Evento pós-Davos discute desafios éticos e oportunidades da inteligência artificial

Temas centrais do Fórum Econômico Mundial, como novas tecnologias, crise climática, acesso à saúde e à colaboração intersetorial, foram destaques no Download Davos

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São Paulo (SP)

Lideranças do ecossistema de impacto social que participaram da última edição do Fórum Econômico Mundial se encontraram nesta terça-feira (5), na segunda edição do Download Davos, para compartilhar as discussões em destaque no evento anual que reuniu a elite global na Suíça.

O encontro pós-Davos foi promovido por SAS Brasil, Catalyst 2030 Brasil e integrantes da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais, tendo como protagonistas alguns dos membros da delegação brasileira que desembarcou nos Alpes suíços em janeiro.

O tema mais quente —e polêmico— da conversa tanto lá quanto cá foi IA (inteligência artificial).

Para além do potencial da ferramenta para gerar impacto socioambiental, os palestrantes abordaram desafios éticos e práticos envolvendo algoritmos, avanços tecnológicos e mercado de trabalho.

Grupo de sete pessoas sentadas em palco do auditório da Folha
Da esquerda para a direita: Eliane Trindade, Sabine Zink, Adriana Lima, Patrícia Byington, Hosana Silva, Gisela Solymos e Guilherme Rosso painelista desta edição do Download Davos, no auditório da Folha - Divulgação

"Não há nada recebendo mais recursos e atenção do que IA. Subestimamos a transformação gigante que pode acontecer nos próximos cinco ou dez anos", afirmou Claudio Sassaki, mestre em educação pela Universidade de Stanford e cofundador da Geekie, que participou por videoconferência.

Na visão do empreendedor social brasileiro que mediou um painel sobre o tema em Davos, a grande revolução que a tecnologia proporcionará será o surgimento de uma força de trabalho híbrida: "Teremos times compostos por pessoas e robôs, trabalhando de forma conjunta."

Diretamente do Vale do Silício, onde mora atualmente, Sassaki falou de um futuro próximo em que humanos vão conviver com "agentes autônomos incansáveis, flexíveis e adaptativos, que conseguem desenvolver tarefas e construir processos".

Ele também mencionou o papel da Aliança Global para o Empreendedorismo Social, coalizão criada pela Fundação Schwab em colaboração com o Fórum Econômico Mundial: "É uma iniciativa importante, da qual fazem parte empresas de tecnologia que estão desenvolvendo modelos de IA e têm interesse em viabilizar parcerias com empreendedores sociais".

François Bonnici, diretor-executivo da Fundação Schwab, deu as boas-vindas aos participantes do evento por vídeo ressaltando que a plataforma global reúne "uma incrível delegação de empreendedores sociais" de diferentes países para "discutir suas ideias e aprender com o que está acontecendo no mundo".

O líder de inovação social do Fórum Econômico Mundial disse, ainda, que a reunião em Davos evidenciou como o setor privado tem intensificado esforços para apoiar, envolver e desenvolver parcerias com empreendedores sociais.

Desafios da IA

O caminho a ser trilhado até esse cenário de ficção científica que se torna realidade não será simples, na visão de Guilherme Rosso, gerente de inovação do Complexo Pequeno Príncipe.

Segundo ele, o Fórum Econômico Mundial evidenciou como empreendedores sociais têm tido dificuldade para se apropriar de recursos de IA.

"Em Davos, falamos muito sobre dificuldade de acesso à tecnologia. O custo ainda é um obstáculo, e existem problemas de estrutura de armazenamento e de qualidade dos dados", afirmou Rosso, que participou da reunião anual do fórum como Global Shaper, comunidade de jovens lideranças.

Outro ponto ressaltado no Download Davos foi a necessidade de unir empreendedores sociais e setores público e privado para garantir que as ferramentas de IA não estejam acessíveis apenas para grandes empresas de tecnologia ou fiquem restritas àquelas com muito capital.

Sabine Zink, cofundadora e CEO da SAS Brasil, chamou atenção para questões bioéticas envolvendo o uso da tecnologia para aprimorar eficiência e produtividade do ser humano.

Ela compartilhou a experiência de um jantar com Sam Altman, CEO da OpenAI, que graças ao Chat GPT se tornou uma das figuras mais importantes do boom da Inteligência Artificial Generativa no mundo.

"Nesse jantar em Davos, ouvi que relacionamento humano vai ser 'para quem quer'. As pessoas vão se relacionar com a inteligência artificial, que vai poder ter a forma e falar do jeito que elas desejarem", relata Sabine.

Integrante da delegação brasileira a convite da Fundação Schwab, ela chamou atenção também para ausência de diversidade nesse campo, diante do fato de que algoritmos por trás de sistemas de IA ainda são desenvolvidos, em sua maioria, por homens brancos, trazendo respostas enviesadas.

Ampliando acesso à saúde

O Download Davos também forneceu exemplos de como empresas podem atuar em colaboração com ONGs e negócios de impacto para ampliar escala e impacto social, tema do primeiro painel do evento, mediado por Eliane Trindade, editora da plataforma Folha Social+.

Adriana Lima, gerente de sustentabilidade e responsabilidade social na Roche Farma Brasil, e Patricia Byington, gerente de sustentabilidade da Novo Nordisk no Brasil, falaram sobre o papel da iniciativa privada e da importância de parcerias com startups sociais como a SAS Brasil.

"Não basta ter inovação na medicina se não conseguirmos levá-la para quem precisa. Daí o estabelecimento dessa parceria, que nos ajuda a chegar até populações vulneráveis", explicou Lima.

No caso de doenças crônicas graves como o diabetes, o tratamento deve ir "muito além do medicamento", incluindo diagnóstico apropriado e cuidado integral, afirmou Byington.

Elemento relevante na ampliação do atendimento a populações vulneráveis é a telemedicina, que ganhou força com a pandemia.

Dividido em três painéis, o evento realizado no auditório da Folha teve ainda um terceiro painel dedicado a outras temáticas emergentes no Fórum Econômico Mundial, como mudanças climáticas e economia social.

Os temas foram propostos por Gisela Solymos, chair do Catalyst 2030 Brasil, que representou em Davos o braço nacional do movimento global que catalisa colaboração para acelerar a implementação dos ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis).

Ela fez a mediação do painel que contou com a presença da Global Shaper Hosana Silva, que fez sua estreia em Davos neste ano.

A ativista ambiental e apresentadora repetiu suas preocupações quanto à justiça climática. "As pessoas mais prejudicadas pela crise climática muitas vezes nem sabem que estão sendo afetadas por esse processo. É o exemplo de indígenas que têm suas terras contaminadas por mercúrio", pontuou Silva.

Ela listou Amazônia e crédito de carbono como assuntos em alta, enquanto perdas e danos climáticos ainda ficaram de fora da pauta do Fórum Econômico Mundial.

"Como vamos fazer a transição para o carbono zero de forma justa e participativa, com todos os atores interessados sentados à mesa?", questionou.

Ao final do encontro, Guilherme Brammer, fundador da Boomera, fez uma participação em vídeo, em que falou sobre o potencial de crescimento econômico das empresas sociais: "O grande desafio é conseguir traduzir o impacto que geramos na sociedade para indicadores mais palatáveis para o mercado financeiro".

Para Sabine Zink, da SAS Brasil, o objetivo de encontros como esse do Download Davos é que as discussões sobre tecnologia, diálogo com setor privado, fontes de investimento e desafios sociais e climáticos inspirem empreendedores sociais a adotarem mudanças em seu dia a dia.

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