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Biografia resgata Raphael Rabello, gênio que revolucionou o violão e o choro

Livro de Lucas Nobile preenche lacuna e desfaz mitos sobre músico que ladeou Elizeth Cardoso e Radamés Gnattali

Rafael Gregorio
São Paulo

Raphael Rabello - O Violão em Erupção

  • Quando Lançamento em São Paulo na sexta (15/6), a partir das 18h, na Patuá Discos (r. Fidalga, 516), com sessão de autógrafos e discotecagem em LP da discografia do Raphael Rabello
  • Autor Lucas Nobile
  • Editora Editora 34 (352 págs., R$ 64)

Não dá para contar as histórias recentes do choro e do violão no Brasil sem passar pela de Raphael Rabello.

O músico fluminense, morto em 1995, tem seus 32 anos de vida afinal documentados em “Raphael Rabello - O Violão em Erupção”, a ser lançado em  São Paulo nesta sexta (15).

O jornalista Lucas Nobile, 34, remonta desde a formação da família Baptista Rabello e sua tradição musical até os anos 1970, quando o garoto Rafael (o “ph” viria depois), 7 anos, começou a tocar violão.

Aos 13, já era opção ao mestre Horondino José da Silva (1918-2006), o Dino Sete Cordas, e estudava com Jayme Florence (1909-1982), o Meira, seu professor e o de nomes como Baden Powell (1937-2000).

Em pouco mais de 32 anos, Rabello lançaria quase 20 discos seus e gravaria mais de 600 faixas antes de morrer após espiral de drogas, dívidas e autodestruição que sucedeu um diagnóstico de HIV.

Nobile remonta essa trajetória em registro misto, entre o narrativo e o documental.

Quês e porquês de Rabello ganham cor e didatismo sob o ponto de vista do autor. Jornalista especialista em música, Nobile é também musicista: toca cavaquinho desde jovem.

Isso ajuda a explicar as rupturas do músico, que, na visão do autor, marcou a história do violão em antes e depois e fixou a base para violonistas atuais, como Yamandu Costa.

Os exemplos são múltiplos: Rabello elevou ao status de solista o violão de sete cordas, cujo improviso antes se restringia a fraseados graves —as “baixarias”, no jargão do choro.

Ele também é creditado por recepcionar influências do flamenco, do espanhol Paco de Lucía (1947-2014), de quem foi amigo, e pelo talento em ladear vozes, como "Todo o Sentimento" (gravado em 1989 e lançado em 1991), de Elizeth Cardoso (1920-1990), e "À Flor da Pele" (1991), de Ney Matogrosso.

O autor assistiu a um show do biografado em 1993, mas a ficha só caiu mais tarde, diz, quando viu seu nome no disco “Mistura e Manda” (1983), de Paulo Moura (1932-2010).

Logo notou que era ele ao violão em clássicos da MPB, como “Almanaque” (1981), de Chico Buarque, “Brasil Mestiço” (1980), de Clara Nunes.

Em 2012, na Folha, Nobile fez reportagem sobre os 50 anos de Rabello, pontuados por um disco de amigos e discípulos. “Bateu um desespero pelo vazio de dados e pela profusão de erros”, relata o autor.

Foi quando conheceu Luciana, uma irmã de Rabello. Cavaquinista respeitada, ela abriu um baú de acervo até então inédito: partituras, fotos, cadernos das aulas com Meira.

Nobile não parou mais de pesquisar. Primeiro, por conta própria, e desde 2016, já mirando a obra, contemplada no edital do Rumos Itaú Cultural. 

Além das 132 entrevistas, foram obstáculos achar tom adequado a iniciados e leigos e escrever sobre um instrumentista virtuose, em oposição à palavreada produção que inspirou sua primeira biografia, “Dona Ivone Lara: a Primeira Dama do Samba” (2015), sobre a cantora morta em abril.

A profusão de vozes desfaz inverdades. Por exemplo, a de que Rabello morreu de overdose ou por complicações do HIV, que teria contraído em transfusão de sangue após um acidente de carro, em 1989.

Não houve transfusão, dizem familiares e médicos, e o músico morreu dormindo —e não tocando violão— durante internação que ele mesmo pediu para tentar se livrar da cocaína —não de anfetaminas.

O autor também derrubou o mito de que Rabello não lia partituras, e descobriu que ele participou da primeira gravação aos 13 anos, não aos 14.

“A gente tem exímios violonistas, mas daquele jeito não vai mais aparecer”, conclui Nobile. “Raphael foi um exagero.”

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