'A pandemia nos despertou para apoiar causas', diz diretor do Eataly

Centro gastronômico italiano em São Paulo destina recursos e visibilidade a trans, indígenas e chefs pretos

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São Paulo

Desde a doação de alimentos para a favela de Paraisópolis na pandemia, o Eataly São Paulo tornou aquela ação isolada uma plataforma de responsabilidade social. Passou a apoiar cozinhas comunitárias e projetos em prol das causas trans e indígena.

Estratégia que diferencia o complexo gastronômico, que chegou ao Brasil em 2015 com restaurantes, cafeterias, confeitaria, sorveteria e adega de vinhos, de sua matriz italiana.

"O Brasil foi além dos outros Eatalys. Na Itália, temos laços com pequenos produtores, muitas microempresas de laticínios cresceram conosco", conta Daniel Sebastian Galli, diretor-executivo do Eataly São Paulo. "Aqui a pandemia nos despertou e estendemos nosso apoio a causas que vão além da comida."

Digg Franco e Matuzza Sankofa, fundadores da Casa Chama, com Daniel Galli (ao centro), diretor-executivo do Eataly São Paulo
Digg Franco e Matuzza Sankofa, fundadores da Casa Chama, com Daniel Galli, diretor-executivo do Eataly São Paulo - Alexandre Virgilio

Um deles é a parceria com a Casa Chama, ONG que atua pela qualidade de vida da população trans. Dois jantares beneficentes, sob curadoria da chef Bel Coelho, arrecadaram R$ 86 mil em doações para a entidade, que enfrentou momentos de crise nos últimos dois anos. Outro jantar está previsto para 17 de novembro.

A parceria produziu ainda workshops de gastronomia e empreendedorismo para participantes e beneficiários da ONG e vagas de emprego exclusivas pessoas trans no espaço que fica na zona sul da capital paulista.

"A Casa Chama proporciona ao Eataly um exercício interno, como organização, de fortalecer a diversidade dentro do nosso organograma", afirma João Jaeger, gerente de marketing do Eataly São Paulo.

Experiência vista como inédita na articulação da ONG com empresas. "É um projeto que serve de referência, considerando a dificuldade que encontramos no relacionamento com grandes marcas", diz Digg Franco, fundador e presidente da Casa Chama.

O Eataly também apoiou a Casa 1, espaço de cultura, apoio e acolhimento de pessoas LGBTQIA+. Em 2021, doou R$ 10 mil para a construção de uma nova cozinha no galpão da instituição.

Em 2020 e 2021, foi a vez da causa indígena. A beneficiada foi a Casa do Rio, ONG do Amazonas com iniciativas que contribuem para o desenvolvimento humano e territorial.

Foram R$ 30 mil doados para um projeto de culinária amazônica que capacitou mulheres da floresta. Em março deste ano, algumas das cozinheiras comercializaram produtos no Festival de Páscoa do Eataly.

Ozirene Cardoso da Silva, do coletivo Doce do Tapiri, que veio a São Paulo pela primeira vez, participou do festival com castanhada, doce de goiaba feito no fogão à lenha e geleia de cupuaçu com fruta fresca colhida no sítio.

Oferecer culinária amazônica ao público do espaço italiano foi tão extraordinário quanto trazer um chef de cozinha preto e periférico para cozinhar em festival que também apresentava Alex Atala e Claude Troisgros.

Edson Leite, fundador da Gastronomia Periférica, cozinhou na segunda edição da São Paulo Gastronômica, no Eataly
Edson Leite, fundador da Gastronomia Periférica, cozinhou na segunda edição da São Paulo Gastronômica, no Eataly - Greg Salibian/Folhapress

Foi o que aconteceu em setembro deste ano, quando Edson Leite, fundador da Gastronomia Periférica, cozinhou cortes bovinos com arroz orgânico do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e insumos de produtores de Parelheiros.

"Há trabalhadores pretos e periféricos que fazem a estrutura do Eataly funcionar e é um impacto gigantesco quando chega alguém que os representa para cozinhar na linha de frente", diz Leite, finalista do Empreendedor Social 2022 na categoria Soluções Comunitárias. "Espero que esse movimento continue."

A plataforma de responsabilidade social que abarca essas ações nasceu em 2020, quando a comunidade de Paraisópolis clamou por solidariedade, logo no início da pandemia. Com a trégua do coronavírus, no final de 2021, a doação de alimentos para a ação emergencial se transformou em projeto de inclusão produtiva.

Cozinheiras da favela fizeram cursos no Eataly para fomentar geração de renda através da gastronomia. No Natal naquele ano, o centro gastronômico lançou o Panettone Eataly + Mulheres de Paraisópolis.

Os produtos tiveram 100% da receita repassada para a Associação das Mulheres da comunidade e para o Mãos de Maria, que atua com mulheres em situação de risco na comunidade paulistana.

"O centro gastronômico cria laços mais profundos com o país ao se engajar em questões primordiais da sociedade brasileira", diz Jeff Ares, fundador da consultoria Pedra, que está à frente dos projetos de responsabilidade social do Eataly São Paulo desde 2020.

Em agosto deste ano, o grupo SouthRock adquiriu a operação brasileira do Eataly, que deve retomar um projeto de crescimento pelo país.

Neste ano, a marca também se juntou aos 35 parceiros do Empreendedor Social. O espaço gastronômico abrigou almoço em homenagem aos finalistas da 18ª edição do prêmio, correalizado pela Folha e pela Fundação Schwab, uma das entidades irmãs do Fórum Econômico Mundial.

O almoço reuniu 40 convidados, entre empreendedores sociais e atores de destaque no ecossistema de impacto no país.

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