Um grupo de 16 pessoas, formado por indígenas, ativistas e jornalistas, foi cercado e hostilizado neste domingo (14) na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, na região de PAD (Projeto de Assentamento Dirigido) Burareiro, em Rondônia.
Segundo as vítimas, cerca de 50 homens mantiveram o grupo sob vigilância por mais de três horas. Alguns deles estavam armados.
Entre as pessoas cercadas estavam a empreendedora social e ativista de direitos humanos Neidinha Surui, a filha dela, também ativista e colunista da Folha, Txai Surui, e o artista plástico Mundano, além de cinco indígenas.
O episódio ocorreu após o grupo tentar iniciar uma obra artística com pintura do solo. A ideia era chamar a atenção para o combate ao desmatamento e à necessidade de demarcação de terras indígenas.
"Fomos cercados por aproximadamente 50 homens. Eles ficavam dizendo que lá era propriedade privada. Fecharam a estrada de um lado e de outro. Não tinha como a gente sair", conta Neidinha. "Eu não tinha me tocado que era uma emboscada."
Neidinha explica que o local é Terra Indígena. Segundo ela, quatro dos homens portavam armas na cintura. Apesar de não terem sido apontadas para o grupo, os homens teriam abordaram os ativistas de forma hostil.
Tinha um que ficava fazendo gracinha, dizendo que estava me dando de presente de Dia das Mães me prender ali
Neidinha classifica o episódio como tentativa de "cárcere privado" e afirma que a investida só terminou depois que ela e Txai citaram leis federais. Ela foi liberada após mais de três horas de discussão com os integrantes do assentamento.
Já Mundano, o jornalista inglês Heydon Prowse, e outros membros da produção foram impelidos a permanecer no local até a chegada de um criador de vídeos, apoiador do grupo.
Localizada a cerca de 250 quilômetros da capital, a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau é alvo de disputa há décadas.
A região foi reconhecida por decreto presidencial em 1991, mas a legislação não é acatada por integrantes do assentamento criado pelo Incra na mesma área.
Produtores rurais atuam na TI há mais de 40 anos sob a alegação de que a Terra Indígena foi demarcada com erros e contestam o direito da Funai sobre o território.
Para Neidinha, muitos dos homens que tentaram intimidar o grupo neste domingo são invasores de terras. Ela diz que um deles reconheceu que não possui título de propriedade emitido pelo Incra.
No Brasil, as ocorrências de invasões a terras indígenas bateram recorde segundo o relatório da CMI (Conselho Indigenista Missionário). Em 2021 foram 305 registros, o maior número em 20 anos.
Após o ocorrido, o grupo ameaçado em Rondônia registrou ocorrência na Polícia Federal.
A Folha não conseguiu contato com integrantes do cerco aos ativistas. Em nota, a a Polícia Federal afirmou que serão adotadas as medidas de polícia judiciária cabíveis e que o caso tramita sob sigilo.
Apesar do susto, Neidinha diz que não pretende parar a luta em defesa dos povos originários. "A gente está pedindo medida protetiva e que eles coloquem policiamento no posto da Funai, porque a situação dos indígenas que estão lá é de perigo. É urgente."
Também no Dia das Mães, mesma data da denúncia de intimidação em Rondônia, um líder do povo indígena Tembé, foi baleado na cabeça no município de Tomé-Açu, no Pará.
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