar, só que eu não conseguia respirar direito, perdia o fôlego rápido. Carola virou e disse: "Calma, respira devagar. Respira devagar, que você vai conseguir me falar o que quer e eu vou te ouvir".

Parecia ali que ela já me conhecia. Ela identificou que eu precisava de fonoaudióloga, e já fui encaminhado. E pensar que hoje sou até palestrante.

A Turma do Jiló sabia que eu queria estudar como qualquer aluno. Aos poucos, além de irem me ensinando conteúdos, eles foram me mostrando como indicar aos professores o que eu precisava. Também foram adaptando o mobiliário e o material didático da escola.

O mais legal que a Turma do Jiló, minha avó e Santana do Parnaíba fizeram por mim foi me tirarem da bolha que as famílias deixam as pessoas com deficiência. Acham que estão protegendo, mas a gente quer viver como todo mundo.

Sempre me olhavam como estranho. Isso me fez ter medo do que iam achar de mim. A Turma me ajudou a encarar isso, a mudar como eu me via, a aperfeiçoar a minha comunicação. Eles me deram mais voz.

Agora faço faculdade de educação física, na Unisa. Tenho formação em coach, faço atletismo, sou palestrante e estou treinando para o Ironman de Florianópolis em 2023. E a Turma ainda me apoia em tudo o que preciso para estudar. Deram até um computador. A diferença do trabalho deles é o cuidado que têm com as pessoas, o amor pela diversidade. É como um grande abraço."

Conheça os demais finalistas e vencedores do Prêmio Empreendedor Social 2022 na plataforma Social+.

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