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Fim da fome, mais gols que o Neymar e a paz no mundo devem ser notícias no futuro

Crianças dizem o que esperam ver nas manchetes de jornais, e expectativa vai de bandas de K-pop ao fim do trabalho infantil

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Lucas Veloso
São Paulo

Helena C. R., de 7 anos, não tem dúvida sobre qual notícia gostaria de ver no jornal. Ela quer ser prefeita e ver seu nome nas manchetes. "Prefeita cuida das empresas e não estuda", diz, sonhando com a eleição para o cargo daqueles que comandam cidades no Brasil.

Moradora da Cohab 5, em Carapicuíba, na Grande São Paulo, Helena costuma ver o jornal na TV logo cedo, quando o pai liga o aparelho. "Fico entretida", afirma.

Helena, 7, mora na Cohab em Carapicuíba e consome notícias com a família - Karime Xavier/Folhapress

Como espectadora, ela diz que vê no programa muitos atropelamentos e outras notícias ruins, e acha que coisas assim deveriam aparecer menos. Por outro lado, comenta que não maltratar as crianças deveria ser tema importante nos jornais do país.

Contadora de piada, comunicativa, curiosa, falante, brincalhona e inimiga de acordar cedo, Helena também espera que no futuro, os portais da internet, TV e jornais noticiem paz e alegria, além do fim das pessoas más. Neste seu aniversário de 60 anos, a Folhinha perguntou a Helena e a outras crianças o que elas esperam do futuro.

Laura P. L., também de 7 anos, não costuma ver notícias na TV. Quando pode, prefere ver séries, filmes e "Chiquititas". Se pudesse trocar a programação, ela diz que tiraria os jornais e colocaria Vivi, Mosca, Mili e todo o elenco da novela para passar o tempo todo.

Na opinião de Laura, moradora de Guaianases, periferia da zona leste de São Paulo, a aposta dos jornais e TV deveria ser nos melhores brinquedos para as crianças do Brasil. "No tempo livre, gosto de brincar de pega-pega e dormir. Aí, se fosse assim, quando eu acordar, podia assistir isso", diz.

Em Barreiras, interior da Bahia, Jaiza R., 10 anos, vive com a mãe e o pai numa casa perto da roça em que a dupla se reveza no trabalho como agricultores. No quintal da menina há alface, tomate e banana. "Nem preciso sair daqui pra comer as coisas, e meu pai traz quando ele chega também", diz, satisfeita.

Jaiza acha que a fome no Brasil deveria ser a notícia principal dos jornais. "Ninguém podia passar fome", comenta. Além disso, a falta de materiais para estudar, como lápis, caderno e borracha também tinha que ser divulgada.

Ela gostaria de dar uma manchete na primeira página na Folhinha: "Criança não pode trabalhar, só fazer as coisas para ajudar em casa".

"A gente pode lavar louça, varrer a casa também, mas não muito porque precisamos brincar também", explica.

Para o primo de Jaiza, Janderson S., de 8 anos, a principal notícia dos jornais deveria ser que o futebol está liberado para todas as crianças o dia todo. "Minha mãe não deixa a gente ficar jogando bola com meus amigos, mas a gente fica perto da casa, mas não adianta. Ele me chama", reclama.

Ele mora em Salvador, capital baiana. Lá, os rolês de que mais gosta são praia no fim de semana, jogar bola depois que chega da escola e ver vídeos no Tik Tok. Janderson diz que no futuro quer ver nos jornais o fim das guerras, escolas sem matemática —porque "é difícil aprender"— e o Brasil ganhando mais uma Copa do Mundo.

"Podia falar que eu fiz mais gols que o Neymar na Copa também", diz.

Quero um ambiente mais limpo, menos poluição, com pessoas boas. Sem pessoas em situação de rua, que passam fome e pobreza

Tayná, 11 anos

estudante

Em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, as irmãs Tayná e Dandara N. C têm 11 anos. Elas são cuidadas pela avó, conselheira tutelar na cidade, e pela tia. As duas também participam do bloco afro Ilú Obá De Min, composto apenas por mulheres que tocam tambor.

Tayná costuma ver notícias na TV, e diz que gosta mais das que mostram lugares e arte. "Os jornalistas deveriam falar mais sobre pontos turísticos, música, e estilos de moda", afirma. Por outro lado, diz que no mundo, as doenças, a violência, o preconceito e os conflitos no trânsito devem acabar.

"Quero um ambiente mais limpo, menos poluição, com pessoas boas. Sem pessoas em situação de rua, que passam fome e pobreza", completa Tayná, que no tempo livre gosta de dançar, desenhar, cantar, praticar esportes e atividades físicas.

Para sua irmã Dandara, que curte desenhar, tocar piano e ler, no jornalismo, inclusive na Folhinha, o foco deveria ser nos show de música, sobretudo K-pop e sertanejo, além da cultura indígena, "as pessoas negras e as crianças felizes na escola".

Se fosse jornalista por um dia e pudesse noticiar algo, ela já saberia o que fazer. "Escreveria sobre o fim do racismo, da fome e do frio", afirma.

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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