'Tubarão Banguela' segue estilhaços de acidente

Estreia na direção da atriz Rita Batata, espetáculo costura diferentes pontos de vista sobre um mesmo ataque no mar

Maria Luísa Barsanelli
São Paulo

Um surfista foi atacado por um tubarão. Uma cena horrenda, sangue pelo mar, todos apavorados. Mas o acidente em si pouco importa. É apenas um marco, um ponto de referência para traçar o caminho de outras tramas, ou pontos de vista distintos sobre a mesma sequência de fatos.

O espetáculo "Tubarão Banguela", estreia na direção da atriz e dramaturga Rita Batata, começa um tanto despretensioso. Tons calmos de azul, a brisa do mar e uma tarde preguiçosa de praia.

Então se segue o ataque —só narrado pelos atores e descrito pelos olhares incrédulos dos personagens— e conhecemos melhor os demais envolvidos pelo acidente.

O bombeiro que participou do resgate logo vê um estranhamento da filha pequena, que acaba assistindo a uma transmissão do ataque. E pouco a pouco percebe-se toda a desestrutura de sua família.

Uma mulher vai à busca do pai, desaparecido na confusão, e só encontra o cachorro dele. Logo se vê que ela e o pai se estranhavam, mas o sumiço acaba servindo de estímulo para que ela tente religar esse laço perdido.

"A ideia é que o foco não fosse o acidente em si, mas que ele funcionasse como uma bomba que explode e seguimos acompanhando os estilhaços", comenta Batata sobre o texto de sua autoria.

Para acompanhar os fragmentos de histórias, a diretora investe no coletivo. É num trabalho conjunto dos atores, que como numa coreografia criam imagens com o corpo, que o espetáculo faz a transição entre as suas tramas.

Também tenta borrar as fronteiras de interpretação. É tênue a passagem do ator ao personagem à narração da história. Tanto que há figuras mais alegóricas (como um intérprete que se transmuta em cão) e outros mais realistas.

Nessas diferentes perspectivas, a montagem acaba por discutir a fragilidade das relações, falar sobre como, muitas vezes, somos demasiadamente passivos no contato com o outro, ou quando, por medo, decidimos apenas abandonar relações e esquecer de tudo.

O tubarão banguela do título, afinal, é um predador inerte, que perdeu as armas, mas continua ameaçador.

Tubarão Banguela

  • Quando Sex. e sáb., às 19h30, dom. e seg., às 20h. Até 26/11
  • Onde Teatro Sérgio Cardoso - sala Paschoal Carlos Magno, r. Rui Barbosa, 153
  • Preço R$ 20
  • Classificação 14 anos
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