Ayrton Senna foi 'espécie de super-herói' em época carente de vitórias, diz especialista

Saiba como o piloto foi importante para a Fórmula 1 e por que ainda se fala sobre ele até hoje

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São Paulo

Houve um tempo em que as manhãs de domingo eram o melhor dia da semana para muita gente —em frente à TV, adultos e crianças se juntavam para assistir às corridas de Fórmula 1, a categoria mais importante do automobilismo, que eram transmitidas pela Globo.

Na pista corriam muitos nomes importantes, mas um esportista brasileiro era unanimidade: Ayrton Senna da Silva. Nascido em 21 de março de 1960, o piloto que foi campeão do mundo três vezes (em 1988, 1990 e 1991) fazia muita gente acordar cedo para torcer pelo país, e era assunto das conversas no fim de semana.

Senna no carro antes da largada do GP do Brasil de 1990 - Jorge Arújo-25.mar.1990/Folhapress

"Ele foi um dos maiores pilotos da história. Os números e as marcas dele são lembradas até hoje no mundo todo", diz Fábio Seixas, jornalista especializado em automobilismo que escreveu sobre o assunto na Folha entre 1999 e 2006, e hoje é colunista do UOL.

Para Fábio, Ayrton Senna foi "uma espécie de super-herói". "E isso em uma época especial do Brasil em que a gente carecia de heróis. Ele foi campeão quando o Brasil não ganhava nada no futebol, e acho que o Senna ajudou a preencher essa carência. Ele era o Brasil que dava certo", diz.

O paulista Chico Landi foi o primeiro piloto brasileiro na Fórmula 1, na década de 1950, mas foi nos anos 1970 que, segundo Fábio, as pessoas começaram a assistir e curtir o esporte no país —nessa época, Emerson Fittipaldi era o principal nome a representar o Brasil, com 14 vitórias na carreira.

"O esporte que o brasileiro mais gosta é ver o Brasil ganhando. E, de 1972 a 1991, o Brasil teve oito títulos mundiais na Fórmula 1. Tinha até uma piada que o Jackie Stewart [ex-piloto escocês] falava que o segredo estava na água que os brasileiros bebiam", brinca Fábio. "As pessoas assistiam às corridas porque existia uma grande chance de ter um brasileiro ganhando", comenta.

Ayrton Senna comemora vitória no GP do Brasil de 1993 - Antônio Gaudério/Folhapress

Ayrton Senna morreu em maio de 1994, em um acidente durante o Grande Prêmio de San Marino, em Ímola, na Itália. Ele bateu em uma curva chamada Tamburello depois que a barra de direção do seu carro quebrou. Foi levado de helicóptero para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos.

O jornalista Fábio lembra que, além do talento com os carros, Senna também tinha sucesso com o público porque "fazia o papel de bom moço" na vida pessoal. "Tínhamos tido outros pilotos brasileiros campeões, mas ele era aquele cara que corria na praia, rezava antes das corridas, se envolveu com causas humanitárias. E namorava a Xuxa", enumera.

À época do acidente fatal, o piloto namorava a hoje apresentadora Adriane Galisteu.

Senna, que vai ser tema de minissérie da Netflix, também esteve próximo do público de crianças fãs de seu trabalho. Poucos meses antes de Senna morrer, surgiu o Senninha, personagem criado pelo publicitário Rogério Martins e pelo desenhista Ridaut Dias Júnior.

Depois da morte do piloto, sua irmã Viviane fundou o Instituto Ayrton Senna, uma ONG que presta assistência a crianças e jovens de baixa renda. "Ele era um cara mais midiático do que os antecessores dele. E isso tudo junto fez dele esse herói brasileiro", acredita Fábio.

A morte de Senna inspirou mudanças importantes no esporte, para deixá-lo mais seguro. Uma delas foi a criação do halo, uma proteção em volta da cabeça dos pilotos, para protegê-los. Além disso, diz Fábio, os circuitos também ficaram mais seguros.

O último piloto brasileiro a correr uma temporada completa na Fórmula 1 foi Felipe Massa, em 2017, quando o esporte já não era tão popular. Uma pesquisa feita recentemente pela Nielsen, no entanto, em mostrou que, em 2021, a popularidade da F1 estava crescendo em dez países, incluindo o Brasil.

Entre o novo público está um grande número de adolescentes na faixa dos 16 anos.

Uma série na Netflix chamada "Drive to Survive", já na quinta temporada, é um indicativo de que de fato pessoas mais jovens estão interessadas no esporte —alguns dos pilotos apresentados no programa já têm canais relevantes na Twitch.

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O personagem ​Senninha não é uma criação de Mauricio de Sousa, como afirmava o texto anteriormente. Ele foi inventado pelo publicitário Rogério Martins e pelo desenhista Ridaut Dias Júnior, que à época trabalhava no estúdio de Mauricio de Sousa, mas fez o projeto de maneira independente. O texto foi corrigido.

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