Medo de palhaço, de ficar sem celular e de trabalhar: livro reúne fobias curiosas

'O Livro das Fobias e Manias' também compila manias, como a compulsão por compras, mentiras e até por dançar sozinho

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Cena de It - A coisa

Cena do filme 'It - A Coisa', de 2016 Divulgação

São Paulo

Talvez você conheça alguém sofre de fobia de injeção, glossofobia (medo de falar em público), odontofobia (medo de dentista) e aerofobia (medo de voar), por exemplo. Isso é mais comum do que se pensa, afinal, os medos e desejos sempre fizeram parte dos seres humanos —procurando bem, todo mundo tem um para chamar de seu.

Mas foi só em 1786 que as obsessões e ideias fixas começaram a ganhar nomes e a ser definidas como "fenômenos psicológicos". Antes disso, "fobia" era uma palavra aplicada apenas para se falar de sintomas de doenças físicas, enquanto "mania" definia situações sociais.

Em "O Livro das Fobias e Manias - 99 Obsessões para Entender a Mente Humana" (ed. Intrínseca), a escritora e jornalista inglesa Kate Summerscale apresenta vários medos e compulsões já bem conhecidos, mas também outros bastante curiosos.

Cada verbete tem vários parágrafos (e às vezes várias páginas) de explicação sobre sua descoberta, frequência na população etc. Ao final, a autora apresenta as fontes das suas pesquisas —são 51 páginas mostrando de onde ela tirou as informações. Veja abaixo algumas fobias e manias que fazem parte da obra.

FOBIAS

Ablutofobia (Medo de se lavar)

A autora do livro conta que isso era comum na França no início do século 19, quando muitas pessoas acreditavam que a sujeira era um escudo protetor contra doenças e o cheiro de suor era prova de saúde e vigor sexual.

Acarofobia (Medo extremo de pequenos insetos)

Esta fobia foi identificada pela primeira vez pelo dermatologista francês Georges Thibierge em 1984. Um dado curioso é que ela pode evoluir para a certeza absoluta do paciente de que seu corpo foi tomado por criaturas minúsculas.

Formigas marrons dentro do formigueiro cuidam das pupas brancas da espécie
Formigueiro da espécie 'Crematogaster lineolata', com operárias cuidando das pupas da espécie - Daniel Kronauer/Divulgação

Afefobia e Afemania (Medo de ser tocado e necessidade de tocar as coisas)

Enquanto o primeiro fala de quem tem pânico de que encostem em seu corpo, e foi descoberto pelos médicos franceses Maurice Lannois e Edmond Weill em 1892, o segundo é bem comum em pessoas com transtornos obsessivo-compulsivos, que têm rituais como dar batidinhas nos móveis etc.

Aibofobia (Medo de palíndromos)

Sim, há quem tenha pavor de palavras que podem ser lidas da mesma maneira tanto da esquerda para a direita quanto da direita para a esquerda. Tipo "ovo".

Ailurofobia (Medo de gatos)

A autora traz o depoimento de uma paciente que relatou sentir reações físicas quando está perto de um felino. "Se um gato entra em uma sala em que estou sozinha, sinto como se jogassem água fria em cima da minha cabeça. Meus dentes se cerram com força. Não consigo nem gritar", disse A. Wakenfield.

Bambacofobia (Medo de algodão)

"Algumas pessoas ficam horrorizadas ao ver a maneira como uma bola de algodão fica esponjosa quando espremida, como retorna feito uma mola inchada ao formato original e emite um rangido ao ser desmanchada", escreve a autora.

Claustrofobia (Medo de espaços confinados)

Pode acontecer em salas pequenas, armários, cavernas, elevadores, porões, aviões, túneis, usando máscara, em exames de ressonância magnética e até mesmo usando roupas apertadas.

Coulrofobia (Medo de palhaços)

Essa fobia pode ter nascido entre os anos 1980 e 1990, após uma sequência "surpreendentemente clara de acontecimentos", diz o livro, que envolve o palhaço assassino John Wayne Gacy, que matou 33 pessoas, assédio infantil e o filme "It: A Coisa", baseado na obra de Stephen King.

Emetofobia (Medo de vomitar)

"Os indivíduos que sofrem dessa fobia temem a perda de controle que o vômito acarreta e o nojo que desperta em si mesmos e nos outros", diz a autora. É uma condição mais comum em mulheres (proporção de cinco para um).

