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Evidente
que estamos na pré-história da informática. Basta lembrarmos a pré-história
do telefone, quando os aparelhos receptores eram do tamanho de uma
mesa de bilhar.
Não havia comunicações automáticas, acessava-se a telefonista mais
próxima geograficamente, esta acessava uma outra e assim, de telefonista
em telefonista, obtinha-se um ruído que vagamente podia parecer
a voz humana. Ligações interurbanas eram marcadas como consultas
ao médico. As internacionais funcionavam como cirurgias, necessitando
de dias de internação.
Com o celular, as coisas ficaram mais fáceis, embora primitivas
ainda. O aparelho, por menor que seja, é um trambolho e as pilhas
duram o que duraram as rosas de Malherbe - que ninguém mais deve
citar: o espaço de uma manhã.
Chegará o dia em que o celular será um botão no relógio de pulso,
movido a quartzo ou material equivalente. Para a frente é que se
anda.
A Internet ainda é uma afronta, um insulto visual. A telinha é atravancada
de pequeninos anúncios de coisas que não quero comprar. No melhor
da festa, surge uma bicicletinha, um carrinho de mão levando flores,
um Papai Noel tocando o sininho.
Invadem o texto, embaralham a já embaralhada rede de toque e acessos
em que estamos concentrados. Além da poluição, da ingenuidade das
ofertas ( todas são grátis e inúteis), muitas vezes entra um vírus
na jogada e aí vai tudo para o brejo, ficamos olhando para a tela
imóvel, cheia de advertências de que fizemos um erro fatal ou cometemos
uma operação ilegal.
Toda vez que recebo um desses avisos, automaticamente olho para
a porta do escritório, para ver se chega um policial para me prender
em flagrante. Ainda não me habituei a essas práticas ilegais, nem
a cometer erros fatais. Todos os meus erros, até então, são circunstanciais,
fáceis de serem perdoados e esquecidos.
Leia colunas anteriores
26/12/2000 - Papo furado
19/12/2000 - Saco cheio de Papai Noel
12/12/2000 - Vidraças
e vírus
05/12/2000 - Sua Excelência, o
Internauta
28/11/2000 - O
pinto e o urso
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