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'Onde Vivem os Monstros' fez autores falarem sobre sentimentos das crianças

Livro infantil eleito o melhor de todos os tempos assustou adultos quando foi lançado e agora instiga conversa sobre criaturas mágicas

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Ilustração do livro 'Onde Vivem os Monstros', de Maurice Sendak Divulgação

São Paulo

No livro "Onde Vivem os Monstros", o menino Max é mandado para cama sem jantar. Sua mãe não gostou do seu comportamento depois que ele vestiu sua roupinha de monstro e deu uma causada pela casa. No quarto, Max então vê crescer uma floresta e brotar um oceano, e sobe em um barquinho que viaja por um ano até chegar ao lugar que os monstros habitam.

Ilustração de "Onde Vivem os Monstros", de Maurice Sendak
Max em seu quarto, sem jantar, depois de ter se comportado mal - Divulgação

Os monstros fazem festa (de um jeito monstruoso) com a chegada de Max, até que ele manda todo mundo se calar. É assim que ele vira o rei dos monstros. Quando esse livro foi lançado, 60 anos atrás, muitos adultos ficaram preocupados: o que um menino que desafia a própria mãe e ainda manda nos monstros poderia ensinar às crianças leitoras?

Será que, por causa de "Onde Vivem os Monstros", todas elas se tornariam rebeldes e revolucionárias? Diante do medo, o livro foi proibido em muitas bibliotecas. "Naquela época, ainda não era comum falar sobre o sentimento das crianças nos livros. Eles serviam mais para ensinar as crianças a fazer coisas", diz Isabel Lopes Coelho, especialista em literatura infantojuvenil e publisher da FTD Educação.

"Mas os adultos perceberam que isso de ser subversivo [rebelde] faz parte da infância e da adolescência de todo mundo. Viram que a viagem que o Max faz de barquinho é uma viagem pra dentro dele mesmo, e que o que ele vive com os monstros é na verdade um jeito de extravasar seus sentimentos."

Pois "Onde Vivem os Monstros" (Companhia das Letrinhas, 48 páginas, R$ 64,90 em pré-venda), do escritor e ilustrador Maurice Sendak, não só voltou às bibliotecas como há pouco mais de um mês foi eleito o melhor livro infantil de todos os tempos. Isabel recomenda, aliás, atenção especial aos desenhos da obra.

"Se vocês repararem bem, o livro começa com o texto na página da esquerda e as ilustrações na página da direita. E, à medida que o Max vai saindo do quarto dele, que o quarto vai se tornando uma floresta e o Max pega o barquinho, a área onde está o texto vai ficando pequenininha e a ilustração vai crescendo", aponta.

"Então, a ilustração sai de um quadradinho, vira um quadrado maior, ainda maior, até que toma a página inteira da direita. Depois começa a avançar para a página da esquerda, e aí o ápice se dá quando o Max é feito rei de todos os monstros e ele fala 'Agora vamos à bagunça geral!', e isso quer dizer que ele se tornou um deles e aí não precisa mais de palavra, só de bagunça."

Ilustração de "Onde Vivem os Monstros", de Maurice Sendak
A bagunça de Max com os monstros - Divulgação

Sem texto, o leitor vê que ninguém precisa da palavra, só dos rugidos e das danças.

Valentina tem 12 anos e ganhou "Onde Vivem os Monstros" quando tinha 5. Aos 7, já lia a história sozinha. "Acho que quando o Max chegou na ilha e viu que já era o rei, já tinha conquistado tudo, ele deve ter ficado com saudade da família. Então provavelmente ele se arrependeu de ter brigado com a família dele", afirma.

Ela lembra que, no primeiro contato com o livro, ainda pequena, sentiu medo da aparência dos monstros, mas depois se acostumou com eles. Para ela, o autor não deve ter desejado assustar os leitores "de propósito".

Valentina acha "bem justa" a premiação do livro como o melhor de todos os tempos, e pensa que ele pode passar uma mensagem também para os adultos. "Acho que eles podem aprender a ser mais delicados com os filhos e a não magoar tanto", afirma.

Esse retorno de Max para casa depois da bagunça de que Valentina fala vem mesmo da saudade que ele sente, despertada pelo cheirinho de comida que o faz lembrar que há um lugar em que ele é amado. E Isabel sugere que se preste atenção no caminho inverso que as ilustrações fazem. "Elas vão diminuindo de espaço e o texto vai ganhando novamente", diz.

No fim das contas, o que se percebe dos monstros que dão nome ao livro é que eles são representações dos sentimentos do menino Max. Por isso que eles são bem diferentes uns dos outros em seu comportamento. Tem o desconfiado, o sabido, o carente, o travesso…

E, pensando sobre essas criaturas tão fascinantes e universais, a Folhinha convidou algumas crianças para opinar não só sobre onde vivem os monstros, mas também o que comem, qual comida detestam, se visitam as pessoas etc.

Flora C. V. C., 6 anos, acha que os monstros moram mesmo na floresta, como os do livro de Maurice Sendak. "Eles gostam de comer cenoura, e adoram pipoca e falam inglês, e sempre vão embaixo da minha cama pedir pipoca. Eles falam 'popcorn!'. Eles detestam pimenta. Alguns são do mal, e alguns, não", diz.

Madalena P. C., 5 anos, nunca viu um monstro, mas sabe que eles moram no escuro porque "não enxergam na luz". "Eles comem carne, mas não carne de pessoa, carne de animal. E eles detestam plantas e vegetais", afirma.

Para ela, alguns monstros são maus, e os que não são "comem salada". "Eu acho que só os adultos conseguem ver os monstros. Porque eles ficam acordados, ficam um pouquinho mais ativos que as crianças", completa.

Eles vêm umas nove horas da noite. Eles gostam de comer comida estragada e detestam tomate e banana. Eu gosto de qualquer comida, menos mamão. Eles com certeza são do mal, a maioria. Só criança que vê monstro. Os monstros têm medo dos adultos

Érico, 4 anos

gosta de tudo, menos de mamão

Sua irmã gêmea Olga P. C. conta que os monstros moram no cemitério "porque eles gostam de fantasmas que ficam embaixo da terra". Nas vezes em que visitam os humanos, diz Olga, eles se escondem nos armários e nas gavetas.

"Ele tem dez cabeças, sete corpos, e dez caudas, e 11 olhos. E mil pedras. Ele é cinza. Come pessoas, carne e cachorrinhos fofinhos. Eles têm dentes afiados e um rugido horrível. Só as crianças conseguem ver os monstros. Porque os adultos sabem direitinho que monstros não existem", diz.

Para Érico C. R., 4 anos, os monstros só vêm à cidade no Halloween. Nos outros dias, ficam em suas tocas "bem grandes". "Eles vêm umas nove horas da noite. Eles gostam de comer comida estragada e detestam tomate e banana. Eu gosto de qualquer comida, menos mamão. Eles com certeza são do mal, a maioria. Só criança que vê monstro. Os monstros têm medo dos adultos", conta.

Sofia D. D., 2 anos, já viu um monstro. Ele era verde e muito grande. "Eles visitam a gente de ônibus. Eles comem insetos e são do mal porque eles dão susto assim, ó, 'bu!'. Só as crianças veem os monstros, porque eles gostam de dar susto."

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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