Ergofobia (Aversão ao trabalho)

Foi identificada como transtorno em 1905 pelo britânico William Dunnet Spanton, um cirurgião. Ele escreveu o seguinte: "Um ergofóbico era um sujeito que não gostava de nada além de fumar cigarro, ver partidas de futebol e ficar na rua até tarde. O indivíduo avesso ao trabalho passava semanas fora do emprego por conta de uma lesão simples —um dedo esmagado, por exemplo".

Fobia de botões (Koumpounophobia, em inglês)

Steve Jobs, cofundador da Apple, tinha afama de usar suéteres de gola alta porque sofria dessa aversão.

Fobia de urinar em lugares públicos

Conhecida como parurese ou "síndrome da bexiga tímida", é uma condição psicogênica de pessoas cujos esfíncteres uretrais se contraem tanto em banheiros públicos que chegam ao ponto de não conseguir expelir a urina.

Gelotofobia (Medo de ser ridicularizado)

É uma forma paranoica e delicada de fobia social. Os pacientes em geral são atormentados pela sensação de que estão sendo motivo de chacota dos outros.

Nomofobia (Medo de ficar sem celular)

"Os nomofóbicos tendem sempre a ter um carregador à mão a evitar lugares como teatros e aviões, nos quais o uso do celular é proibido. Checam repetidamente seus aparelhos, que mantêm ligados o tempo todo e por perto, até à noite", afirma Kate Summerscale no livro.

Tafofobia (Medo de ser enterrado vivo)

"O psiquiatra italiano Enrico Morselli cunhou o termo para diagnosticar um paciente que temia tanto o enterro prematuro que, em seu testamento, estipulou que seu caixão fosse equipado com uma vela, comida, bebida e um orifício para a entrada de ar", conta a autora.

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Capa do livro 'O Livro das Fobias e Manias - 99 Obsessões para Entender a Mente Humana' - Divulgação

MANIAS

Bibliomania (Amor pelos livros)

O termo foi registrado pela primeira vez em 1734. No livro, a autora mostra que enquanto há quem se veja como "guardião da herança literária", há quem entenda que os bibliomaníacos são "glutões" que acumulam mais do que são capazes de consumir.

Clazomania (Compulsão por gritar)

Não é vista pelos médicos como uma condição clínica hereditária ou genética, mas um sintoma de uma lesão no cérebro.

Coreomania (Compulsão por dançar)

"Em meados do verão de 1374, uma epidemia de danças maníacas se espalhou ao longo do rio Reno e tomou conta da área rural ao redor", escreve a autora no livro. Ela fala de outro surto em 1518, em Estrasburgo, quando uma mulher juntou outras 34 pessoas em seu entorno, todas dançando —ao final de um mês, eram 400 dançarinos.

Dermatilomania (Mania de cutucar a própria acne)

Que atire a primeira pinça quem nunca assistiu aos viciantes vídeos de cravos sendo espremidos na internet. Pois eles têm ligação com essa compulsão aqui, descoberta em 1889 por um dermatologista francês.

Micromania (Visão distorcida do próprio tamanho)

Condição clínica na qual a pessoa acredita que o próprio corpo ou parte dele encolheu. A autora conta o caso do presidente francês Paul Deschanel que, em 1920, se recusou a aparecer em público porque achava que sua cabeça estava do tamanho de uma laranja.

Mitomania (Tendência a mentir e exagerar)

"Os mitomaníacos (ou mitômanos) acreditam nas próprias mentiras ou sabem que são mentiras, mas não conseguem parar de contá-las", escreve Kate Summerscale no livro.

Oneomania (Compulsão por comprar)

Os primeiros estudos sobre este tema em 1990 mostraram que de 2% a 8% da população americana era formada por compradores compulsivos. Mas eles sempre existiram: de 1861 a 1865, a esposa de Abraham Lincoln, presidente dos Estados Unidos, gastou tanto dinheiro redecorando salas da Casa Branca que o Congresso teve que aprovar dois projetos de lei para cobrir as despesas.

Tricotilomania (Mania de arrancar cabelos e pelos)

Estima-se que 2% da população sofram deste distúrbio, que faz com que a pessoa arranque fios de diversas partes do corpo, como cabelos, cílios e sobrancelhas.

O Livro das Fobias e Manias - 99 Obsessões para Entender a Mente Humana

  • Preço R$ 59,90 (livro impresso) e R$ 39,90 (ebook); 320 páginas
  • Autoria Kate Summerscale (tradução de Renato Marques)
  • Editora Intrínseca
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