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Domingo, 23 de julho de 2000

O COLUNISTA RESPONDE


Rodrigo Bueno
     


‘‘Me entristece ver mais um brasileiro nas manchetes no exterior sendo flagrado cometendo um ato desonesto. Isto só vem a somar na má fama que o brasileiro carrega. Já sofri discriminação no exterior por ser brasileiro e sei o quanto dói, o quanto fica impossível justificar tudo isto, o quanto é duro ver pessoas olhando com desconfiança para você, a vontade de sumir que dá. Acho que a culpa é de todos nós. Não concordo que o jogador seja colocado nisso como vítima, porque, no caso do Edu, não se trata de um Zé Mané qualquer, e a punição, torço, será exemplar, para todos os envolvidos.’’ Victor Hargrave Alves da Silva, Campinas, São Paulo
As manchetes no exterior realmente não são nada boas para Edu e para os brasileiros, de uma forma geral. Mas Edu não é culpado na história. Como a maioria dos jogadores, ele foi influenciado pelo empresário, que cuidou de toda a sua documentação. A juventude e a ingenuidade do jogador brasileiro, quase tanto quanto a cobiça por milhões de dólares, pesou na história. O equívoco, que gerou o triste episódio no aeroporto de Londres, deveu-se ao experiente empresário Juan Figer. Edu, por sorte, não ficou retido pela polícia britânica. Mas frequenta agora uma ‘‘lista negra’’, que consta em portos e aeroportos da Inglaterra. Quanto ao empresário, nada deve acontecer.

‘‘A propósito da sua coluna ‘‘Caça às Bruxas’’, na qual é comentada a decepção do jogador Edu, cuja entrada na Inglaterra foi impedida pelo Serviço de Imigração britânico ao constatar a falsidade do seu passaporte, é pertinente lembrar a realidade para o estrangeiro na Europa após a União Européia. Somos quase ingênuos na acolhida e na tradicional hospitalidade brasileira aos estrangeiros. As estatais privatizadas com capital estrangeiro e os bancos brasileiros adquiridos por capital alienígena têm seus quadros de executivos agringalhados pela contratação de trabalhadores europeus que assumem os postos de melhor remuneração que eram de brasileiros. Imigrante ilegal no Brasil se estabelece por toda a vida com escassa possibilidade de deportação. Mas um jovem brasileiro, na ilusão de uma melhor remuneração para praticar futebol na Inglaterra, tem de se submeter ao vexame de uma negativa de visto de entrada pelo seu austero Serviço de Imigração ao constatar a falsidade do passaporte português.’’

Didymo Borges, Recife

O quadro é quase esse mesmo, mas no futebol há situações diferentes, em que somos os ‘‘caçadores de bruxas’’. Os jogadores brasileiros são o Primeiro Mundo da modalidade. Atuam em qualquer país, vão aos bandos para o exterior, mesmo os que não têm qualidade, e tiram espaço de trabalho dos estrangeiros em seus países. Em contrapartida, somos extremamemte preconceituosos com jogadores de outros países. Tanto que poucos estrangeiros, proporcionalmente, atuam em nosso país. Com raras exceções valorizamos um jogador ‘‘gringo’’ que atue em nosso futebol. O zagueiro Gamarra, por exemplo, é decantado como o único jogador paraguaio que é ‘‘legítimo’’, o que mostra nossa pouca hospitalidade com nossos vizinhos.


E-mail:
rbueno@folhasp.com.br



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Leia as colunas anteriores:

16/07/2000 - Caça às bruxas
09/07/2000 - Brasil-2018
02/07/2000 - Campeões melhores do mundo
25/06/2000 - Desunião européia
18/06/2000 - A volta dos gols
11/06/2000 - Quanto vale o show?
04/06/2000 - Camisa 10 da seleção
28/05/2000 - Licença para jogar
21/05/2000 - Saem os clubes e entram as seleções
14/05/2000 - "Minhas Desculpas"
07/05/2000 - "Gatos" na Nigéria
30/04/2000 - Presente e Passado
23/04/2000 - Superligas