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Hollywood prioriza diversidade, mas ainda contrata poucas diretoras

Só 2 das 19 produções da Disney para 2019 são dirigidas por mulheres; na Warner, são 3 de 15

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Brooks Barnes Cara Buckley
Los Angeles | The New York Times

No mês passado, os grandes estúdios de cinema de Hollywood revelaram seus cronogramas de lançamentos para 2019 aos executivos das redes de salas de exibição, em uma série de apresentações de marketing muito elaboradas, em Las Vegas. É um ritual que se repete ano a ano: “Vejam só os possíveis sucessos que entregaremos a vocês”.

Pela primeira vez a importância da diversidade nas telas pareceu mais que simbólica. A Paramount apresentou uma aventura para a família (“Dora the Lost City of Gold”), com um elenco predominantemente latino, enquanto a Warner Bros promoveu uma continuação de “Shaft”, com Samuel L. Jackson e Regina Hall.

A Universal divulgou uma comédia protagonizada por mulheres negras (“Little”), um filme de animação sobre a jornada de uma menina chinesa (“Abominable”) e um musical para o verão (“Yesterday”), no qual o papel principal cabe a um ator de ascendência indiana.

Mas, se observarmos com um pouco mais de atenção as listas dos estúdios —e quem está na direção—, essa narrativa de inclusão se desmonta, pelo menos de acordo com um critério: os estúdios como um todo continuam a confiar principalmente em homens para liderar as produções.

A empresária, diretora e atriz Elizabeth Banks nos estúdios da Universal, em Los Angeles
A empresária, diretora e atriz Elizabeth Banks nos estúdios da Universal, em Los Angeles - Elizabeth Weinberg/The New York Times

Eles têm múltiplas explicações (ou “desculpas”) para isso, mas um grande motivo é a falta de pressão econômica. 

Os espectadores vêm respondendo positivamente a filmes com elencos e histórias diversos (“Nós, “Podres de Ricos”, “Pantera Negra”), levando os estúdios a aumentar o número dessas produções. Mas a decisão de comprar ingressos não leva em conta na mesma medida o gênero do cineasta responsável.

“Um consumidor se incomoda sobre a maneira pela qual algo é feito, em contraposição ao resultado que vê na tela?”, questionou a produtora Cathy Schulman, que ganhou um Oscar por “Crash - No Limite”, em entrevista.

Durante sua sessão em 3 de abril na CinemaCon, uma convenção organizada pela associação nacional de proprietários de salas de cinema, a Disney revelou uma lista de 19 filmes para o restante de 2019, entre os quais um punhado leva a marca da 20th Century Fox, que ela acaba de adquirir. Só 2 das 19 produções são dirigidas por mulheres: Jennifer Lee codirigiu “Frozen 2” e Roxann Dawson dirigiu “Breakthrough”, um drama religioso.

A Warner Bros. apresentou uma lista de 15 filmes, só 3 deles dirigidos por mulheres. A Paramount planeja lançar 7 filmes daqui até o final do ano; o thriller “The Rhythm Section” é o único dirigido por uma mulher (Reed Morano).

A Universal Studios tem 15 filmes que serão lançados até dezembro, dos quais 4 são dirigidos por mulheres, entre os quais “Little”, com direção de Tina Gordon, e “Queen e Slim”, que recebe a batuta de Melina Matsoukas.

A Sony Pictures optou por não fazer uma apresentação na CinemaCon. O estúdio tem 13 filmes a lançar até o final de 2019, mas apenas 3 têm diretoras: “Charlie’s Angels” (Elizabeth Banks); “A Beautiful Day in the Neighborhood” (Marielle Heller); e “Little Women” (Greta Gerwig).

Disney, Warner, Universal e Sony se recusaram a comentar ou não responderam aos pedidos da reportagem.

O estúdio Paramount afirmou em comunicado que reconhece, como setor, que é preciso oferecer mais oportunidades a mulheres diretoras, e assumiu o compromisso de fazer um trabalho melhor sobre a questão.

A companhia anunciou que todas suas produções, tanto para o cinema quanto para a TV, precisarão submeter um “plano de diversidade e inclusão” antes de serem aprovadas. A Paramount também está participando de um esforço apoiado pela organização ativista Time’s Up para oferecer mais oportunidades de direção a mulheres.

O único executivo de estúdio que aceitou conceder entrevista foi Adam Fogelson, presidente do conselho do STXfilms Motion Picture Group. Boa parte de sua produção consiste de filmes que priorizam as mulheres, como “I Feel Pretty”, com Amy Schumer, dirigido por Abby Kohn e Marc Silverstein.

“Temos orgulho de produzir filmes para, com e dirigidos por mulheres”, disse Fogelson. “É algo que vemos como importante vantagem competitiva”. No momento, o STX tem seis filmes que devem estrear até o final do ano, dois dos quais dirigidos por mulheres.

A adoção de um ponto de vista mais amplo torna o quadro mais positivo. A Disney recentemente lançou “Capitã Marvel”, dirigido por Anna Boden, e tem engatilhado dois outros filmes com personagens da Marvel e direção feminina, “Black Widow” e “The Eternals”. 

Já a Warner lançará dois longas de super-heróis que giram ao redor do universo feminino no ano que vem, “Mulher Maravilha 1984”, de Patty Jenkins, e “Birds of Prey”, de Cathy Yan. Pelo menos dez filmes a serem dirigidos por mulheres estão em desenvolvimento na Paramount, entre os quais um título da série “Jornada nas Estrelas”.

Quanto maior o risco financeiro, no entanto, menor a confiança dos estúdios quanto à contratação de mulheres. 

A produtora Schulman, que presidiu a organização Women in Film, aponta a visão equivocada de que mulheres trabalham melhor ao dirigir histórias pessoais sobre mulheres e questões românticas, o que as priva de dirigir gêneros considerados mais masculinos, como ação, aventura, espionagem, comédias escrachadas, terror e ficção científica.

Martha Lauzen, diretora executiva do Centro de Estudos da Mulher na Televisão e Cinema e professora da Universidade Estadual de San Diego, na Califórnia, mencionou pesquisas que demonstram que mulheres dirigiram apenas 8% dos 250 filmes de maior bilheteria em 2018 nos EUA, uma queda de um ponto percentual ante o resultado de 1998. 

Tradução de Paulo Migliacci

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