Claudia Monteiro, 43, diz que desde 2019 dois fatos mudaram sua vida. Primeiro, a descoberta tardia de que a filha Lauryen, 14, tem deficiência intelectual.
O baque do diagnóstico aos dez anos só foi superado ao vê-la brilhar na natação. Só que Lauryen perdia uma semana de treino por mês, sem poder entrar na água, quando ficava menstruada.
"Ela ficava entediada e triste, perdia a evolução até ali", diz a mãe, que logo descobriu o maiô, os biquínis e absorventes reutilizáveis da Herself.
A startup liderada por Raíssa Kist é finalista do Empreendedor Social na categoria Inclusão Social e Produtiva.
Além das peças, a iniciativa transforma presídios femininos em unidades produtivas de bioabsorventes e calcinhas menstruais reutilizáveis, gerando renda e dignidade menstrual para mulheres encarceradas.
A seguir, o relato de Claudia Monteiro sobre a trajetória da filha para seguir na natação paralímpica.
"Tenho três filhas. Lauryen é a do meio. E, desde que ela era pequena, eu via certa lentidão no desenvolvimento. Procurei médicos, que falaram até que era déficit de atenção.
Quando ela tinha dez anos, recebi o diagnóstico de que ela tem deficiência intelectual, num corpo perfeito, hoje com 1,74 m.
Digo que morri naquele dia, um luto para o que eu tinha sonhado. A gente já colocava a Lauryen para fazer esporte devido a crises de bronquite. E foi aí que a Lauryen se descobriu na natação paralímpica.
Ela renasceu ali, um novo sorriso. Ela se sentiu inserida e se desenvolveu muito, tornando-se paratleta das piscinas pela Associação Esporte Mais.
Aí eu pensava como seria quando ela menstruasse. Foi horrível para mim. E, para ela, pior, porque era algo estranho a ela e aquilo a impedia de nadar. Eram três semanas de treinos e uma sem poder entrar na água.
Ela ficava entediada e triste, perdia a evolução até ali. Nem na pandemia ela se sentiu tão mal quanto ficar impedida por estar menstruada.
Eu tinha que fazer algo. Então perguntei a outras mães, e me falaram que o único jeito era dar hormônios que acabassem com o fluxo menstrual. Eu não iria submeter a minha filha, tão nova, a uma bomba de hormônios. Não era possível. E fui pesquisar.
Encontrei marcas, mas não conseguia tocar o produto. Aí a única que era em Porto Alegre, que tinha empresa física, foi a Herself.
Fui até a loja e fiquei maravilhada, né? Porque tinha maiô, a parte de baixo do biquíni, a parte de cima, absorventes reutilizáveis. Eu me apaixonei, porque as moças da Herself me explicaram sobre a menstruação, os projetos nas cadeias e me educaram a dar outro sentido para tudo aquilo.
Menstruação, para mim, era ruim. Era ficar sem ir à escola quando criança, porque não tinha absorventes, era perder dia de serviço e ficar indisposta. E o que ocorria com a Lauryen, então, só piorava essa visão.
Quando vi as opções da Herself, comprei até para mim, que nunca tive algo assim para nadar, no máximo era O.B.
E deu supercerto para Lauryen, que, desde que passou a usar os maiôs tecnológicos, nunca mais ficou fora da piscina e agora nada até em torneios fora do RS. Deu tão certo que Lauryen virou garota-propaganda da Herself.
Foi um sonho, pois isso deu autonomia e autoestima a Lauryen. Ela diz que a natação e os vídeos que grava para a Herself são o trabalho dela. O preço das roupas não é barato, mas se paga pela durabilidade, pois até hoje Lauryen e eu usamos peças da primeira compra, feita em 2020.
Mas falo a todas que, como eu, não tiveram produto tecnológico desse e desconfiam do uso: ele muda a vida. Revolucionou a da Lauryen e a minha. E a nossa menstruação também."
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