Livro explica maior previsão de 'Os Simpsons'

Roteiristas discutiam em 2000 qual seria a coisa mais idiota que americanos poderiam fazer: 'Eleger Trump presidente'

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Cena dos Simpsons, exibido em 2000, que mostra Trump como presidente dos EUA -  Divulgação
 
 
Nova York

"Qual é a coisa mais idiota que os americanos podem fazer?", perguntam, em 2000, roteiristas em busca de novas piadas para o desenho "Os Simpsons". "Eleger Trump presidente" foi a resposta.

Está armado o episódio que inflamou a fama da animação de que consegue prever o futuro. Essa e outras histórias de bastidores são contadas pelo roteirista Mike Reiss e pelo escritor Mathew Klickstein no livro "Springfield Confidential" (US$ 27,99, cerca de R$ 106, ainda sem edição em português), lançado por ocasião dos 30 anos da série.

"Previmos que ele seria presidente 16 anos antes de ele ser eleito. O ponto dessa história é: quando os Simpsons fazem piada sobre o que está acontecendo no mundo, é uma sátira. Quando o mundo começa a fazer coisas que viu nos Simpsons, algo deu errado", brincou Reiss em evento na Powerhouse Arena, uma mistura de galeria de arte e livraria em uma rua pouco movimentada de Manhattan.

O roteirista usava uma camiseta amarela com um bordado de Homer, o patriarca da família e seu personagem favorito. "Os americanos olham para Homer Simpson e pensam: 'esse é meu pai'. Os estrangeiros olham para o Homer Simpson e pensam: 'esse é um americano'", disse, arrancando risadas da plateia majoritariamente americana.

Para Reiss, Homer é "um presente de Deus para roteiristas de comédia". Em 2005, essa característica foi responsável por uma controvérsia no jornalismo brasileiro.

O apresentador e editor William Bonner, durante visita de professores universitários a uma reunião de produção do Jornal Nacional, comparou o espectador do programa ao patriarca dos Simpsons.

Um dos docentes, Laurindo Lalo Leal Filho, relatou à época a perplexidade dos presentes. O personagem, na avaliação do acadêmico, é preguiçoso e tem raciocínio lento.

Bonner, por sua vez, tachou a visão dos professores de "preconceituosa". No livro, Reiss descreve Homer como gordo, careca e idiota.

O livro de 320 páginas promete revelar segredos e desconstruir mentiras. Mas muito era público, como as rusgas entre o veterano Sam Simon e o novato Matt Groening, depois que o segundo ganhar a maior parte do crédito pela série —para Reiss, com razão.

O esboço da animação, diz, foi feito por Groening em cinco minutos, quando o roteirista se viu forçado a apresentar um projeto de surpresa antes de uma reunião de negócios.

O roteirista e o escritor dividem o livro como se fosse um episódio de Simpsons. Há a abertura, três atos e encerramento. Neles, discorrem sobre a história de Reiss e de como ele foi parar na série.

Há capítulos dedicados às músicas, aos personagens, aos dubladores e respostas para dúvidas de leitores ("por que os Simpsons são amarelos?", "onde fica Springfield?").

Também há linhas para censura —palavrões devem ser usados com parcimônia, conta Reiss. Em nova passagem de bastidor, contam que os roteiristas deixaram de fazer um episódio sobre cientologia por causa de Nancy Cartwright, que faz a voz de Bart.

"Ela é uma avó e é uma das maiores doadoras para a cientologia. Um dia, estávamos discutindo fazer um episódio sobre cientologia. No dia seguinte, ela disse que ficou sabendo que a gente queria fazer um episódio sobre o tema. 'Eu não acho que vocês deveriam.' E nós ficamos: como ela sabia?"

Um dos pontos altos da animação, as cerca de 800 celebridades que participaram dos Simpsons em 30 anos, merecem 20 páginas em um capítulo dedicado ao elenco.

Reiss lamenta que ex-presidentes americanos não tenham topado participar da animação, e faz crítica a apenas um famoso: Oprah Winfrey, descrita como diva.

Cena do episódio de Os Simpsons ambientado no Rio de Janeiro - Divulgação

As polêmicas não ficaram de fora também. O roteirista lembra, por exemplo, o episódio que se passa no Rio de Janeiro, exibido em 2002.

Ao chegar à cidade, a família lida com sequestros e roubos, em meio a um grande desfile carnavalesco em que os hóspedes jogam futebol no lobby de hotéis e macacos selvagens andam nas ruas. Tudo cercado por favelas. "Só quero dizer que não há macacos selvagens no Rio", ironiza Reiss.

O episódio fez barulho, a ponto de a Prefeitura do Rio, à época comandada por Cesar Maia, ameaçar processar a produtora do desenho.

"A única razão pela qual fizemos o episódio foi porque ouvimos que os brasileiros amavam os Simpsons. Todo mundo ama os Simpsons até que eles visitam o seu país", disse o roteirista.


Profecia da Copa não será possível neste ano ​

Um episódio de 'Os Simpsons', de 1997, se destacou nas redes sociais por supostamente ter previsto Portugal e México na final da Copa. Não há menção ao ano, mas atribuiu-se a 2018 por exibir jogadores mexicanos numa festa com mulheres e bebidas —ocorreu algo parecido antes da viagem à Rússia. Mas, caso as equipes avancem no torneio, elas se enfrentarão já na semifinal.

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