Em 1931, ou seja, quase um século atrás, o Brasil usou pela primeira vez um sistema chamado horário de verão. Nele, todos os moradores de estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste atrasam seus relógios em uma hora. Esse acordo coletivo surgiu para ajudar a economizar energia nos meses mais quentes do ano.
"A ideia é fazer com que as pessoas aproveitem mais a luz natural do sol, as horas de dia, durante a primavera e o verão, e demorem mais tempo para usar a luz artificial", explica Joselia Pegorim, meteorologista previsora e especializada em produção de conteúdo sobre assuntos relacionados às ciências atmosféricas.
Joselia diz que o horário de verão ajuda a evitar que a população tenha problemas como apagões ou aquelas faltas de luz rápidas. Como o dia está adiantado em uma hora, na teoria todo mundo vai tanto voltar para casa mais cedo, quando o dia ainda está claro, quanto curtir mais a vida lá fora depois da escola e do trabalho —e isso tudo sem acender lâmpada nenhuma.
"O Norte e no Nordeste não usam o horário de verão porque o horário do nascer e do pôr do sol quase não varia no decorrer do ano nestas regiões", afirma Joselia, sobre o porquê de o acordo não ser adotado no Brasil inteiro.
Quem decide se o horário de verão vai ou não acontecer é o governo do país. Em dezembro de 2017, o então presidente Michel Temer assinou um decreto reduzindo em duas semanas o horário de verão em 2018.
Quando Jair Bolsonaro se tornou presidente do Brasil, ele cancelou o sistema. Em abril de 2019, ele alegou que estava tomando a decisão depois que supostos estudos teriam mostrado que não havia mais economia de energia, e que o organismo das pessoas seria afetado negativamente.
"O horário de verão é muito comum na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo. No Brasil, foi usado pela primeira vez quando o presidente era Getúlio Vargas", diz Joselia.
"Em 2008, quando o Brasil estava sendo governado por Luiz Inácio Lula da Silva, foi criado um decreto que determinou que o horário de verão começasse sempre no terceiro domingo de outubro, e terminasse no terceiro domingo de fevereiro."
Lula é novamente presidente desde janeiro de 2023. O ministério de Minas e Energia de seu governo atualmente diz estar avaliando a volta do horário de verão, mas ainda não chegou a uma definição. Em uma enquete nas redes sociais, as pessoas ficaram divididas.
O horário de verão não muda as condições climáticas nem altera o dia em que uma frente fria vai passar por um lugar, explica Joselia. "Muitos meteorologistas adoram o horário de verão e outros não gostam. Essa mudança forçada da hora dos relógios dificulta a previsão da temperatura", afirma.
Ela diz que, nos primeiros dias de vigência do horário de verão, o trabalho da meteorologia costuma ficar confuso, mas que, depois de algumas semanas, os profissionais se acostumam e fica tudo mais tranquilo.
A meteorologista Joselia tem sentimentos mistos sobre o assunto. "Eu não gosto muito do horário de verão por causa das confusões que ocorrem no trabalho. Mudamos o relógio, mas o sol continua no seu horário normal. Não gosto muito de saber que estou enganando meu relógio biológico. Mas também tenho que confessar que é legal olhar no relógio e ver que são 19h e ainda está claro", diz.
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