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24/05/2004 - 06h06

Sevilha canta ópera "Carmen" ao ar livre

JOÃO BATISTA NATALI
enviado especial da Folha de S.Paulo a Sevilha

O projeto tem os ingredientes de uma superprodução: montar ao ar livre, em Sevilha, a ópera "Carmen", do compositor Georges Bizet (1838-1875), com boa parte dos 16 milhões (R$ 56 milhões) orçados para 1º Festival Internacional de Música de Sevilha.

João Batista Natali/Folha Imagem

Palácio erguido para Exposição Ibero-americana realizada no ano de 1929


Carmen nunca existiu de verdade. Ela nasceu na imaginação do romantismo francês como uma operária espanhola instintivamente livre e lasciva, capaz de despertar paixões e amar com intensidade. "O amor é um pássaro rebelde", canta ela numa de suas mais belas e conhecidas árias.

Seu drama --ela é assassinada ao fim do quarto ato por Don José, amante a quem rejeitou-- passa-se numa Sevilha imaginária, terra de sentimentos paroxísticos, de amores incandescentes.

Foi também em Sevilha que "viveram" outros seres ilusórios que ocupam o primeiro plano na história da ópera. Entre eles, o barbeiro Fígaro, trabalhado por Gioacchino Rossini e também por Wolfgang Amadeus Mozart, e sobretudo Don Juan, ou, em italiano, Don Giovanni, epicentro do mais denso drama jocoso que Mozart escreveu.

Ópera ao ar livre causa certo incômodo aos puristas. Afinal, a voz dos cantores deve ser eletronicamente amplificada, a partir de minúsculos microfones escondidos em seus trajes de cena. Não há a acústica do teatro fechado, que faz reverberar os 80 ou mais decibéis que saem da garganta do cantor em árias e recitativos.

Mas não é algo de propriamente inédito. Em Manaus (sim, aqui no Brasil!) o maestro Arnaldo Malheiro regeu no ano passado um "Pagliacci", de Ruggiero Leoncavallo, na praça São Sebastião, em torno do Teatro Amazonas.

Desta vez, o 1º Festival Internacional de Música de Sevilha, de 2 a 12 de setembro, traz como diferenciais uma segurança reforçada e discreta contra ameaças terroristas e também artistas de altíssimo cachê e um bom renome na discografia erudita.

Vejamos. A orquestra será a Filarmônica de Londres, sob a regência do norte-americano Lorin Maazel, titular da Filarmônica de Nova York. A direção cênica será do cineasta espanhol Carlos Saura ("Cria Cuervos", "Mamãe Faz Cem Anos"). No papel de Carmen revezam-se Olga Borodina, Angela Gheorghiu, Denyce Graves e Ekaterina Sementschuk.

Cantarão o papel de Don José Neil Schicoff, Walter Fraccaro e Nicola Rossi-Giordano. Escamillo, o toureiro que passa a namorar Carmen quando esta se cansa de Don José, será interpretado por Ildar Abdrazakov, Erwin Schrott e pelo veterano Ruggero Raimondi. Por fim, Micaela, ex-namorada de Don José, trará Angela Maria Blasi, Barbara Frittoli e Montserrat Martí.

Cada récita será assistida por 8.000 pessoas em arquibancadas que serão montadas junto a três diferentes cenários naturais de Sevilha. O festival também trará concertos com a Filarmônica de Nova York, regida por Colin Davis, com a Orquestra Nacional Russa, sob a direção de Michail Pletnev, e ainda os solistas Mstilav Rostropovich (violoncelo), Lang Lang (piano), Maxim Vengerov (violino) e duas estrelas conhecidíssimas de quem aprecia um pouco o flamenco, música de origem sevilhana: o guitarrista Tomatito e o cantor José Mercé.

A produção do festival é feita por uma empresa chamada OOS (Opera on Original Site, ou ópera no lugar original), do empresário alemão Michael Ecker. Ele já fez em 1987 uma "Aida", de Verdi, em Luxor, no Egito, no ano seguinte um "Nabucco", também de Verdi, em Israel, e bem depois um "Turandot", de Puccini, na Cidade Proibida, em Pequim.

Seus planos: ficar em Sevilha nos próximos anos para montar ao menos "Fidélio", outro sevilhano, de Ludwig van Beethoven, e "Don Giovanni", de Mozart. Há no repertório lírico cerca de 120 óperas ambientadas na cidade.

Os melômanos que se dispuserem a se deslocar até a Espanha farão um investimento relativamente pesado. Um pacote com três dias da hospedagem mais luxuosa e três espetáculos custa 1.995 euros (R$ 7.629). Uma só noite de hotel modesto e ingresso para assistir a ópera sai por pelo menos 255 euros (R$ 975). Ingressos avulsos custam de 50 a 600 euros e podem ser reservados pela internet (www.sevillafestival.org).

Mas não é apenas a música que estará em jogo em setembro. Será também um pedaço precioso da Espanha, que recém-celebrou em Madri as bodas de um príncipe.

João Batista Natali viajou a Sevilha a convite do Centro Oficial de Turismo Espanhol (SP) e da companhia aérea Iberia.

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