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Primeiro
emprego requer estratégia federal, diz Pochmann
Cristina
Mori
Equipe GD
A iniciativa para a inserção do jovem no mercado de trabalho deve
partir do governo federal e passar pela distribuição de renda, defende
Márcio Pochmann, professor de economia e pesquisador da Unicamp.
Pochmann lançou, nesta terça-feira, o livro "A Batalha pelo Primeiro
Emprego" (editora Publisher), em que analisa a insegurança e incerteza
da juventude em relação ao mercado de trabalho.
- Desemprego atinge mais duramente os jovens
- Sem emprego, jovem fica sem perspectiva
- Soluções passam por garantia de renda e programas
do governo.
Desemprego
atinge mais duramente os jovens
No livro "A Batalha pelo Primeiro Emprego", Márcio Pochmann, professor
de economia e pesquisador da Unicamp, analisa que o primeiro emprego
e a ocupação juvenil como um todo sofreram com a recessão econômica
das últimas décadas e o enxugamento das empresas no país.
Com base nos dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), Pochmann ressalta que o ritmo de criação de vagas
não foi suficiente para absorver os jovens - indivíduos com idade
entre 15 e 24 anos - que ingressaram no mercado de trabalho. Em
1989, havia 16,1 milhões de jovens ocupados e 1 milhão de desempregados
juvenis. Em 1998, o número de ocupados era o mesmo, enquanto os
desempregados somavam 3,3 milhões.
A taxa de desemprego juvenil aumentou de 5,8% em 1989 para 17,01%
em 1998 (variação acumulada de 194,8%), ao mesmo tempo em que a
taxa de desemprego da população geral pulou de 3% para 9,2%. Isso
indica que o ajuste do mercado de trabalho foi feito em cima dos
jovens.
Mas poderia ser pior. Em 1989, 64,3% dos jovens faziam parte da
PEA (População Economicamente Ativa), o que significa que estavam
empregados ou procuravam trabalho. Este número diminuiu: 62,8% dos
jovens estavam em atividade em 1998.
Caso a proporção tivesse permanecido a mesma, a taxa de desemprego
juvenil teria atingido 19,4% em 1998. De acordo com Pochmann, o
percentual de jovens economicamente ativos tem diminuído no Brasil
porque o tempo de escolaridade aumentou.
Sem
emprego, jovem fica sem perspectiva
Diante do quadro apresentado por Pochmann em "A Batalha pelo Primeiro
Emprego", é justificável o pessimismo do jovem brasileiro quanto
ao futuro, apontado em pesquisa da Unicef relativa a 1999. O Brasil
está em segundo lugar no ranking, atrás apenas da Colômbia.
Sem perspectiva de emprego, a juventude brasileira vem prolongando
sua vida escolar, porém nem sempre em cursos de qualidade, avalia
Pochmann, ressaltando que o diploma universitário não garante mais
emprego como ocorria nas décadas passadas.
Porém, aos que não têm acesso à escola, a criminalidade e o consumo
de drogas são as alternativas para ocupar este "tempo livre".
Outra consequência do desemprego e da precarização da ocupação juvenil,
segundo Pochmann, é o aumento do tempo de permanência na casa dos
pais. Mesmo quando tem filhos, o jovem continua vivendo com seus
pais, pois não possui renda suficiente para viver com sua nova família.
Soluções
passam por garantia de renda e programas federais
Para combater o desemprego juvenil, segundo Pochmann, países como
França e Alemanha retardam a entrada do jovem o mercado de trabalho.
Nestes países, o governo transfere renda às famílias mais pobres,
que precisariam que os filhos trabalhassem para complementar o orçamento.
Pochmann defende que a distribuição de renda através de programas
de bolsa-escola e renda mínima, de modo a prorrogar a entrada do
jovem no mercado de trabalho, é um aspecto importante na solução
do problema no Brasil.
O professor acredita também que iniciativas específicas de geração
de empregos para jovens, como os desenvolvidos pelos governos estaduais
de São Paulo e Rio Grande do Sul, devem ser executadas em esfera
nacional, o que evitaria a migração de trabalhadores jovens de um
Estado para outro.
Os programas precisam ainda ter estratégias diferentes para os diferentes
níveis de formação, avalia Pochmann. Isso porque o desemprego juvenil
atinge mais fortemente a classe média, já que as ocupações de nível
técnico foram as que sofreram mais cortes (vide o setor bancário)
e estes jovens não possuem nem acesso às melhores universidades,
nem aceitam trabalho precário, como os mais pobres.
Livro: A Batalha pelo Primeiro Emprego
Autor: Márcio Pochmann
Editora: Publisher
96 páginas - R$ 14,00
Leia mais:
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