Humoristas dão dicas para quem quer contar boas piadas e ser mais engraçado

Miá Mello, Porchat, Esse Menino e Raquel Real falam da infância e de como era fazer graça na sala de aula

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A humorista Miá Mello, em sua casa em São Paulo Karime Xavier/Folhapress

São Paulo

Toda turma tem alguém engraçado, e se você não está se lembrando de quem é o engraçado da sua turma, eis aqui a boa nova: pode ser que esse alguém seja você. Muita gente tem o dom de fazer os outros rirem sem nem se dar conta, enquanto outros têm plena consciência do poder que têm sobre a humanidade.

Afinal, ser engraçado ou ter habilidade para contar piadas é algo que aproxima pessoas. Quem não gosta de estar junto de um colega com quem se dá boas gargalhadas até a barriga ficar frouxa e doer?

Na série "The Last of Us", inspirada no jogo de mesmo nome e que exibiu no domingo passado (12) o último episódio de sua primeira temporada, a personagem Ellie (Bella Ramsey) carrega em sua mochila um livro de trocadilhos bobos. Sempre que ela lê um deles em voz alta, sua relação com Joel (Pedro Pascal) fica mais próxima e mais legal, provando que uma piada contada em boa hora é remédio até no apocalipse zumbi.

A Folhinha conversou com pessoas que vivem de fazer graça para saber se eles já se sentiam humoristas desde crianças, se é algo que acham dá para aprender, e se têm dicas para quem quer ser como eles. Leia abaixo os depoimentos de Miá Mello, Raquel Real, Fábio Porchat e Esse Menino.

Miá Mello

Minha irmã mais velha sempre foi muito inteligente, ganhava medalhas, hoje em dia ela é engenheira química. A minha irmã do meio era atleta, fazia ginástica olímpica no centro olímpico. E o que sobrou pra mim? Ser engraçadinha. Tirar sarro. Foi um jeito que achei de me destacar de alguma maneira.

Miá Mello e sua samambaia - Karime Xavier/Folhapress

Na escola eu era engraçada, mas nunca fui aquela pessoa que fez de tudo por uma risada. Eu morria de medo de tomar uma advertência, uma suspensão, minha mãe era bem brava com coisa de escola. Mas eu era bem divertida e estava sempre pensando em quais comentários podia fazer. Eu nunca desrespeitava professor, mas minha mãe era chamada porque eu não sossegava.

Como sempre fui a pessoa divertida da escola e dentro de casa (eu infernizei a vida das minhas irmãs), sempre me senti muito cobrada. Não para fazer piada, mas para estar de bom humor. Hoje, aos 42 anos, me permito muito mais ficar de mau humor, mas, mais nova, não me lembro de me permitir estar neste estado, estava sempre alegre, pra cima, com a energia alta. E isso cansa um pouco.

Quando eu era mais nova, eu não queria ser atriz, queria ser veterinária. Mas eu sempre tive essa paixão por colocar o humor nas coisas. Na minha cabeça, colocando humor nas coisas com certeza o professor ia me dar 10.

Claro que, se você já tem o dom, se sua família te acha engraçado, já é meio caminho andado, mas acho que dá para aprender a fazer tudo na vida. Tudo é uma questão de exercitar, trabalhar esse ofício. Dá para aprender, sim.

Acho que ser engraçado não tem a ver com ser um bom contador de piadas. Até porque o Fábio Porchat, que é umas das pessoas que eu mais acho engraçada no mundo, não sabe contar piada. Contar piada tem a ver com saber contar uma história, guardar um segredo. Às vezes tem gente que vai contar a piada e dá um spoiler, estraga a própria piada.

Acho o humor muito valioso. Ele consegue falar sobre todos os assuntos de uma maneira muito democrática. É um gênero muito difícil de se fazer, tem que ter muita precisão. Fora que humor também tem prazo de validade, uma coisa engraçada hoje pode não ser engraçada amanhã.

