Um coelhinho jovem, de roupas de criança, aparece assustado no meio da página, com uma orelha abaixada e outra levantada. Para ele, seus avós são malvados —enquanto sua avó o manda se sentar, seu avô o manda se levantar. Na página seguinte, ele pergunta: "Como posso me sentar e levantar ao mesmo tempo?".
É dessas pequenas contradições que todos encaram enquanto crescem que surge "O Livro das Pessoas Malvadas", da escritora americana Toni Morrison e de seu filho mais velho, Slade Morrison. O livro acompanha o coelhinho enquanto ele fala sobre algumas das pessoas malvadas com quem convive.
Algumas são grandes, outras, pequenas. Às vezes adoram gritar, mas também tem as que só falam baixinho. No final, fica a pergunta para crianças e adultos: o que é a maldade?
Toni Morrison, uma das criadoras do livro, foi uma escritora americana muito importante. Ela nasceu em 1931 e morreu em 2019. Toni escreveu diversas obras sobre o ponto de vista das pessoas negras nos Estados Unidos, e foi a primeira escritora negra a vencer o prêmio Nobel de Literatura, em 1993.
Com seu filho Slade, que era pintor e músico, ela escreveu nove livros ilustrados para crianças. Slade nasceu em 1965 e morreu em 2010, aos 45 anos.
"O Livro das Pessoas Malvadas" é o segundo livro de Toni e Slade, e foi lançado pela primeira vez em 2002, nos Estados Unidos. No Brasil, ele foi publicado no final de 2023.
Na obra, o ilustrador Pascal Lemaítre usa traços coloridos e simpáticos para criar desenhos que parecem simples, mas que trazem profundidade e sensibilidade para uma história sobre crescimento e a relação entre adultos e crianças —e, no fundo, sobre todas as pessoas.
Para as crianças, o livro ilustra o medo e a confusão causados por regras e figuras de autoridade em um momento onde tudo é novo, e a imaginação corre solta. Em um trecho, por exemplo, o coelhinho chama sua babá de "malvada" por dizer que ele está perdendo tempo ao dormir demais.
"Como eu estou perdendo se estou usando meu tempo?" diz ele, enquanto sonha que voa com o cãozinho que o acompanha em toda a história.
Quanto aos adultos, o livro pode ser uma boa ajuda para eles pensarem sobre o que é autoridade. Também pode mostrar que regras às vezes são assustadoras para quem vê o mundo como uma grande descoberta todos os dias (as crianças).
No livro, atitudes como gritos e discussões, que se parecem próximas de malvadezas de verdade, aparecem como elemento assustador —quem nunca sentiu medo diante de alguém maior e que fala mais alto?
O pediatra Daniel Becker, famoso nas redes sociais, assina o prefácio do livro. Lá ele escreve, entre outras coisas, que é importante acolher o sentimento das crianças que pensam que ordem e disciplina se parecem com maldades, mas que também é bom que se explique para todo mundo que pessoas que dizem aos outros o que fazer não são necessariamente más.
Ao final de tudo, fica a inspiração do coelhinho: apesar do medo, das regras e das palavras das pessoas "malvadas", ele vai continuar sorrindo. E você?
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