'Em hipótese alguma foi atentado', diz empresário de Paraisópolis

Disparos teriam sido motivados por presença massiva da polícia nas ruas centrais da comunidade, que recebeu Tarcísio de Freitas para inauguração de unidade educacional nesta manhã (17)

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São Paulo

O candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), não era esperado em Paraisópolis na manhã desta segunda-feira (17) pelos fundadores do Belezinha, startup de impacto social que inaugurava uma unidade educacional com bolsas para cursos técnicos na favela.

Para Wallace Rodrigues, dono do negócio, o que teria motivado o disparo de tiros seria a presença massiva da polícia nas ruas centrais da comunidade.

"Em hipótese alguma foi um atentado contra Tarcísio. Tinha mais polícia e um desconforto, uma tensão, foi uma disputa entre poder paralelo e poder público", afirma.

O candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em evento de inauguração da Casa Belezinha em Paraisópolis
O candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em evento de inauguração da Casa Belezinha em Paraisópolis - Divulgação/Marcos Rosa

O empresário toca o negócio com Mônica Jesus, que mora em Paraisópolis há 22 anos. "Existe uma ética na comunidade e não usariam nosso evento para fazer manifestação política. Temos um trabalho social reconhecido aqui."

Havia perto de 150 convidados na Casa Belezinha, localizada em uma das ruas paralelas ao Baile da Dz7. Um coquetel era oferecido a portas abertas.

"Nossa intenção era a realização de um sonho, que é ter a primeira universidade dentro da comunidade. Colocamos carro de som na rua, amigos chamaram amigos, e nessa apareceu Tarcísio, foi surpresa", diz Rodrigues.

Segundo a assessoria do candidato do Republicanos, ele teria sido convidado para o evento por uma mantenedora do Belezinha.

Perto do meio-dia, quando todos estavam no terceiro andar do prédio, que tem janelas largas, foram ouvidos os disparos na rua. Nenhum atingiu o prédio da universidade. "Ouvimos barulhos, mas não somos experts em tiros. Tentamos nos acolher, alguns abaixaram."

Segundo a equipe da startup, a confusão teria começado a uns 150 metros da Casa Belezinha, com disparos para o alto e, logo depois, houve troca de tiros.

Policiais teriam passado correndo para acessar uma rua próxima, onde fica uma Casas Bahia. "Não teve conotação política ou protesto na frente do prédio", diz Rodrigues.

O empresário também não confirma que os disparos seriam de opositores políticos de Tarcísio, conforme fala atribuída anteriormente a ele. "Não posso correr esse risco, todos vão embora e eu fico aqui, posso morrer por essa afirmação."

Wallace Rodrigues também nega que o candidato do PL teria ido inaugurar a universidade na favela. "Tarcísio não veio lançar o Belezinha, nosso trabalho não é inaugurado por político nenhum, estamos nessa desde 2016."

Questionado sobre os ataques do presidente Jair Bolsonaro, que tem criminalizado a população do Complexo do Alemão (RJ), Wallace diz que a bandeira da violência é preocupante.

"A população pobre tem afetividade pelo PT porque traz história, tem o Bilhete Único, o Bolsa Família. Esses discursos do presidente são violentos e as pessoas estão agressivas nesse momento, independentemente de que lado da ponte você mora."

Um investidor do negócio, nome conhecido e respeitado na Faria Lima que pediu para não ser identificado, afirmou à reportagem que o acontecido está longe de ter motivação política.

"Não houve atentado, o evento estava com mais de duas horas de duração, tudo corria bem. Foi um monte de policial armado, sem necessidade, nas ruas da favela. É fácil ter confusão", afirma.

Gilson Rodrigues, líder comunitário conhecido como prefeito de Paraisópolis, disse em vídeo, direto de Salvador (BA), que não sabia da agenda do candidato na comunidade.

"Não tínhamos conhecimento, mas Paraisópolis tem tradição em receber autoridades, artistas e candidatos por ser uma comunidade pacífica e organizada, com população trabalhadora e honesta."

O evento teve presença de personalidades como Wanderley Nunes, cabeleireiro que apoia as iniciativas de educação do Belezinha. Milhares de mulheres da favela se formaram nos cursos gratuitos oferecidos pela startup.

"Roubaram nossa cena, foi um superesforço e ficamos chateados de que a narrativa que se deu é maior que a da educação", diz Rodrigues.

A Casa Belezinha, que tem parceria com o Centro Universitário Ítalo Brasileiro e pretende oferecer 500 bolsas de estudos para cursos técnicos e universitários em 2023, deve realizar outro evento em breve.

"A equipe da Ítalo Brasileiro é sensível e viu isso como necessidade de expandir bolsas para cursos de cidadania. Eles entenderam o quanto somos vulneráveis de verdade."

Nesta tarde, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, general João Camilo Pires de Campos, afirmou, que é prematura a conclusão de que o evento se tratou de um atentado. "É prematuro dizer isso [se tratar de um atentado] com os dados que temos", disse à imprensa.

Segundo ele, câmeras de segurança de estabelecimentos próximos, imagens de cinegrafistas que acompanhavam a agenda do candidato e de bodycams dos PMs serão usadas nas investigações.

O candidato do PL afirmou no início da tarde, em redes sociais, que sua equipe foi "atacada por criminosos". Mais tarde, em entrevista, mudou a versão.

"Foi um ato de intimidação, um recado claro do crime organizado como ‘a gente não quer você aqui dentro’. É uma questão territorial e não tem nada a ver com a política."

Segundo organizadores, a comitiva do candidato não esteve sob ameaça e ninguém foi ferido. Um homem de 38 anos morreu no tiroteio. Segundo a polícia, ele tinha registro sob suspeita de roubo.

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