Juros, inflação, impostos, PIB. A jornalista Míriam Leitão, da Globonews, entende de todos esses conceitos de economia, mas ela também sabe muita coisa de outra ciência tão importante quanto essa —a da natureza.
Quase todos os livros infantis de Míriam têm alguma relação com os bichos, as matas, as águas. "Nasci no interior de Minas Gerais. Eu era uma criança que conversava com formiga, e até hoje não consigo viver se não for cercada por árvores", diz.
Ela agora lança sua sétima obra escrita para crianças. "O Menino Que Conhecia o Fim da Noite" (editora Rocquinho, R$ 79,90, 48 páginas) conta a história de uma família que sai, no meio da madrugada, em busca do reencontro com o dia.
Nessa aventura, mãe, pai e os dois filhos pequenos cruzam com uma coruja que fala em versos, uma nuvem que anda preocupada com seu futuro se não houver mais água no planeta, vários índios e muitos outros elementos importantes à vida de todos na Terra.
Sob o olhar de Míriam, todos são sempre muito gentis com os humanos. "Quando converso com crianças, vejo o quanto elas demonstram ter respeito pela natureza, o quanto estão preocupadas com isso", conta.
"Procuro sempre, nas minhas histórias, passar esse amor pela natureza que já está na criança. É regar terreno fértil. Tivemos gerações de muita destruição do meio ambiente, mas hoje temos uma geração muito mais consciente."
Há alguns anos, Míriam comprou uma porção de terra no estado em que nasceu, Minas Gerais, e lá replantou uma mata. "São 34 mil mudas de espécie nativa daquele bioma. Fiz no muque, com meu dinheiro, fomos plantando aos poucos, eu e meu marido. Antigamente o que era um pasto hoje é um bosque."
Lá, ela convive com seus amigos e sua família. Míriam tem dois filhos e quatro netos. "O Menino Que Conhecia o Fim da Noite" é dedicado a Vladimir, primogênito da jornalista, e que hoje tem 49 anos.
Ele estava com a mãe quando ela precisou enfrentar a noite mais escura de todas. "[Essa noite] Foi quando estive numa prisão, grávida do Vladimir. Foi uma noite terrível, mas o final da história é bonito", lembra Míriam.
"O filho nasceu, é um filho maravilhoso que tem sido uma luz desde que chegou. E ele chegou numa noite que parecia que não teria fim, mas teve. Então, o recado é que as noites, mesmo longas, elas acabam."
Alguém que passou por algo tão forte, e que depois construiu uma carreira inspiradora em espaços ainda muito dominados por homens como são o jornalismo e a economia, deve entender muito de coragem.
"Coragem é saber que o medo existe. Não é ausência de medo. É olhar para o medo e falar 'ok, sei que você está aí, mas eu quero superar’. Criança sente medo, claro, e a gente, adulto, tem que fingir que não tem medo, sendo que ele está aqui com a gente", acha Míriam.
"Mas a coragem é olhar pro medo e pensar ‘eu vou vencer você’".
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