Lápides de antigo cemitério de animais ainda podem ser vistas no Parque Ibirapuera

Pastor alemão Fiel e cão Pinguim foram enterrados perto da atual pista de cooper; espaço foi desativado em 1972

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São Paulo

Pinguim era o cachorrinho de Nina e Nice e vivia com sua família em São Paulo. Não se sabe muito mais a respeito dele, apenas que viveu 9 anos e que, quando chegou sua hora de descansar, ele foi enterrado em um túmulo em um lugar arborizado e bonito da cidade: o Parque Ibirapuera.

A lápide —que é uma pedra ou laje que se coloca sobre uma sepultura— de Pinguim continua lá, em meio a um dos parques mais conhecidos e movimentados da capital paulista. Em um triângulo rochoso cor de tijolo, estão inscritas suas datas de nascimento e morte, março de 1937 e junho de 1946.

pequeno obelisco, mausoléu
Túmulo de Pinguim, um dos dois remanescentes do antigo cemitério de animais que existiu no Parque do Ibirapuera - São Paulo Antiga

O cão Pinguim foi enterrado no cemitério da União Internacional Protetora dos Animais (UIPA), a mais antiga sociedade civil brasileira, fundada em 1895. A UIPA ocupava parte daquela região, que ainda não era tão valorizada nem tão visitada.

Além deste, só sobrou um outro túmulo no local: o do pastor alemão Fiel, marcado por uma cruz de pedra muito grande, que pode ser facilmente vista perto de onde hoje fica o restaurante Selvagem, próximo à pista de cooper entre os portões 4 e 5.

mausoléu em forma de cruz
Túmulo do pastor alemão Fiel, próximo à pista de cooper - São Paulo Antiga

Todas as centenas de sepulturas dos bichinhos foram removidas em 1972, quando a prefeitura de São Paulo tirou a UIPA daquele terreno e a enviou para outro, este ao lado do estádio da Portuguesa, na Marginal Tietê.

"Também tinha sobrado uma escultura maior, feita de bronze, que marcava um túmulo de dois cães de quem não sabemos os nomes. Essa escultura está na UIPA hoje em dia", conta o pesquisador do patrimônio histórico Douglas Nascimento, autor do blog São Paulo Antiga, da Folha, em que conta curiosidades sobre a cidade.

"A área da UIPA tinha 13.200 metros quadrados e envolvia o cemitério, um hospital para animais e o que eles chamavam de asilo, que era uma espécie de um lar provisório para bichinhos que estava para adoção", afirma Douglas.

lápides em cemitério de animais
Uma das alas do cemitério de pets que ficava no terreno onde hoje é o Parque do Ibirapuera - UIPA

O cemitério e o hospital foram inaugurados juntos, em 1929. Atualmente, pouco se tem de registros dos espaços ou das pessoas que mantiveram sepulturas para seus animais de estimação naquele local.

"Não sobrou ninguém daquela época. Muitos registros se perderam, nem mesmo o livro de registros das famílias e dos bichos foi preservado. A saída deles de lá foi muito repentina, foi coisa de um ou dois meses para a completa retirada. Imagino que tenha sido uma correria danada", diz Douglas.

Escultura de bronze com animais
Escultura de antigo túmulo de animal de estimação que ficava no Ibirapuera e foi levado para a sede da UIPA - São Paulo Antiga

O pesquisador conta que o cemitério da UIPA teve inspiração europeia. "Quando comecei a ler sobre o assunto, encontrei uma revista muito antiga que falava que eles tinham usado como exemplo das necrópoles francesas. É um costume francês esse de enterrar os animais de estimação", afirma.

Ele também lembra que há outras cidades pelo mundo em que cemitérios para bichos dividem espaços públicos com pessoas passeando e se divertindo. "Em Boston, nos Estados Unidos, por exemplo, há cemitérios em praças comunitárias", conta.

Desde sua fundação, a UIPA se mantém com doações. Douglas lembra que, na época em que mantinha o cemitério, a frequência e os valores dessas contribuições eram mais altas do que hoje. A reportagem da Folhinha procurou a UIPA por telefone e por email, mas não recebeu retorno da organização.

Atualmente, a cidade de São Paulo conta com locais públicos para onde os tutores podem levar seus animais quando eles morrem, e também cemitérios privados para pets, onde um sepultamento pode chegar a até R$ 2.000.

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