Esse Menino

Eu era o aluno engraçado, porém eu gostava de fazer graça só para um grupo seleto de amizades que tinha no fundão. Não gostava de fazer para a sala inteira, até porque minha mãe era muito brava e, se eu atrapalhasse todo mundo, dava ruim pra mim.

Não chegavam a me pedir pra fazer piada, mas, quando acontecia alguma coisa diferente que rendesse, já olhavam pra mim tipo "E aí, cadê, pode brilhar!". Aí eu fazia. Eu amava, achava maravilhoso fazer as pessoas rirem desde muito novinho. Minha especialidade era imitar as professoras e os trejeitos de algumas pessoas que eram mais caricatas, e em fazer comentários muito rápidos.

Humorista Esse Menino - Instagram/essemenino

Eu desde novo tinha essa paixão pela comédia. Não descobri que eu era engraçado, eu quis ser engraçado. Quando eu tinha uns 8 anos, nas festas de família eu já via como meus tios e tias e primas agiam, como eles faziam graça, daí reproduzia isso na escola. E, com uns 12 anos, comecei a estudar comédia mesmo, achei incrível que essa era uma arte que poderia ser estudada.

O que a família disse quando eu resolvi ser humorista eu não posso nem falar aqui porque é palavrão, é coisa feia. Os amigos botaram mais fé, porque viam que existia um potencial. Mas meus pais ficaram preocupados, pensando "Não basta ser artista, quer ser humorista?". Quer dizer, é pedir uma vida complicada. Até que desse certo, e deu.

Tem como aprender a escrever piada, a se portar no palco, aprender o que o público gosta, quais são seus pontos fortes, seus pontos fracos. Todo humorista vai melhorando muito porque vai aprendendo e aperfeiçoando. O que acho que é talento é essa visão de que dá para fazer graça com tudo, até com as maiores dificuldades da vida.

O mais importante é você entender o que faz de melhor. É escrever, é atuar, é pegar o texto de outra pessoa? Use seu ponto forte como carro-chefe e vá aperfeiçoando os outros.

As pessoas mais engraçadas que eu conheço não são humoristas, são pessoas espontâneas, muito doidas, que abrem a boca e falam alguma coisa engraçada sem nem saber. A diferença para quem é humorista é que a gente consegue usar ferramentas para fazer de forma mais bem pensada, conseguimos reproduzir algo várias vezes parecendo que é a primeira.

Hoje em dia é mais ou menos como era na escola: quando rola uma oportunidade, olham para mim. Mas, como é a minha profissão, eu realmente não fico o tempo inteiro me colocando nesse lugar. Senão vira até uma pressão para você ser hilário o tempo inteiro. Quando estou muito no clima eu entrego, e, quando não, fico na minha. Isso pra mim não é mais uma questão, não.

Acho um pouco chato pessoas acharem que eu só faço isso da vida o tempo inteiro, e que não sinto as outras emoções. Tem dia em que a gente está triste, né, tem dia em que está com raiva. É chato, porque as pessoas acham que é só isso de sentimento que tem aqui, e tem muito mais.

Fábio Porchat

Na escola, eu era um aluno muito comunicativo, falava muito, falava a aula toda. Os professores ficavam bravos comigo. Mas, na adolescência, fiquei engraçado. Contava histórias engraçadas, fazia piadinha e a sala toda dava risada. Eu adorava contar piada, então estava sempre fazendo graça.

Descobri que era uma pessoa engraçada na faculdade. Quando entrei, comecei a fazer umas cenas de teatro, de humor, e as pessoas começaram a achar engraçado.

FÁBIO PORCHAT
O ator e humorista Fábio Porchat - Reprodução

Eu disse para os meus amigos e família que queria ser ator, e aí eles me apoiaram, todo mundo me apoiou. Me acharam um maluco, eu ia sair do meu estado, da minha cidade, largar tudo para ir para um outro lugar e fazer aula de teatro. Falaram "Vai nessa, você tem 19 anos, agora é a hora de testar e ver se dá certo". Acharam que era uma onda minha, que não era de verdade, mas apoiaram.

