Musical sobre Jackson do Pandeiro tem instrumentos ao vivo e até de ponta-cabeça

Barca dos Corações Partidos toca canções do artista e faz peripécias enquanto atua; temporada acaba dia 26

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São Paulo

Misturar chiclete com banana é uma ideia bem mais velha do que se possa imaginar, de um tempo muito antes disso virar uma guloseima no mercado ou o nome de uma banda de axé. Veio do título de uma música escrita em 1959, e que virou sucesso na voz de um homem chamado Jackson do Pandeiro.

Jackson nasceu José Gomes Filho, em 1919, na Paraíba. Era filho da Flora, uma cantadora de coco, ritmo típico do nordeste do Brasil. "O coco de roda é uma das brincadeiras de que o Jackson mais gostava. A gente dança batendo os pés no chão, como um sapateado, e mexendo a cintura, dando umbigada", descreve o ator Lucas dos Prazeres.

O ator Lucas dos Prazeres em 'Jacksons do Pandeiro' - Daniel Barbosa/Divulgação

Lucas atualmente é Jackson, e Jackson atualmente é Lucas, na medida em que um dá vida ao outro na peça "Jacksons do Pandeiro", da Barca dos Corações Partidos, em cartaz em São Paulo até o próximo dia 26.

O musical, que tem feito sucesso com as crianças, conta a história do cantor, compositor e multi-instrumentista (Jackson) por meio das histórias do protagonista (Lucas) e de todos os outros muitos atores da companhia.

"Escolhemos também falar de nós, com um pouco de medo de parecer vaidosos, mas achando que era legal as pessoas entenderem que a história do Jackson não é muito diferente da história de muitos brasileiros", explica Eduardo Rios, um dos fundadores da Barca.

Lucas e outros três artistas foram convidados a se juntar ao grupo nesta peça. "A primeira vez em que vi o Lucas já fiquei impressionado, uma pessoa tocando pandeiro e chacoalhando a calça e cantando. Muitos anos depois, tocamos juntos e pude ver para além do músico a pessoa, e me identifiquei muito. Ele é encantador em todos os níveis", declara Beto Lemos, também fundador da Barca.

Embora todo mundo no espetáculo também seja um pouquinho Jackson ao longo do enredo, é Lucas quem literalmente veste a roupa e empunha o pandeiro do mestre para lembrar passagens importantes de sua biografia.

Cena de 'Jacksons do Pandeiro, da Barca dos Corações Partidos - Daniel Barbosa/Divulgação

"Acho que a parte mais difícil da vida dele deve ter sido quando ele machucou o braço e teve que ficar um bom tempo em casa, sem poder tocar. E a parte mais bonita é ver que a brincadeira do coco de roda ele aprendeu com a própria mãe, Flora Mourão", opina Lucas.

Além de "Chiclete com Banana", a Barca toca uma dezena de outras canções de Jackson. Não foi fácil fazer essa seleção, conta Alfredo Del-Penho, fundador da Barca e pesquisador da obra do artista desde 2003.

Quando ainda estava criando o espetáculo com os colegas, ele montou um grupo de WhatsApp e diariamente mostrava lá músicas que achava legais —foram ao todo 435. "Sempre fui encantado com a potência dele, especialmente a maneira dele cantar, as crônicas, os personagens. A riqueza dele é incontestável", diz.

Passaram pela triagem sucessos como "Sebastiana", "Casaca de Couro" e "O Canto da Ema".

Tudo é executado ao vivo no palco, e não por uma banda, mas pela companhia e os artistas convidados mesmo —é esse, inclusive, um dos diferenciais da Barca dos Corações Partidos, que há 11 anos faz peças em que todo mundo não só atua, mas também toca violão, saxofone, violino, contrabaixo e muitos outros.

"Quem passa na Barca não vai passar sem levar nada no seu fazer artístico. É uma coisinha de bagagem, os atores e atrizes convidados vão sair levando na mala uma nova forma de cantar ou um novo instrumento", diz Beto Lemos.

E não é que eles toquem e cantem sentados certinho em cadeiras, ou de pé normalmente na frente do palco. Na Barca, é preciso soprar uma flauta pendurado de ponta-cabeça, ou deitar no chão para atuar no violoncelo.

Beto Lemos toca violoncelo deitado em 'Jacksons do Pandeiro' - Daniel Barbosa/Divulgação

Foi algo que surgiu no espetáculo "Auê", e que vem sendo aprimorado até chegar agora em "Jacksons", que, para Eduardo Rios, é a peça mais complexa nesse sentido que a Barca já fez.

"Somos uma companhia brasileira de movimento e som. E essa virou uma característica nossa, as pessoas ficam esperando para ver qual instrumento vai ter e como vamos tocar", completa Beto.

O espetáculo é dinâmico e tem bastante coisa acontecendo no palco, onde há vários níveis diferentes. As roupas dos artistas são coloridas e brilhantes, e as maquiagens são marcantes.

"Quem nos preparou foi nossa diretora, a tia Duda [Maia]. Ela trabalhou nosso corpo pra que a gente ficasse forte e pudesse brincar por duas horas sem parar. E nós, os brincantes, treinamos muito até o nosso espetáculo chegar ao palco", conta Lucas dos Prazeres.

Antes de Jackson do Pandeiro, em 11 anos de companhia, a Barca já teve como tema, por exemplo, o incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro —essa peça, "Todas as Vozes do Fogo", está em cartaz no Rio até 30 de abril, mas é mais voltada aos adultos.

Ariano Suassuna, do "Auto da Compadecida", também já foi homenageado pela companhia em "O Auto do Reino do Sol", que esteve em São Paulo em 2018 e ganhou três prêmios Shell-Rio (autor, figurino e música), um reconhecimento importante da área do teatro.

O elenco fixo da Barca é formado pelos fundadores da companhia: Adrén Alves, Renato Luciano e Ricca Barros, além de Alfredo, Beto e Eduardo. A cada produção os convidados mudam, e em "Jacksons" eles são Everton Coroné, Jef Lyrio, Luiza Loroza e, claro, o Lucas Jackson do Pandeiro.

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

Jacksons do Pandeiro

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