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'Hilda Hilst Pede Contato' se enfraquece quando se torna solene

Diretora parece se esquecer da escritora que mostra o dedo médio para a câmera e ri

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Hilda Hilst Pede Contato

  • Quando Pré-estreia nesta quinta (26), às 21h30. Estreia no circuito em 2/8.
  • Onde Cinema da Praça , r. Mal. Deodoro, 3, Paraty
  • Preço Grátis (ingressos com uma hora de antecedência).
  • Classificação 12 anos
  • Produção Brasil, 2018
  • Direção Gabriela Greeb

“Hilda Hilst Pede Contato” transita entre diversos terreiros. O primeiro é do imaginário. Não seria surpreendente, pois é de uma escritora que se trata. No caso, porém, Hilst liga seu gravador e pede contato com as “almas cósmicas”.

E pede a seus intermediários que lhe tragam os amigos: Osman Lins, Clarice Lispector. Mas gostaria de conversar também com Kafka, Nikos Kazantzákis... Esse tipo de empreitada metafísica nos lança no território do fantástico. Então não existe morte. Nem o tempo. Existe a eternidade, mas não o tempo.

Ah, a trilha sonora ajuda a pensar em filme de terror, tanto quanto aqueles cachorros que ocupam a entrada de um terreno ou ainda o passeio da câmera no jardim apontando para as copas das árvores (e remetendo, direto de “O Vampiro” de Carl Th. Dreyer).

Mais do que tudo é o ruído da fita que nos envolve: a voz de Hilda buscando contato e do outro lado... O que haverá do outro lado? Eis a questão.

O problema é que Hilda Hilst não é exatamente mística. Seus fantasmas habitam a dimensão da poesia, da escrita. Convém então convocar as almas deste mundo: os amigos e admiradores. É fatal sairmos do território do fantástico para o documentário.

Gabriela Greeb, autora do filme, se sai bem desse problema, operando a passagem por meio de uma limusine que parece transitar por dimensões diversas. A limusine carrega os amigos de Hilda como se os levasse a um velório. 

Não há velório, no entanto. Ou então o velório é uma festa em que esses amigos se encontram reunidos para falar da criação, do humor de Hilda Hilst: para estar em contato com ela. Também aqui entram velhos filmes, e num deles a escritora canta —e bem.

Com dois terreiros (o da imaginação e o da documentação) bem visitados, parece sentir necessidade de justificar-se como filme de escritor. Entramos no domínio do filme de Arte, com A maiúsculo, com todas as fusões e leituras de texto a que dá direito. 

É onde se torna solene. E se enfraquece. Parece se esquecer da Hilda que mostra o dedo médio para a câmera e ri.

Ou talvez tenha lembrado que para conquistar as benesses dos patrocinadores convém investir no prestígio e no pedantismo. Pelo jeito funcionou, de maneira que essa pequena incursão no mundo da facilidade não apaga o prazer que até determinado ponto esse filme tão arriscado quanto inventivo é capaz de proporcionar.

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