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Domingo, 30 de julho de 2000

Século brasileiro

Rodrigo Bueno
     
Diego Medina


A vitória do Brasil sobre a Argentina na última quarta-feira foi subestimada por todos. O triunfo tem caráter épico, uma vez que colocou pela primeira vez na história a seleção brasileira na frente da seleção argentina no retrospecto entre os times. Mais que os três pontos nas eliminatórias, bem mais que a recuperação moral da equipe, muito mais que a quebra da invencibilidade do maior rival, os 3 a 1 no Morumbi simbolizam uma superioridade, muito pequena é verdade, do futebol brasileiro sobre o argentino ao longo do século.
Brasil x Argentina é, sem dúvida, o maior clássico do futebol mundial. Na Europa, as disputas são intensas, mas a rivalidade entre ingleses, franceses, alemães, italianos deve-se mais a razões históricas, extracampo. Além disso, a rivalidade é diluída, já que são vários países duelando.
Na América do Sul, com a triste decadência do futebol uruguaio, brasileiros e argentinos cultivaram uma acirrada disputa pelo primeiro posto do esporte.
Jogadores sensacionais, títulos variados com seleções, clubes, equipes juvenis. Em todos os níveis, o equilíbrio foi a tônica.
O retrospecto, altamente favorável aos argentinos nas primeiras décadas, ficou igualado nos últimos anos. O jogo de quarta-feira, o último entre Brasil e Argentina no século, deixou a seleção brasileira com uma ínfima vantagem de uma vitória, contando só jogos entre seleções principais ou todos os confrontos (o Brasil até perde no saldo de gols).
Mas não foram só os números que deixaram o Brasil com leve superioridade. Os próprios argentinos deixaram. Admitem que, mesmo com ótimos times, em ótimos momentos, está cada vez mais difícil para o futebol argentino competir com o brasileiro.
O domínio dos clubes nacionais nas competições sul-americanas nesta década exemplifica bem isso. O Brasil sempre teve mais jogadores, mais clubes, mais chance de revelar talentos. A Argentina sempre resistiu bravamente a essas condições favoráveis ao Brasil e segurou o maior adversário durante longos anos, mas a situação hoje pende, como nunca antes, para o futebol tupiniquim.
No século 21, a Argentina continuará sendo a única seleção que irá gozar do respeito dos brasileiros, a única que irá gerar uma motivação especial nos jogadores e nos torcedores do país. Mas talvez o equilíbrio não seja o mesmo. Comparações entre Pelé e Maradona, símbolos de seus países, hoje parecem até esdrúxulas diante do estado crítico do argentino.
Longe de expressar um sentimento ufanista, torço para que a Argentina continue atormentando o Brasil no futebol. É chato ver o técnico da seleção argentina, Marcelo Bielsa, mostrar conformismo com uma superioridade brasileira, admitir uma vantagem do rival, mesmo que ínfima.
Também é chato, como amante de jogos e disputas imprevisíveis, ver o técnico da seleção brasileira, Wanderley Luxemburgo, se gabar porque venceu quatro dos cinco confrontos que teve com os argentinos, mesmo tendo montado um time só regular até agora.

O Brasil sempre se viu como o país do futebol, mas nunca havia se visto como superior à Argentina, até a quarta-feira passada.


Notas

Olimpíada

Wanderley Luxemburgo tem ótima chance de conseguir o inédito ouro olímpico para o Brasil, mas tem boa chance de desmerecer tal conquista. Os principais adversários do Brasil não devem levar jogadores com mais de 23 anos a Sydney, por pressão da Fifa, da Uefa e dos próprios atletas. Luxemburgo já admitiu não usar ‘‘adultos’’ nos Jogos Olímpicos, mas será o último a abdicar das ‘‘estrelas’’.

Ranking
A seleção francesa continua sendo a melhor do planeta hoje, mas, com os 3 a 1 do Brasil na última quarta-feira, os campeões mundiais e europeus ainda deverão ficar atrás da seleção brasileira no ranking da Fifa (por pouco). Copa-2002 A tabela das eliminatórias permite ao Brasil ser líder ainda no primeiro turno.

E-mail: rbueno@folhasp.com.br



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