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Quarta-feira, 14 de junho de 2000

Não tem pra ninguém

Thales de Menezes
     
Diego Medina


Previsão da semana: Gustavo Kuerten pode e deve terminar o ano como
número um do mundo.
Este colunista ainda está no meio do trabalho de responder todos os e-mails recebidos na semana passada. Agora, uma parte deles, 158 para ser exato, mereceu tratamento prioritário. É a montanha
de mensagens que apontavam como “patriotada” (uma opção light) ou “estupidez completa”
(para escolher uma missiva mais pesada) minha consideração sobre Gustavo Kuerten ser o melhor tenista do mundo, hoje.

A relação do colunista com os leitores é cheia de lances engraçados.
Quando este espaço criticou Kuerten em várias oportunidades, a defesa do tenista foi feita com veemência, vindo de gente que argumentava suas colocações com elegância e também de leitores que acusavam o colunista de ser “mais um frustrado”, “um aventureiro que não entende de tênis” e por aí vai.

Os primeiros meses do ano foram o ápice desse antagonismo com uma parcela dos leitores. Pois bem.
Kuerten evoluiu uma barbaridade. Dá para melhorar ainda mais, é fato, mas, hoje, 14 de junho de 2000, ninguém no terceiro planeta a partir do Sol está jogando mais tênis do que ele.

Nas quatro últimas semanas, isso foi repetido aqui. As reclamações mudaram de lado. “Kuerten não é melhor do que Sampras ou Agassi”, decretaram vários leitores. Sim e não.
Kuerten está longe de ser o Sampras de 1993 a 1997. E também não chega a suplantar o Agassi de dois anos atrás. Mas tênis é momento, e Kuerten está muito melhor do que o Sampras 2000 ou o Agassi 2000. Repito, nos últimos quatro meses ninguém jogou melhor do que ele. E, na dinâmica competitiva do tênis atual, quatro meses é muito tempo.

Depois de o colunista ser chamado até de “Galvão Bueno da raquete”, a coisa piorou nas etapas finais de Roland Garros. As mensagens apontando a esplendorosa forma de Magnus Norman sustentavam que Kuerten não o venceria. “Guga está penando para vencer seus rivais, e o Norman passa por cima deles como um trator. Não há como Kuerten vencê-lo”, escreveu um leitor de 27 anos, numa mensagem que sintetiza muitas outras.

Nem vale a pena comentar algumas, como o leitor que perguntou, após as semifinais, “até onde o Guga pensa que pode chegar com essa bolinha que ele está jogando?”. (!!)

Bem, quatro semanas depois de apontar Kuerten como franco favorito para Roland Garros, seria fácil para o colunista posar de adivinhão e pronto.
Mas, como é regra nesta coluna, o melhor é falar do futuro. E aí,
queiram ou não, tudo leva a crer que a coisa vai melhorar.
Todo esse pessoal que está falando que Kuerten vai cair de produção no segundo semestre está redondamente enganado. Os detalhes técnicos da evolução recente do brasileiro mostram que ele está atacando melhor e controlando as trocas de bola para render mais na partida. São pontos muito favoráveis no jogo em quadra rápida.

Sem contusões, Kuerten terá o melhor segundo semestre de sua carreira profissional. Aquela final de Miami contra Sampras já deu provas de como será o Kuerten nas quadras rápidas. É esperar para ver. Não tem para ninguém.


NOTAS

Equívoco
Atenção, analistas de plantão: é hora de parar de dizer que tal jogador é mais agressivo do que outro porque dá muito mais aces. Ace é algo fortuito, não tem relação direta com jogar no ataque. O que faz o tenista atacar o outro é colocar com mais eficiência o primeiro serviço.
A partir daí ele ataca. E jogar na rede pode ser sinal de atacar mais, mas nem sempre é. Kafelnikov ataca muito mais do fundo de quadra do que muito americano que sobe na rede. Pessoal, calma com os números.

Mais equívocos
Outro problema das análises é a importância dada aos erros não-forçados.
Em todo o mundo, há uma grande contestação na marcação desses erros.
Afinal, se um jogador manda a bola na rede depois de rebater umas 15 vezes naquele ponto, dá para chamar isso de erro não-forçado? Agora que o Brasil vira “país do tênis”, é bom começar a discutir essas coisas.





E-mail: thalesmenezes@uol.com.br



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