Fazer amigos em escola ou turma nova é um processo gradual e exige paciência

Compartilhar brinquedos pode ajudar, assim como falar de qual desenho ou time se gosta; saber ouvir também é importante

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São Paulo

De repente, você não conhece mais ninguém. Olha para o lado e só há adultos estranhos e crianças diferentes que você nunca viu. Escola nova, gente nova. Às vezes não tem jeito, as mudanças simplesmente vêm. O jeito é se preparar para que a reviravolta seja suave e divertida.

Os motivos para uma mudança de escola variam: mudança de bairro ou cidade, orçamento familiar mais apertado… Guilherme A. L., 6 anos, mudou de escola no ano passado, e no começo estava bem preocupado se faria amigos ou não. Como será que ele resolveu isso? Ele elaborou um plano! A ideia era falar para a professora: "Me ajuda? Quero fazer amigos!".

Guilherme elaborou um plano para fazer novos amigos quando trocou de escola, no ano passado - Bruno Santos/Folhapress

Agora, quase um ano depois da mudança, ele avalia seu desempenho: "No primeiro e no segundo dia não deu muito certo, mas no terceiro deu! E minha dica é que não precisa se preocupar ou se apressar, que tudo se resolve!".

O primeiro dia numa nova escola é um grande momento tanto para crianças quanto para as famílias, como diz Carla Alexandra Minervino, professora da UFPB (Universidade Federal da Paraíba) e pesquisadora associada da Rede Nacional de Ciência para Educação.

"Começar em uma nova escola pode ser assustador, mas também muito legal", diz ela. Para a família, o primeiro dia é um dia de festa. De repente vale até um café da manhã ou um almoço especial.

"Os pais podem contar histórias de quando eram crianças, de como se sentiram no seu primeiro dia. E a criança pode relatar como está se sentindo. Os pais podem explicar que é normal se sentir animado, mas ao mesmo tempo preocupado ou com medo", afirma.

Para Carla Maia, psicóloga, educadora e fundadora da escola Cores Playgim, no Rio de Janeiro, é importante que as escolas criem um ambiente acolhedor para as crianças. A ideia é que todo mundo se ajude mutuamente, famílias e escolas, transformando tudo em uma grande comunidade.

A estratégia vencedora de Guilherme para fazer e manter amigos ainda envolvia atividades extracurriculares, como natação e judô. E foram os esportes que também ajudaram Nicolas T., 7 anos, quando começou numa escola maior no ano passado.

A história é curiosa: ele, que era torcedor do Corinthians, fez alguns amigos palmeirenses na nova escola, e passou também a torcer para o clube alviverde. Amizades formadas e passado o tempo, voltou a torcer para o Corinthians (azar do pai dele, que é são-paulino.)

Para ele, o melhor momento para fazer amigos é na aula de educação física e no futebol.

Nos casos de Nicolas e de Guilherme, ter professoras e coordenadoras atenciosas foi fundamental para dar confiança para a família —que também pode sofrer com todo esse processo, até mais do que deveria.

É que muitas vezes os responsáveis se sentem culpados pelas mudanças, e aí, com qualquer coisa que a criança fale (que não está feliz ou que não gosta), eles ficam tristes, como se não pudessem errar, conta Carla Maia.

"Aí se perde esse espaço importante de a criança poder não gostar das coisas, de poder reclamar, de ficar triste porque gostava mais da outra escola e agora está tendo que se adaptar à nova", diz.

De todo modo, se algo der errado nesse processo de construir novas amizades, é preciso botar o pé no freio, respirar fundo e seguir em frente. Para a neuropsicóloga Ana Grasieli Lustosa, é legal quando os adultos lembram as crianças do valor delas. Tipo falando sobre as habilidades e qualidades que elas têm, para que elas se sintam fortes e corajosas.

Outra boa estratégia é ensaiar —nem todo mundo sabe iniciar uma conversa. Dizer um "oi" sorrindo, por exemplo, é um ótimo começo.

Também vale se preparar junto com a família: como se apresentar para alguém novo? De repente usar aquelas frases campeãs: "Quer brincar comigo?, "Deixa eu te mostrar meu brinquedo!" ou "Vamos jogar bola?".

Compartilhar brinquedos e materiais escolares pode ajudar, assim como falar dos próprios interesses, contando de qual desenho animado se gosta, para qual time se torce, o super-herói favorito... São ótimas formas de começar conversas —e é importante também estar pronto para ouvir o que os colegas têm a dizer.

Empatia também nunca sai de moda. Vale estar sempre disposto a ajudar os colegas e amigos que estiverem enfrentando dificuldades. "É importante lembrar que fazer amigos é um processo gradual, que envolve paciência e conexão", diz Ana Grasieli.


Veja 13 formas de enfrentar grandes mudanças na escola

CRIANÇAS

  1. Ensaiar cumprimentos e interações —e usá-los na hora H

  2. Dividir brinquedos e compartilhar interesses e ideias

  3. Fazer atividades e esportes juntos

  4. Pedir ajuda quando tiver dificuldades em fazer amigos

RESPONSÁVEIS

  1. As famílias podem organizar eventos sociais e visitas com os novos amigos, para facilitar a interação

  2. Não entenda o processo de mudança como rígido ou fixo. Cada criança é única

  3. Mantenha o canal aberto para o diálogo. A criança deve ser encorajada a expor seus sentimentos, e eles devem ser acolhidos

  4. Os adultos não podem deixar suas próprias preocupações e angústias contaminarem a criança

  5. Checar para que uniforme, mochila e material estejam em ordem, e garantir que criança chegue no horário, a fim de evitar ainda mais desconfortos

  6. Para crianças maiores ou adolescentes, se o motivo da mudança for dificuldade financeiro, envolvê-los nas preocupações, a fim de que possam, na medida correta, contribuir para a solução

ESCOLA

  1. Realização de atividades cooperativas e em grupo na escola

  2. Reforçar autoestima da criança. Ficar atentos para que ela não pratique nem seja vítima de bullying

  3. Implementação de programa de educação socioemocional na escola

Fontes: Ana Grasieli Lustosa, neuropsicóloga; Carla Alexandra Minervino, pesquisadora da UFPB; Carla Maia, psicologa e educadora

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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