Hoje em dia eles já não me pedem mais para fazer graça, mas eu faço mesmo assim, porque eu sou divertido, gosto de aparecer. Eu conto as histórias para eles e eles dão risada, nem precisam pedir.

Acho que até dá para uma pessoa aprender a ser engraçada. Depende muito de quem você é, se é uma pessoa mais tímida, mais aparecida, uma pessoa que lida de forma mais leve com os acontecimentos. Mas dá para você aprender as técnicas do humor, isso com certeza.

Tem muita gente que dá aula de clown, de palhaçaria, tem aula de coisas cômicas, aulas de stand-up, então tem de tudo um pouco. O pessoal do Doutores da Alegria é o máximo.

Ser engraçado e saber contar piada não são necessariamente a mesma coisa, porque você pode ter só o truque de contar uma piada, porque você tem a pausa boa, mas não necessariamente você é uma pessoa engraçada. Às vezes, você é ranzinza, mas sabe contar aquela piada daquele jeito. Mas dá para ser os dois. Espero que eu seja os dois!

Raquel Real

Sempre fui a engraçada da turma, e por isso muitas vezes eu era expulsa. Dava muita risada, eu era da bagunça. Me dedicava aos estudos, era muito certinha, mas tinha esse lado. Eu soltava piadas como um meio de relaxar e quebrar o clima. Sou assim até hoje. Sou muito branca e fico muito vermelha, daí tento tornar as coisas mais leves. Na faculdade eu passava cada "micão"...

Raquel Real - Divulgação

Sempre foi muito natural. Sou a amiga que as pessoas chamam para animar o clima até hoje. Vou, aconselho e faço uma piada. Não me incomoda, pelo contrário, sempre fiquei muito feliz de ser essa pessoa. Ser engraçada é uma boa qualidade.

Descobri que era engraçada meio tarde, com uns 18 anos, na época da faculdade.

A minha família é mais engraçada do que eu. Herdei essa coisa da comédia sem saber, escutando meus pais fazendo piada. Está sempre todo mundo junto rindo, todo mundo lá poderia trabalhar com comédia.

Meu irmão mais velho é muito sério, carrancudo, ele é o tiozão do churrasco, mas é engraçado do jeito dele. Meus pais são muito fora do convencional, falam muita besteira, e isso os torna engraçados. A gente tira muito sarro um do outro. A comédia passa isso, um alívio para algumas coisas difíceis que a gente está vivendo.

Eu acho que dá para aprender o humor, sim. Às vezes seu lado engraçado não é contar uma piada do Joãozinho, às vezes é como seu corpo se expressa. Depende de como você se olha.

Minha voz, por exemplo, é diferente, fina, tem gente que acha graça, tem gente que acha horrível, e eu aprendi a usá-la de um jeito engraçado. Falar coisas absurdas com uma voz fininha é engraçado. Todo mundo tem um lado, basta explorar e aceitar, e saber rir de si mesmo.

Dicas para contar uma boa piada

Veja como aprimorar sua performance

  1. Foco

    Preste atenção na sua plateia, veja se ela está preparada para aquele tipo de piada que você vai fazer.

  2. Informação

    Leia muitos livros e notícias, veja filmes e séries, e saiba o que está sendo feito de comédia pelo mundo.

  3. Treino

    Escolha uma piada e aprimora-a. Ensaie, conte para as pessoas, entenda-a. Ela vai virar a sua piada carro-chefe, e toda vez que você for contar uma piada, comece por ela.

  4. Um em um milhão

    Se esforce para fazer algo original e se arrisque com coisas novas.

  5. Joio e trigo

    Desapegue do que não funcionou e modifique o que vir que dá para melhorar.

DEIXA QUE EU LEIO SOZINHO

Ofereça este texto para uma criança praticar a leitura autônoma

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.