60% das mulheres não denunciam violência sofrida à polícia

Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher aponta que 30% das brasileiras já foram vítimas, mas menos da metade denunciou ocorrência

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo (SP)

Seis em cada dez mulheres que foram vítimas de violência praticada por homens não procuraram autoridades de segurança para registrar o crime. A constatação é da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, divulgada nesta quarta-feira (21) pelo Instituto DataSenado e o Observatório da Mulher contra a Violência.

Entre as 21,7 mil brasileiras consultadas, 30% afirmam já ter sofrido algum tipo de violência doméstica ou familiar, e destas, apenas 40% registraram os episódios junto ao poder público.

Foto de ilustração mostra mulher com mãos erquidas em sinal de defesa frente à mão de um homem que simula ato violento
10a edição da pesquisa inaugura o Mapa Nacional da Violência de Gênero, site a ser atualizado constantemente com dados de boletins de ocorrência relacionados - Marcos Santos/USP Imagens

O levantamento traz um cenário inédito sobre a subnotificação desconhecida, situação em que a mulher não nomeia a violência doméstica e familiar como tal, na ausência de exemplos dados na entrevista.

Dentre as brasileiras que, a princípio, responderam nunca terem sofrido violência, 29% se reconheceram vítimas após ouvirem dos entrevistadores explicações sobre os diferentes tipos deste crime. Os exemplos incluíam violência patrimonial e verbal, entre outros.

O estudo inaugura também o Mapa Nacional da Violência de Gênero, uma plataforma online criada com apoio do Instituto Avon e da organização de jornalismo de dados Gênero e Número, com os principais dados levantados. Com atualização constante, o site trará também a série histórica da pesquisa, bem como recortes regionais e étnico-raciais.

Os resultados do mapa serão apresentados em um evento nesta quarta-feira (21), no Senado Federal, em Brasília. O ministro da Justiça, Flávio Dino, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e a procuradora da Mulher do Senado, senadora Zenaide Maia participam do encontro.

"O lançamento desta plataforma interativa é importante para pautarmos políticas públicas e ações focadas no enfrentamento das violências contra mulheres e meninas", diz Daniela Grelin, diretora-executiva do Instituto Avon.

O site reúne informações de cinco bases de dados: Sistema Nacional de Segurança Pública (Sinesp/MJSP), Base Nacional de Dados do Poder Judiciário (DataJud/CNJ), Sistema Único de Saúde (SUS) e a própria Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher.

Entre as aferições do mapa estão os resultados relacionados às fontes de ajuda buscadas pelas vítimas. Segundo a plataforma, 60% das vítimas disseram ter procurado ajuda da família. Outros 45% procuraram a igreja e 42% conversaram com amigos.

Apenas 31% denunciaram em delegacias comuns e 22% foram às Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher. A pergunta permitia a escolha de mais de uma resposta.

Beatriz Accioly, coordenadora da área de parcerias, pesquisa e impacto do Instituto Avon, explica que a baixa notificação formal pode estar relacionada a diferentes fatores.

"A subnotificação pode ocorrer por medo de que o registro na delegacia seja um habilitador de mais violência. Há também uma descrença nas instituições. Sem falar que muitas regiões brasileiras não têm o número adequado de delegacias", diz.

O mapa traz ainda um panorama sobre a Medida Protetiva de Urgência, recurso que visa manter o agressor afastado da vítima. Dentre 27% das respondentes que afirmam ter solicitado o mecanismo, 48% viram o agressor descumprir a ordem.

Para Maria Teresa Prado, coordenadora do Observatório da Mulher contra a Violência do Senado Federal, a pesquisa e o mapa são mecanismos importantes para a busca de mudanças no cenário.

"É um importante instrumento de avaliação de políticas públicas e permite a comparação desses dados com a realidade das mulheres. Os dados mostram não só números, mas dizem respeito à própria vida e experiência das mulheres reais", afirma.

Como parte da iniciativa Todas, a Folha presenteia mulheres com dois meses de assinatura digital grátis

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.