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Por
que devemos punir os donos de cães
Ao abrir
minha caixa de e-mails, domingo de manhã, me deparei com reclamações
de donos de cachorros, indignados com a coluna publicada naquele
dia, na Folha de S. Paulo, sobre cidadania e fezes caninas.
As cartas foram chegando e se prolongaram até hoje: fiz uma
seleção delas neste site, localizada na palavra
do leitor.
Contei,
na coluna, que tinha chegado de Nova York, dias antes, e trazia
na memória a cena de um indivíduo, no Central Park, usando
uma luva, preocupado em limpar os rastros deixados por seu
cachorro na rua _ cena que ainda não vi no Brasil, onde, mesmo
nos bairros mais requintados, as calçadas são povoadas de
fezes caninas.
Em Nova
York, o dono do cão irresponsável leva uma mordida de R$ 200,
aplicada pela polícia.
Os missivistas informaram que não são relapsos e sempre limpam
as ruas, sujas por seus animais; alguns me chamaram de desinformado
por não conhecer campanhas de conscientização para os donos
de cães e gatos.
Não nego, obviamente, que exista uma minoria (ínfima, diga-se)
de entidades dedicadas a disseminar a idéia rudimentar de
que calçada é um bem público.
As ruas estão imundas por falta de noção de higiene dos donos
dos cães _ e esse fato é revelador de uma péssima mania do
brasileiro.
Criticamos, e com razão, os governantes, por serem ineficientes,
desonestos, sem espírito público. Mas, em geral, não fazemos
nossa parte, colocando a responsabilidade nos "outros", transformados
numa entidade abstrata.
Essa falta de consciência comunitária é umas das razões, entre
tantas, para explicar como umas das economias mais ricas do
mundo gera tanta pobreza.
Não quis, na coluna da Folha, brigar com os donos e seus cachorros.
Mas apenas falar de algo que considero simbólico de nosso
desleixo e impunidade.
São as irresponsabilidades das pequenas cenas do cotidiano
que, somadas, transformam nossa vida num inferno _ essas vão
desde o cão sem limites, passando pelo sujeito que não respeita
a faixa de pedestres ou o cretino que joga lixo no chão.
Se existe uma coisa que me incomoda em São Paulo é a dificuldade
de andar tranquilamente pela rua, sem medo de ser assaltado,
atropelado ou melar o sapato.
Democracia só funciona quando pune do bandido ou político
corrupto até quem suja as ruas.
- Leia a polêmica coluna O professor,
Pitta e o cocô do cachorro
- Leia os e-mails dos leitores
criticando a coluna
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