Animais que fogem de casa correm perigo e fazem tutores sofrer sem notícias

Veterinário fala da importância de pensar acesso à rua e como famílias podem agir no caso de uma fuga

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Amarelo, que fugiu de lar temporário na zona oeste de São Paulo Karime Xavier/Folhapress

São Paulo

Os cachorros Amarelo e Pingo não têm uma casa. Na obra em que eles vivem, na zona oeste de São Paulo, os pedreiros até fizeram uma casinha de madeira para os dias mais frios, mas não é algo que se possa chamar de lar —fora que, nessas ocasiões, Pingo se deita sozinho lá dentro, todo esparramado, e não deixa Amarelo entrar.

Pingo, aliás, manda no Amarelo. Come sozinho os franguinhos que sobram das marmitas dos operários —Amarelo, muito doce, não se importa. Parece saber que Pingo, bem mais velho, precisa de mais carinho, já que um dia teve uma família que o abandonou lá na obra e só foi voltar a ser feliz depois que conheceu seu melhor amigo: ele mesmo, o Amarelo.

Amarelo fugiu porque não queria deixar seu amigo Pingo sozinho na obra em que vivem - Karime Xavier/Folhapress

Na semana passada, uma moça conseguiu um lar temporário para Amarelo morar e esperar por alguém que o adotasse. Ele ficou lá por três dias, e então fugiu. Ficou desaparecido por horas. Várias pessoas ajudaram nas buscas, fotos dele foram compartilhadas, mas não havia nem sinal de Amarelo pelo bairro do novo lar.

Depois de correr oito quilômetros, fugindo, Amarelo chegou de volta à obra. "Acredito que ele tenha voltado por conta do amigo dele, o Pingo", diz Paulinha Miranda, a moça que cuidou de Amarelo. Ela, que trabalha na obra, agora busca alguém legal para adotar os dois companheiros, Pingo e Amarelo, em conjunto.

Pingo, que agora espera por alguém que o adote junto com seu amigo Amarelo - Karime Xavier/Folhapress

"A obra vai acabar e sou eu quem compra ração, coberta e remedinhos para quando eles se machucam, e não quero que eles fiquem lá abandonados", explica, preocupada.

"Toda vez que o Amarelo me vê ele vem com carinha de feliz, abanando a cauda e com um sorriso na fuça. Ele é supercarinhoso, adora carinho na barriga. Ele se joga no chão com a barriga para cima e fica esperando carinho, e fica de olho esperando a hora que dou os petiscos."

arte de um cartaz de adoção conjunta de dois cães
Você quer adotar o Amarelo e o Pingo? - silvis


Fugas como a de Amarelo são mais comuns do que deveriam. Todo mundo conhece a história de algum animal desaparecido, ou que fugiu mas que com sorte já foi encontrado. "Os animais são como crianças e, de modo geral, acabam fugindo por curiosidade, porque querem entender o que tem lá fora", diz o médico veterinário Thiago Corona.

"Por isso precisamos colocar proteções em janelas de apartamentos e cercados nas casas. Assim, ajudamos a diminuir a curiosidade que eles têm pelo outro ambiente. Porque, se eles fugirem, podem não conseguir retornar."

É o caso, por exemplo, do gatinho Artur. Sua tutora Marcela Barbosa o adotou quando ele tinha 6 meses. Em todas as casas em que morou, sempre houve telas de proteção, mas na casa atual Artur encontrou uma brecha entre a tela e uma árvore e passou a sair por ali para passear todas as noites.

"Botei um GPS na colerinha dele e conseguia ver no celular a rota que ele fazia. Um dia, ele voltou sem a coleira. Mas, como ele já parecia acostumado, fiquei mais tranquila", lembra Marcela. No dia 16 do mês passado, ela e a companheira estavam viajando e Artur saiu para nunca mais voltar.

arte de um cartaz de procura-se com gato perdido
Você viu o Artur? - silvis

"Usei todos os truques possíveis para procurá-lo, até conversei com os gatos que moram na rua pedindo para ajudarem. É muito triste não saber se ele está bem e vivo nessa ilusão de que a qualquer hora ele vai aparecer", lamenta Marcela. A outra gatinha do casal, de 10 anos, chora todos os dias esperando por Artur.

Zeca, o gato de Maíra e de sua mãe Andrea Costa, foi adotado depois de muito planejamento, dois anos atrás. "Ele é o filhote da casa, superbonzinho, muito meigo e carinhoso", relata Andrea.

"Ele começou a ir atrás da nossa outra gata, a Edna, nos passeios, e sempre foi e voltou. Mas desde o dia 7 ele não voltou mais", conta. As duas espalharam cartazes e até pagaram uma empresa que prometia ajudar nas buscas por Zeca, mas até agora não tiveram qualquer retorno positivo, só trotes por telefone.

arte de um cartaz de procura-se com gato perdido
Você viu o Zeca? - silvis

"Minha filha está muito triste. Ele andava atrás dela feito um cachorro na casa, e ela achava que ele ficaria com ela a vida toda dele. A gente pôs uma coleira nele escrito 'Zeca', mas ele arrancou a coleira poucos dias antes de desaparecer."

Potter, o gato de Ana Carolina Casalinho, também está sumido. Já são sete dias sem notícias de um dos animais da família, que tem também o gato Rony e a cachorra Paçoca. "O que nos deixa tristes é imaginar que ele possa estar sofrendo, porque ele é um gatinho que já sofreu antes de nós o adotarmos", fala Ana.

arte de um cartaz de procura-se com gato perdido
Você viu o Potter? - silvis

A gatinha John também sumiu, depois de sair de casa no Jardim América, em São Paulo. As gêmeas Rita e Cecília esperam pela sua volta.

arte de um cartaz de procura-se com gato perdido
Você viu a John? - silvis

O veterinário Thiago diz que é preciso pensar com cuidado sobre deixar animais com acesso à rua: "Como eles não têm essa experiência de saber voltar para casa, acontecem muitos problemas de atropelamento, por exemplo. A rua tem muita informação, muitos barulhos, e eles podem sair correndo e não ter o senso que precisam para retornar".

No caso de gatos, ele indica que sejam sempre castrados, ou seja, façam uma cirurgia para não ter filhotes nem vontade de sair para a rua para namorar. Os cães devem sempre passear bastante, para aprenderem a reconhecer a região onde moram.

Thiago ensina que, caso incidentes de fuga aconteçam e os tutores presenciem este momento em que o animal escapa, evitem ficar gritando seu nome. "Senão ele vai achar que é brincadeira e vai correr mais. Tente chamá-lo de forma calma", ensina.

E, se o cão ou gato acabou de sumir, os adultos podem tentar sair à rua com o petisco favorito do bichinho. "Chame o animal pelo nome e faça o barulhinho da comida favorita dele. Pode ser um biscoito na embalagem ou pode ser um sachê", recomenda.

Nas redes sociais, há perfis que compartilham sem custos fotos e dados de animais desaparecidos. Outra alternativa às famílias que estejam passando por essa situação é pedir ajuda na vizinhança e espalhar cartazes nos postes e em estabelecimentos comerciais do bairro.

TODO MUNDO LÊ JUNTO
Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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