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'Cloro' traz personagem homossexual que leva 'uma vida de silêncio', diz autor

Terceiro romance de Alexandre Vidal Porto fala também da intimidade dos casais

João Perassolo
São Paulo

“Tinha transado com um homem e, no dia seguinte, eu ainda era Constantino, advogado e homem de bem. O fato de eu ter beijado outro homem na boca, tocado sua nudez, não seria aparente para ninguém. Permaneceria dentro de mim, como sempre havia estado.”

O trecho, no qual Constantino, um advogado bem-sucedido de 51 anos, casado (com mulher) e pai de dois filhos, descreve o sentimento de realização que teve após sua primeira experiência homossexual, pertence a “Cloro”, novo livro de Alexandre Vidal Porto.

O romance, terceira incursão literária do diplomata e ex-colunista da Folha, ganha sessão de autógrafos na quarta (28) em São Paulo, e no domingo (2), no Rio de Janeiro.

Alexandre Vidal Porto
O escritor Alexandre Vidal Porto - Alexia Fidalgo

“Cloro” é narrado pelo protagonista, que está morto, e repassa a sua vida de homem gay temeroso em sair do armário. Para sufocar sua homossexualidade, Constantino manteve um casamento morno de cerca de 30 anos com Débora, com quem transava eventualmente, sem qualquer empolgação, e que não desconfiava da identidade homossexual do marido. 

Durante o período em que viveu com ela, Constantino teve chances de ver de relance (e fantasiar com) seu cunhado nu e, mais tarde, procurava sites pornôs gays para dar vazão aos desejos reprimidos.

“Ele vivia uma vida de silêncio, e muita gente vive como ele. Se você for em uma sauna gay, você vai ver 22 Constantinos, cada um à sua maneira”, justifica Vidal Porto.

Já (ou finalmente) aos 50 anos, e após a morte de um de seus rebentos por assassinato, o personagem decide explorar os sentimentos homoeróticos que experimentou pela primeira vez pelo seu professor de natação, quando era criança e aprendia a nadar. 

“Minha cabeça de criança contra seu peito molhado. Seus pelos. Eu nos seus braços, suas mãos no meu corpo, me segurando, me ensinando a nadar”, relembra o protagonista, em um dos excertos mais bonitos da narrativa.

Embora não seja um livro panfletário, Vidal Porto conta que uma de suas motivações para escrever “Cloro” era dar visibilidade aos homossexuais. “O que não é visto não é respeitado. O aspecto político da história é justamente mostrar que nós existimos e que nós estamos e que nós pertencemos. Acho que é quase uma obrigação dos gays a verdade com a sua homossexualidade”, afirma.

Dado que o personagem principal esconde uma parte fundamental de sua identidade da mulher com quem vive há décadas, a trama toca também na questão da intimidade dos casais, mais especificamente do quanto se quer dividir com o parceiro de uma relação amorosa. 

“Você pode ir até onde conhece de si mesmo, pode não dividir nada, pode manter um personagem dentro de você. Às vezes, para as pessoas que mais ama, você não dá as suas verdades”, pondera o autor.

“Cloro”, que chega após “Matias na Cidade” (2005) e “Sérgio Y. Vai à América” (2014), foi escrito em São Paulo em um período de quatro anos. É a obra que o autor diz considerar sua preferida entre os seus livros.

“O romance é bastante autobiográfico porque é sobre uma pessoa que eu poderia ter sido e não fui. O processo de escrita me obrigou a um exercício de sinceridade literária. Chorei muito escrevendo.”

'Cloro'

  • Quando Quarta (28), às 19h, em São Paulo. Domingo (2), às 18h, no Rio de Janeiro.
  • Onde São Paulo: Livraria da Vila, al. Lorena, 1731. Rio de Janeiro: Livraria da Travessa, r. Visconde de Pirajá, 572.
  • Preço R$ 49,90
  • Autor Alexandre Vidal Porto
  • Editora Companhia das Letras

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