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Mulher mais influente da alta-costura desafia ideal feminino na moda

Diretora criativa da Dior, Maria Grazia Chiuri levanta bandeira feminista

Estilista italiana Maria Grazia Chiuri no final do desfile da grife Christian Dior, em fevereiro de 2018
Estilista italiana Maria Grazia Chiuri no final do desfile da grife Christian Dior, em fevereiro de 2018 - Thibault Camus/AP
Paris (França)

Quando Maria Grazia Chiuri, 54, tornou-se a primeira mulher no comando criativo da grife Christian Dior, em 2016, fora alertada de que estava assumindo uma marca “feminina”. “Mas, o que significa ser feminina?”, rebateu. Suas coleções, desfiladas em Paris, são a resposta a esse questionamento que martela o mundo da moda há seculos.

Referências às roupas das sufragistas, as primeiras feministas, roupas versáteis que dão movimento, estruturas que não escondem curvas, comprimentos diversos. 

O dicionário imagético da estilista italiana é vasto, e inclui frases relacionadas à luta feminina. “É não, não, não e não”, “Por que não tem havido grandes artistas mulheres?”, e “Todos nós deveríamos ser feministas” são alguns dos dizeres que colou em peças da marca.

 Porta-voz do feminismo numa seara que ainda reproduz códigos antigos de elegância como é a do luxo, cheio de propostas adocicadas, volumes e comprimentos comportados nas vitrines, Chiuri desafia a moda a compreender o que as mulheres realmente precisam além da roupa.

A fama de mulher forte, a qual rechaça, é potencializado pela imagem séria de “workaholic” que, mesmo criticada por parte da moda que rejeita a repetição do tema feminista em suas coleções, não faz concessões ao apresentar o que acredita ser importante.

No último desfile da marca, na semana de moda de Paris, em março, ela relembrou os protestos de mulheres em 1968, na França, que pediam a libertação do recato que tomava o mercado de moda.

 

Em seu escritório, na sede da Dior, em Paris, ela falou à Folha sobre assédio, feminismo e aposentadoria.


Papel da roupa
A roupa é um grande problema para a maioria das mulheres porque está ligada ao corpo. O que tento fazer é deixá-las confiantes sobre o que usam. Quando entrei na Dior, me diziam que era uma marca feminina. Mas, o que é ser feminina? Eu tenho para mim que é poder definir a si mesma como quiser. Eu ofereço um ponto de vista, mas é a mulher quem decide o que usar, então acho que é nosso dever deixá-la de bem consigo mesma, porque a moda também tem o papel de protegê-la de suas inseguranças.


Assédio
É um engano achar que assédio é uma questão apenas sobre o machismo. Estamos falando de algo que é relacionado a poder. Nascemos e crescemos numa sociedade patriarcal, na qual nossos pais e mães nos ensinam que as mulheres foram feitas para agradar a todos. Isso está dentro de nós, mulheres. É, definitivamente, uma questão cultural sobre o que nós queremos ser e a luta, interna, sobre o que nós gostaríamos de ser. [...] Quando coloquei imagens de protestos [de 1968] no desfile, estava falando sobre liberdade, algo que muitas vezes esquecemos de falar.


Modelo de mulher
É difícil para uma mulher dizer não. Eu amo dizer não, porque é uma resposta a essa ideia de que, quando uma mulher nega qualquer coisa, dizem “você não é legal” ou “você não é feminina”. Li uma reportagem dizendo que eu era uma mulher forte por fazer o que faço. Sinceramente, não gosto desses adjetivos, porque limitam. [...] Não somos apenas uma coisa, mas várias. Para mim, ser uma mulher forte é pensar de maneira rápida e encontrar soluções ágeis.


Feminismo
Em minha primeira coleção, quando disse que “todos nós deveríamos ser feministas”, estava mostrando às pessoas que muitas coisas ruins estão acontecendo com as mulheres na Itália, no Brasil, na Nigéria, e não podemos esquecer disso. Estão matando mulheres, entende? Conheci os livros da [escritora nigeriana] Chimamanda Ngozi Adichie e decidi fazer essa parceria. [...]  Veja, minha geração foi sortuda, porque cresceu num clima de abertura, de direitos e de igualdade. Quando temos filhos e vemos a evolução desse pensamento na prática, percebemos que isso não é verdade para todo mundo. 


Política
Não se pode dizer que, ao fazer moda, não somos políticos. Se você tem um ponto de vista, você é político. Nada é não político hoje, principalmente porque a situação está confusa no mundo inteiro, é um momento rude, de ascensão de um extremismo perigoso. 


Aposentadoria
Nunca faço planos. Trabalho com moda há 32 anos e minha mãe, no começo, estava desesperada porque essa área era vista como algo “não sério” e sem consistência. Ela queria que eu estudasse para ser médica ou algo assim. Daí, consegui meu primeiro emprego na Fendi, depois na Valentino, onde trabalhei com o próprio Sr. Valentino. Então, acho que já fiz muita coisa. Depois da Dior, estou pronta para descansar.

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