Palestras

Debate: "Relações de poder no Brasil"

Debate: "O Impasse da Academia"


Sergio Paulo Rouanet na Folha

Luiz Costa Lima na Folha

Debate: "Linguagens da Violência"

Palestra com atletas da seleção feminina de basquete


Debate: "A Entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial"

Encontro com Marcelo Bonfá

'Cibercultura: Internet e Transformações Culturais'

Palestra com o historiador José Murilo de Carvalho

Exibição de "Através da Janela"

As três idades do Brasil

Poesia no Brasil


'Esquerda e direita no eleitorado brasileiro'

"Cruz e Sousa - o Poeta do Desterro"

Marilena Chaui na Folha

Palestra dos mesa-tenistas Hugo Hoyama e Lígia da Silva

Cidadania Indígena

'A recusa do olhar'

A greve dos 41 dias no ABC

'A relação entre os países do Oriente Médio além do processo de paz'

José Gil


Voltar à página inicial

Agenda

Arena do Marketing
Com Todas as Letras
Diálogos Impertinentes
Leituras de Teatro
'Revista USP'

Palestras
Pré-estréias

Memória

Fale com a Gente
Círculo Folha
Ombudsman
Economista diz que brasileiro é antropófago
e defende nacionalismo

da Folha Online

Adriana Elias./Folha Imagem
O economista Carlos Lessa, durante o debate e lançamento do livro "Revisão do Paraíso", no auditório da Folha
A perda da identidade nacional brasileira e a separação entre Estado e sociedade foram os temas centrais do debate "Relações de Poder no Brasil", promovido segunda-feira (19/6) pela Folha e pela editora Campus.
O evento contou com a participação da historiadora Mary Del Priore, professora do departamento de história da USP, do economista Carlos Lessa, professor da UFRJ, e de João Cezar de Castro Rocha, professor de literatura comparada da Uerj. O encontro foi realizado às 19h30, no auditório da Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar).
O debate, que teve mediação da jornalista Sylvia Colombo, marcou o lançamento do livro "Revisão do Paraíso", uma coletânea de ensaios escritos pelos debatedores, entre outros autores, e organizada pela professora Del Priore.
A separação entre sociedade e Estado, segundo a historiadora, existe desde o início de nossa história, no século 16. Ela explica que, já naquela época, senhores de engenho e magistrados se beneficiavam da exploração econômica e da burocracia para adquirirem mais poder.
O economista Carlos Lessa afirma que, ao se instaurar a forma republicana de governo, o país sofreu duas graves derrotas, relacionadas ao estabelecimento da ordem e do progresso - o lema da Bandeira Nacional. Ele explica que a ordem republicana no país não está calcada na democracia, mas no isolamento entre governo e povo.
"Quem segura a idéia de progresso", acrescenta Lessa, "não é o vetor civil, mas o vetor militar. O pacto oligárquico é estabelecido sem democracia".
Os livros "Raízes do Brasil", de Sérgio Buarque de Hollanda (1936), e "Os Donos do Poder", de Raymundo Faoro (1958), também serviram de referencial durante o debate. Na concepção de Buarque de Hollanda, o homem cordial é aquele que vive dominado pelas emoções. Isso, porém, não significa que tenha apenas boas atitudes, e sim, que atua de acordo com suas próprias vontades e necessidades, sem parcimônia.
Para o professor da Uerj, os conceitos de Estado patrimonial e de sociedade dividida em estamentos (classes) de Raymundo Faoro remontam ao conceito do "homem cordial" estabelecido em "Raízes do Brasil".
"O homem cordial é violentamente sentimental, violentamente passional", afirma. Para ele, esse é um dos causadores do divórcio entre Estado e sociedade. Como exemplo, cita a vinda da família real para o Brasil, ocasião em que os moradores tiveram que deixar suas casas, demarcadas com as letras PR (Propriedade Real), para abrigar a Corte de d. João 6º.
Alguns momentos do debate foram mais densos. O professor Rocha afirma que a separação entre Estado e sociedade é vista como anormal pelos intelectuais, mas diz acreditar que haja uma tendência a escandalizar esse divórcio, devido ao descompasso entre a teoria dos intelectuais do país e a prática.
Carlos Lessa diz que os brasileiros não estão preparados para se verem às voltas com alguma obrigação, como a de exercer o direito do voto. "Não satanizem o Estado, pois estarão satanizando também a sociedade que os escraviza e, consequentemente, a si mesmos", diz.
Ele lembra que, desde a década de 90, que ele denomina de "era dos Fernandos" ou "Fernandécada" (Collor/90-92, e Fernando Henrique, que é o atual presidente, reeleito em 1998). Acrescenta, ainda, que, na atualidade, o poder está nas mãos de economistas, enquanto, em outras fases da história, já estivera nas mãos até de camponeses ou advogados.
"Hoje, um economista pode até sair do poder, mas é substituído por outro à sua imagem e semelhança". A visão economicista dos problemas, segundo ele, interfere até mesmo na condução das políticas sociais. Para ele, não se pode ver a educação como única forma de resolver problemas.
"Qualificar todo mundo não melhora o emprego de ninguém. Uma sociedade com diferenças reconstrói as diferenças a partir da educação", afirma. Questionado sobre qual seria, então, a possível solução, Lessa defendeu a volta às práticas nacionalistas.
"Aprenda o que é o povo brasileiro, o único que destrói a cultura do 'fast-food' inventando a comida por peso e misturando tudo. Até feijão e sashimi. É antropófago, como definia Oswald de Andrade, na Semana de Arte Moderna, em 1922."
"O povo brasileiro é PhD em sobrevivência. Todos nós, brasileiros, somos prisioneiros da Nação. Porque o mundo globalizado não nos receberá", enfatiza.
João Rocha, no entanto, discorda. "Não somos antropófagos. A noção de antropofagia pressupõe vencer o inimigo, e somos sempre perdedores. Os verdadeiros antropófagos são os EUA, que impõem sua cultura a todos os povos. Nossa sociedade ainda se funda sobre a mentalidade escravagista de exclusão do povo."
(Adriana Resende)

Veja a agenda


 
  Subir

 
 
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.