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Fernando Grostein Andrade

Sobre inteligência artificial na economia criativa

Foco da tecnologia deve ser na conectividade, não na criação

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Fernando Grostein Andrade

Cineasta conhecido pelos filmes "Abe" e "Quebrando o Tabu", foi nomeado Young Global Leader pelo Fórum Econômico Mundial; fundador do Estúdio FilmSoul na Califórnia, atua nas áreas de cinema, música e inteligência artificial

Fui convidado pelo Fórum Econômico Mundial para uma conferência sobre inteligência artificial (IA) em São Francisco. Da janela do hotel, o primeiro susto: o carro que passava pela rua era autônomo (não tinha motorista). Onde moro, Los Angeles, os moradores de rua, muitos deles deslocados da gentrificação da meca da tecnologia, São Francisco, se divertem chutando robôs que entregam comida. Aquela frase clichê da publicidade, "o futuro chegou" pode ser substituída por "o futuro é passado".

Minha missão na convenção foi representar duas startups brasileiras: um estúdio brasileiro que fundei chamado FilmSoul, que mistura cinema, música e IA para maximizar impacto social da nova economia criativa e a Inner, da qual sou sócio e que é voltada para criação de conteúdo por soluções de IA, fundada por jovens empreendedores brasileiros (Pedro Salles Leite, Duda Mitelman e Luiz Ferriani Nogueira).

O cineasta Fernando Grostein Andrade - Divulgação

A conferência girou em torno do papel dos governos para regular a IA. É impossível saber a eficácia das políticas atuais, uma vez que é impossível medir o resultado. Se um recurso de autocorreção não precisa de muita regulação, no campo dos remédios a barra precisa ser alta.

O caminho foi uma divertida troca de experiências, de governos, indústria farmacêutica, indústria, redes sociais, software open source, nanotech e até gramática. Conheci uma pessoa interessante de biotecnologia que tinha uma produtora de filmes de terror como hobby. Há lugares onde a IA traz resultados inquestionáveis, como descobrir e baratear um novo medicamento; outros, com sua crueldade invisível, onde a inovação vem acompanhada de apagamento de pessoas e suas famílias na sombra de slogans do "futuro brilhante".

A qualidade dos dados é fundamental para uma boa IA. Como dizia o amigo, "se entra lixo na cabeça, sai lixo", assim como bons critérios e contexto para uma boa filtragem.

As inovações tecnológicas às vezes vêm acompanhadas de "pequenas" catástrofes involuntárias em famílias ou democracias.

Mas qual tamanho entre o círculo do que um humano pode fazer versus o que um robô pode fazer? E o que mais tira meu sono: a questão não é apenas a interação entre chatbots e humanos, mas qual o produto da interação entre robôs sem intermediação humana?

"Crueldade involuntária" deve ser um item obrigatório de uma lista de checagem de qualquer invenção daqui para frente. Venderam um ideal de futuro onde os robôs fazem o trabalho para os seres humanos ficarem livres até para fazer arte, mas com a IA a coisa estava indo para o caminho oposto. Se não fosse a ação dos sindicatos aqui em Hollywood com a greve, os artistas iriam ser empurrados para a marginalização.

Fiz o filme "Quebrando o Tabu", um amplo estudo sobre drogas, entrevistando de dependentes a Fernando Henrique Cardoso, Bill Clinton e Jimmy Carter. Descobri que as artes são um imenso mecanismo de prevenção às drogas, mais eficiente que a cadeia. IA tem que ser inclusiva. Na economia criativa, o foco da IA deve ser na conectividade, não na criação.

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