São Paulo, domingo, 26 de dezembro de 1999




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MODO DE VIDA
‘Não temos de ser iguais ao Ocidente’

da Redação

Inovações tecnológicas estrangeiras, como a Internet, são bem-vindas em países islâmicos, mas isso não implica a adoção de um modo de vida ocidental ou mudanças no núcleo familiar. A afirmação é do xeque Abdo Nasser el Khatib, 44, formado na faculdade de sharia (lei baseada essencialmente no Alcorão e no registro das ações e dos dizeres do profeta Muhammad), na Arábia Saudita.
Atualmente, El Khatib preside o Departamento de Imigrantes no Dar al Fatwa, espécie de ministério religioso, no Líbano. (PDF)
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Folha - Há parâmetros para saber que inovações tecnológicas são bem-vindas no islamismo?
Abdo Nasser el Khatib - A tecnologia em geral é bem-vinda, deve melhorar a situação do ser humano. O Islã só é contra o que prejudica o homem. A Internet é uma faca de dois gumes. A parte positiva é entrar em contato com as pessoas, mas utilizá-la para promover sexo é reprovável. No Líbano, a Internet é utilizada em quase todos os órgãos públicos, empresas e agências. Na faculdade de sharia, é comum seu uso. Podemos abrir páginas sobre o Islã. Há formas diferentes de lidar com a globalização. Cada país tem uma abertura maior ou menor.

Folha - Qual a contribuição do Ocidente?
El Khatib - Os avanços tecnológicos, por exemplo. O Islã ensina que cada ser humano deve procurar o conhecimento e a ciência. Mas isso não significa que tenhamos de imitar o modo de vida ocidental. O modelo familiar islâmico é muito mais avançado que o ocidental. Respeita a mulher e lhe dá um papel especial na educação dos filhos. A mensagem do profeta Muhammad, que a paz esteja com ele (entre os religiosos, é comum essa reverência quando o nome do fundador do islamismo é citado), é universal.

Folha - Qual o papel da religião no resgate de identidade? Ela combate a impessoalidade?
El Khatib - A sociedade deve ter vínculos fortes. Quando alguém reza de forma coletiva, essa oração é válida 27 vezes mais que a oração praticada individualmente. Há muitas recomendações do profeta Muhammad, que a paz esteja com ele, para que as pessoas sempre trabalhem unidas. Isso impede que as pessoas se afastem.

Folha - Por que a relação entre Estado e religião é forte em alguns países islâmicos?
El Khatib - Não há separação entre política e religião no Islã. Não existe secularidade. Ser honesto, dirigir a nação para o caminho certo, seguir uma política pura, isso é religião, é um tipo de adoração. Se você sai de casa para se sacrificar e sustentar a família, está adorando Deus. Tudo está relacionado. Não há separação nem desencontro. O Alcorão é considerado um código de vida completo para o ser humano, que organiza sua vida material, espiritual, física, econômica e militar.

Folha - Que mudanças o islamismo pode trazer?
El Khatib - O islamismo é uma religião justa. Atualmente, a economia mundial é capitalista. O dono do capital faz dos necessitados escravos. E o capital cresce numa parte pequena da sociedade. O sistema de juros é proibido no islamismo. O dinheiro não deve criar dinheiro, deve vir por meio do trabalho. No Brasil, antes havia a classe média. Hoje, ela praticamente não existe mais. Há pobres e ricos. O petróleo dos árabes está dominado pelos americanos. Se o Islã governar, tudo ficará no lugar certo. Não haverá mais desigualdade. O Islã, se governar, vai acabar com muitas potências que foram criadas a partir do sofrimento alheio. Isso é inaceitável.


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