Todo dia de aula era a mesma coisa: Mimosa chegava à escola e imediatamente começava a gritar, desesperada. Ela pedia que seus pais não a deixassem lá sozinha. E Mimosa, imagine, nem estava sozinha de verdade, porque havia várias outras crianças na sua sala e em todas as outras, além de muitos adultos que estavam lá só para cuidar delas.
Sabe o que os pais de Mimosa faziam quando chegavam em casa? Festejavam sua ausência, dançando e cantando pela sala? Claro que não. Os pais dela voltavam da escola e também choravam, tristes porque tinham deixado Mimosa naquelas condições.
"Aquela dor real em seus olhos e o pânico de ser abandonada nos abalava", lembra Beatrice Alemagna, mãe de Mimosa, que se inspirou na história de sua filha pequenininha para escrever o livro "Nem Sonhando!". Nele, uma morceguinha extremamente fofa, com asas cor-de-rosa neon, não quer ir para a escola de jeito nenhum.
Beatrice é italiana, tem 51 anos, e desde os 8 anos de idade já havia decidido que, quando crescesse, seria "pintora e escritora de romances". Sua personagem favorita era Pippi Meialonga, criada pela sueca Astrid Lindgren. Pois o sonho de Beatrice virou realidade, e hoje ela tem dezenas de livros publicados e traduzidos.
Estes livros têm sempre ilustrações que parecem estar frescas na página, como se a autora tivesse acabado de fazê-las ali, à mão. Isso se deve às técnicas que Beatrice usa, e aos materiais que escolhe para desenhar: aquarela, lápis pastel, giz de cera e o rosa fluorescente. "É uma das minhas cores preferidas", diz, em entrevista à Folhinha.
Em "Nem Sonhando!", a morceguinha Catarina resiste muito, mas muito, muito mesmo, à ida à escola naquele primeiro dia. Os pais vão tentando puxá-la para fora de casa até que ela dá um berro bem alto e algo surpreendente acontece.
"Um dia, comecei a imaginar o que aconteceria se pudéssemos ficar realmente com nossa filha Mimosa. Como nos tornar invisíveis. E a história da morcega Catarina nasceu", explica Beatrice. No livro, o grito de Catarina faz com que seus pais possam acompanhá-la à escola, excepcionalmente.
E as coisas que eles vão viver juntos nas aulas e no recreio vão fazer todo mundo perceber algo importante: por mais que se possa ter vontade de mudar a ordem das coisas como elas são na infância, no fim das contas há um motivo para elas serem assim —e esse motivo não é de todo mau.
"Nem Sonhando!" é uma história acima de tudo engraçada, mas muito sensível porque entende que ir para a escola quando ainda se é pequenininho pode, sim, ser muito difícil. "Durante o primeiro ano de escola, as crianças associam a chegada à sala de aula a uma espécie de abandono. É assustador deixar os pais pela primeira vez e não saber se eles realmente vão voltar", afirma Beatrice.
"As crianças têm medo de ficar sozinhas, de deixar o ninho familiar. Isso porque elas nunca tiveram a oportunidade de se desenvolver sozinhas na sociedade, e muitas vezes nem mesmo foram deixadas sozinhas com outras crianças."
Não é à toa que, nas páginas em que o leitor é apresentado aos colegas de classe de Catarina (todos morceguinhos como ela), um parece mais aterrorizado e triste que o outro. O bom é que este sentimentos difíceis de lidar vão passando rápido, e já no meio da história os personagens estão se divertindo, enquanto Catarina se contorce para lidar com seus pais literalmente debaixo de suas asas.
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