Toda vez que entrava em uma livraria, Alfredo prestava atenção às pessoas com o pescoço meio torto, a coluna curvada para o lado, na tentativa de ler os nomes dos livros à venda. Porque, na maioria das lojas deste tipo, os exemplares ficam coladinhos uns aos outros, de pé, enfiados nas prateleiras.
Daí que Alfredo pensou que, quando um dia ele próprio abrisse a sua livraria —e ela seria especializada em livros para crianças e jovens, isso era uma certeza—, ele daria um jeito de ninguém precisar ficar torto nem curvado para conhecer os títulos e autores. Na sua loja, estaria tudo bem exposto, com as ilustrações das capas bem à mostra.
Vai ser nesta semana a realização do sonho de Alfredo, de abrir uma livraria toda voltada aos pequenos leitores. Ele inaugura na sexta-feira (6), no bairro da Pompeia, em São Paulo, a Pé de Livro, que promete ter cerca de 1.500 livros diferentes para atender aos clientes.
Por que esse nome, Alfredo? “Enquanto pai, eu vinha sofrendo e percebendo nos outros pais a dificuldade com o avanço das telas, a gente vinha ficando aflito. Meu filho de oito anos nunca tinha tocado num celular, num tablet, aí veio a pandemia, começou a aula online e ele descobriu os jogos”, explica.
“E aí ficou muito claro que a diferença maior que eu posso fazer é semear o amor pela leitura, que é uma coisa que fica pra vida. Ler me fez ser o que eu sou. Tenho certeza de que o livro não perdeu o poder de sedução, basta apresentá-lo pra criança. E eu entendi que tinha que semear essa relação.”
A sementinha do que agora virou uma árvore-livraria de 50 metros quadrados e um pé direito alto, com quatro metros de altura, nasceu há muitos anos, quando Alfredo Caseiro ainda era uma criança —hoje ele tem 52 anos e se formou jornalista na faculdade.
“Eu cresci lendo. Tinha uma tia que me dava livros, e grande parte do que me tornei eu devo aos livros. Com meus filhos pequenos, a gente não saía das livrarias. Eu até dizia que me negava a comprar qualquer coisa, mas, diante de um pedido deles para comprar livros, eu nunca dizia ‘não’”, lembra.
Alfredo adorava Monteiro Lobato e gostava de ficar criando na cabeça finais alternativos para as histórias do autor. E, além do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, Alfredo também tinha outra leitura favorita: a Folhinha! Pois é, assim como você, que está aqui lendo a Folhinha hoje, ele também curtia as páginas da Folha especiais para crianças.
Camila Mendes, filha de Alfredo, herdou do pai o gosto pelo jornal, e não só passou também a ler a Folhinha, como até escreveu um texto que foi publicado no caderno em 2015. Ela hoje tem 18 anos, e vai trabalhar com Alfredo na Pé de Livro, enquanto também estuda na faculdade de Relações Internacionais.
A nova livraria vai vender alguns títulos pela internet, mas a ideia é que seu diferencial seja um atendimento cuidadoso e uma curadoria criteriosa —ou seja, Alfredo quer escolher e indicar pessoalmente os livros para os clientes. “Quero sugerir coisas preciosas”, planeja.
A poucos dias da inauguração, quando Alfredo conversou com a Folhinha, o ilustrador Rafael Coutinho, filho da cartunista Laerte, pintava uma parede especial no fundo da loja com um desenho seu, inspirado na história do Barão de Munchausen.
“Em quatro metros de altura, ele está fazendo um balão arrastando um castelo. Vai ficar lindo”, comemora Alfredo.
Livraria Pé de Livro
Rua Tucuna, 298, Pompeia. Tel.: (11) 95169-2683. Inauguração 6/8, às 10h. De ter. a sáb., das 10h às 19h.
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