Descrição de chapéu Natação

Brasileira nada 60 km em 23 horas no mar e resiste ao cansaço e a queimaduras

Aos 49 anos, Leleca é a primeira mulher a completar essa travessia na Bahia; crianças também podem aprender nado em águas abertas

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São Paulo

Troque os azulejos pela areia, o cloro pelo sal e as paredes brancas por um horizonte infinito: eis a receita do nado em águas abertas, esporte em que os atletas praticam a natação no mar em vez da piscina. "Se é de noite, ainda dá para ficar vendo as estrelas", completa Alessandra Penariol Melo. Leleca, como é chamada pela família, acaba de completar uma travessia de 60 km no litoral da Bahia. Tudo isso aos 49 anos, e nadando por 23 horas e 20 minutos, sem parar.

A nadadora Alessandra Penariol Melo (a Leleca), que fez uma travessia de 60 km no litoral baiano - Sandra Midlej

Teve gente apelidando Leleca de "a Nyad brasileira". Isso porque um filme lançado no fim do ano passado, e que agora concorre ao Oscar, mostra a história da americana Diana Nyad, que fez uma travessia de mais de 160 km aos 64 anos. As histórias das duas, Leleca e Nyad, são grandes feitos do esporte registrados por mulheres, e vem daí a brincadeira.

O trajeto de Leleca, percorrido em 18 de janeiro, ia de Salvador até Morro de São Paulo. Ela foi a primeira mulher a completá-lo. Não bastassem os muitos quilômetros de distância, ela ainda cruzou sem querer uma colônia de caravelas, organismos que vivem no mar e têm tentáculos com substâncias químicas que queimam quem encosta neles. "Fui queimada da testa ao tornozelo", conta Leleca.

Ao longo dos dois anos em que treinou para fazer essa travessia, ela já tinha sofrido queimaduras dessa natureza, mas geralmente eram só uma ou duas, e não dezenas. O problema causou em Leleca não só uma dor muito forte, mas também uma alergia (que fez seu rosto inchar) e um tremendo enjoo.

Leleca passou mal por uma hora inteirinha. Sabe o que ela fez? Nada —ou melhor, nadou! É que nas travessias profissionais, quando se quer fazer um registro oficial daquela performance, os atletas não são autorizados a sair da água por nenhum motivo. Se saem, são desclassificados.

Daí que Leleca tomou seus remédios nadando, suas vitaminas nadando, sua água fresca nadando…E fez xixi nadando, descansou nadando (boiar de barriga pra cima é permitido, olha que sorte), e fez tudo nadando ao longo de quase um dia inteiro, só para realizar seu grande sonho.

Não são só os adultos que podem praticar o nado em águas abertas. Na escola Cardume do Marcinho, por exemplo, no Rio de Janeiro, crianças a partir dos 2 anos de idade já podem ter aulas com o professor Márcio Nascimento. A única exigência é que o aluno já saiba falar, para poder se comunicar bem enquanto aprende.

As lições acontecem em praias sem ondas ou com ondas fracas, explica Marcinho. "A escolha do lugar é muito importante, assim como o uso de artigos esportivos flutuantes e coloridos. Também é preciso sempre ter a supervisão de algum adulto que saiba nadar e tenha alguma experiência com o mar", diz. "Sem esses cuidados, pode se tornar perigoso."

Embora sua escola fique numa praia, Marcinho afirma que mesmo quem mora em cidades sem mar pode ser um praticante do nado em águas abertas. Crianças que curtem nadar e que curtem as águas salgadas podem pedir aos responsáveis que as inscrevam em escolas litorâneas para ter aulas aos finais de semana.

A hoje engenheira e atleta Leleca, por exemplo, aprendeu a nadar com o pai, que é ex-nadador profissional. Ela e as duas irmãs começaram a praticar ainda bebês, antes mesmo de andar. As três nasceram em São Paulo, na capital, onde o mar mais próximo fica a muitos quilômetros de distância. Por isso, Leleca virou "nadadora de piscina", como ela diz.

Aos 21 anos, ela se mudou com o então marido para Salvador, na Bahia. Ela se matriculou em uma academia de natação e seguiu com o hobbie. Estava tudo tranquilo na vida de Leleca, até que um professor fez a pergunta que mudou tudo: "Você já nadou no mar?".

"Eu me apaixonei de cara, me sinto mais em casa na água do que na terra", diz Leleca, que foi se inscrevendo em provas para sentir o gostinho (salgado?) das competições de nado em águas abertas. Um dia nadou 5 km, outro dia nadou 12 km, em outra ocasião nadou 50 km, e assim foi.

"Nadar no mar é mais fácil, porque tem sal e você flutua. Na piscina a água é mais pesada, então tem que fazer mais força", compara Leleca, que diz que outra parte importante do nado em águas abertas é estudar sobre marés e correntes marítimas. "Sempre nadamos com a maré nos favorecendo."

Nas travessias oficiais como a de Leleca, vários barcos acompanham o atleta, seja para dar suporte ou para conferir se tudo está sendo feito dentro das regras. Além das tartarugas marinhas e peixinhos, Leleca viu mais um elemento que a emocionou: em um dos barcos, sua família dava tchauzinho e torcia por ela.

Na reta final, seus dois filhos, de 17 e 19 anos, gritavam "Força, mãe!", encorajando-a a seguir em frente. "Bloqueei minha mente e aí consegui transformar a dor que estava sentindo em amor", lembra Leleca. "Quando pisei na areia, falei algumas palavras e chorei. Eu estava muito, muito feliz."

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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