Diversão clássica de fins de semana chuvosos, jogos de tabuleiro nem sempre são a primeira distração que vem à mente das crianças —ainda mais num mundo cheio de videogames, youtubers e redes sociais.
Mas, agora, o contexto é outro. Com a família toda em casa durante a pandemia, e com os pais em busca de atividades que fujam das telas de celulares e computadores, muitos tabuleiros saíram dos armários.
Foi o que aconteceu na casa da advogada Cristiana Campos, que tem três filhos: João Pedro, de 13 anos, e os gêmeos Felipe e Catarina, de 7. Ela e o marido resolveram resgatar os jogos que andavam esquecidos para ocupar o tempo ocioso das crianças fora dos eletrônicos —liberados para uso só depois das 19h.
Eles ensinaram as regras aos filhos, que aproveitam o período da tarde, depois das aulas virtuais da escola, para jogar. São fãs de War, entre outros. “Quando dá 19h, eles largam o que estão fazendo e vão pro videogame, mas durante o dia têm que arrumar outras coisas para fazer”, conta Cristiana.
Em outras famílias, o costume de jogar já estava presente, mas a frequência aumentou com a pandemia. Simone Bueno, que costumava brincar com o filho Pedro, 7, nos finais de semana, hoje encara pelo menos uma partida por dia.
“De manhã a gente toma café e joga um jogo, e no final do dia outro, se der tempo. Aos sábados e domingos, jogamos mais, ou os mais demorados”, afirma. Pedro sempre demonstrou interesse por jogos e tem aproveitado a quarentena para se aperfeiçoar.
Felipe, 7, e Betina, 10, filhos da engenheira Gisele Moreira, também têm essa expectativa. Enquanto isso, a família se reúne para disputar partidas de jogos clássicos, como Banco Imobiliário, Detetive e Jogo da Vida. As competições começam pela manhã e vão até que alguém vença —nem que seja necessária uma “melhor de 3”.
Apesar do tempo, a rotina imposta pela quarentena nem sempre ajuda. O empresário Henrique Versteeg-Vedana, pai de Emilia, 6, e Matilda, 1, tem tido dificuldade em arranjar tempo para uma rodada. “Tenho jogado menos, pois eu e minha esposa ficamos esgotados ao final do dia, ambos trabalhando de casa, com as duas meninas, comida, louça, etc”, diz.
Simone lembra que chegou a jogar uma partida de Banco Imobiliário enquanto fazia o almoço. “Ele foi jogando o dado e eu fui dizendo que queria comprar. Fui dois em um.”
Na casa de Thiago Queiroz, as sessões são condicionadas pelas sonecas da Maya, de 1 ano. Dante, 7, e Gael, 5, são responsáveis por escolher o título da vez. Os pais se revezam, a depender do trabalho ou dos cuidados com a caçula. Jogadores contumazes, também aumentaram na quarentena a frequência das competições, que passaram a ser diárias.
Thiago, que é criador de conteúdo digital voltado para a paternidade, defende que os jogos de tabuleiro são boas ferramentas para criar vínculos, com o benefício de neutralizar influências externas, como os celulares.
“É por meio do jogo que vamos criar relações saudáveis e positivas com nossos filhos, vamos lidar com a distração, a vitória com respeito a quem perdeu, a cordialidade. É um momento de compartilhar risadas, e faz muito bem para nossa relação”, diz.
Os jogos analógicos, que incluem os de tabuleiro, cartas, e de memória, aumentam sua participação no mercado de brinquedos desde 2016, chegando a representar 9,7% das vendas do setor em 2018, segundo a Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos). Em março deste ano, a busca no Google por “jogos de tabuleiro” no Brasil registrou um pico em relação aos últimos cinco anos.
Os jogos de tabuleiro modernos, como são conhecidos os títulos além dos “clássicos” encontrados em lojas de departamento, são um dos motores deste crescimento. “Quem vai à loja de brinquedos não tem ideia do quanto esse mercado é grande e quanto temos de variedade de mecânicas e temáticas”, afirma Daniel Pitta, dono da loja especializada Pitta’s Board Games, em São Paulo.
Há jogos para cuidar de árvores (Fotossíntese), construir cidades medievais (Carcassonne), sobreviver a ataques zumbi (Zombicide) e até mesmo para superar uma pandemia (Pandemic).
Pitta tem vendido jogos via ecommerce durante a pandemia. Além desse comércio online, algumas editoras de jogos também passaram a disponibilizar jogos para impressão em casa. Títulos como o jogo de adivinhação Dixit, da Galápagos Jogos, um dos mais procurados na loja de Pitta, foram colocados à disposição para download.
“A iniciativa de colocar títulos para impressão surgiu como um jeito de tentar ajudar a superar esse período delicado nos conectando com os nossos entes queridos. Tivemos um engajamento alto e já contabilizamos mais de 100 mil acessos”, afirma Barbara Reis, diretora de marketing e estratégia da Galápagos.
Onde comprar
Pitta’s Board Games
Rua da Mooca, 1601; São Paulo (SP); tels. (11) 94784-2874 e (11) 96495-8336
Entrega: Correios (Sedex ou PAC) ou motoboy
Academia de Jogos
Av. Engenheiro George Corbisier, 170; São Paulo (SP); tel. (11) 3554-3221
Entrega: Correios (Sedex ou PAC) ou retirada na loja
Grok Games
Entrega: Correios (Sedex ou PAC)
Game Vault
Rua das Azaléas, 138; São Paulo (SP); tels. (11) 3796-8942 e (11) 99255-7422
Entrega: Correios (Sedex ou PAC) ou retirada na loja
Ri Happy
Entrega: Na residência ou por delivery (via WhatsApp)
Lojas Americanas
Entrega: Na residência ou retirada em loja
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